A retórica agressiva e as ameaças dos EUA à Rússia

José Reinaldo Carvalho

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José Reinaldo*

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Os avanços alcançados na América Latina, inclusive na complexa e difícil relação com os Estados Unidos, e os passos dados pelo Irã na luta para levar adiante seu programa nuclear com fins pacíficos, são notáveis exemplos. Mas a tendência contrária, a linha geral que preside às ações das potências imperialistas – Estados Unidos e seus aliados – permanece a militarização, o intervencionismo, a preparação de guerras de agressão e a criação de tensões nos terrenos político, diplomático e militar na relação com os países rivais.

Os Estados Unidos e a Otan estão em plena ofensiva para cercar militarmente a Rússia, com o deslocamento de armamentos pesados e tropas para o Leste europeu, além de fomentar conflitos e instrumentalizar forças fascistas, como ocorre na Ucrânia.

Em essência, está em curso a tentativa de criar uma correlação estratégica de forças em que seja inquestionável a liderança política e a supremacia militar dos Estados Unidos, para o que conta com o reforço da Otan e com a posição subserviente dos países da União Europeia. Informações divulgadas nesta semana pela agência noticiosa russa Sputnik dão conta de que o Pentágono criou um grupo de trabalho para fundamentar teoricamente e fomentar ações operacionais para o desenvolvimento de políticas de alianças militares.

Está em curso um estudo intitulado “Formando Aliados: Alianças e Mudanças Geoestratégicas”, abordando “mudanças de dinâmicas nas redes de aliança dos Estados Unidos no Leste asiático, no Oriente Médio e no Leste europeu.” Nesses estudos, uma das questões recorrentes é o fim da chamada política de “paciência estratégica” para deslocar armamentos e tropas até pontos mais próximos às fronteiras com a Rússia em países como Polônia, Lituânia, Estônia e Letônia, todos membros da Otan.

A Sputnik cita artigo assinado por A. Wess Mitchell, presidente do Centro de Análises de Políticas para a Europa, um instituto estadunidense dedicado a estudos sobre as regiões central e oriental da Europa. Segundo ele, “enquanto o Ocidente pós-Guerra Fria pode ter esperado que a Rússia eventualmente se tornasse uma versão maior da Polônia, com instituições liberais e uma política externa desmilitarizada, o que aconteceu foi uma versão moderna de Cartago — uma força punitiva determinada a aplicar uma política externa vingativa para derrubar o sistema que ela considera culpado pela perda de sua antiga grandeza”.

O teórico estadunidense encontra nisso o pretexto para o incremento de ações de cerco à Rússia. Por seu turno, o secretário de imprensa da Casa Branca, Josh Earnest, reafirmou que a política de deslocamento de tropas e armamentos para as cercanias da Rússia ainda está em desenvolvimento e corresponde às decisões tomadas na cúpula da Otan no País de Gales, realizada em setembro do ano passado.

É óbvio que a reação da Rússia teria que ser imediata e contundente. O cerco de suas fronteiras pela Otan não pode deixar de causar a preocupação das autoridades russas, que se sentem obrigadas a tomar medidas para garantir os seus interesses e a sua segurança, assim como a paridade na correlação de forças.

O presidente Vladimir Putin reafirmou que “o papel de contenção de armas nucleares não pode ser posto em causa por ninguém”. Para Putin, não é a Rússia que se aproxima das fronteiras de alguém, mas sim a Otan que se aproxima das fronteiras da Rússia. Por isso, avisou que a Rússia orientará suas forças militares, inclusive os mais modernos meios de ataque, para neutralizar este cerco. A retórica antirrussa foi um dos eixos da referida cúpula da Otan no País de Gales.

Na ocasião, o comandante em chefe das forças da Otan na Europa Philip Breedlove, em entrevista ao jornal alemão Die Welt, ameaçou a Rússia com uma guerra por causa da Ucrânia com base no artigo 5 do Tratado do Atlântico Norte. “Se tropas estrangeiras entram no território de um Estado, e nós podemos considerar essas ações um comportamento de agressor, então é o artigo número cinco: resposta militar a ações de um agressor”, disse o general estadunidense.

Esta retórica militarista dos Estados Unidos, que expressa a estratégia de cercar a Rússia com a concentração de tropas e armamentos da Otan na Europa, configura uma importante ameaça à paz e à segurança internacional.

 

*José Reinaldo Carvalho é Jornalista, Diretor do Cebrapaz, membro da Rede de Intelectuais em Defesa da Humanidade e editor do Vermelho.

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