18 de abril de 2024

A luta e seus percalços

Luiz ManfrediniLuiz Manfredini
 

Luiz ManfrediniTambém nesse dia, a direção nacional do PCdoB lançou extensa nota em que reconhece que “a democracia, conquista histórica do povo brasileiro, é ameaçada abertamente pela direita neoliberal.

O PSDB, na sua convenção realizada no último final de semana, às claras fez soar as trombetas de que teria chegado a hora de se afastar, por qualquer meio e a qualquer pretexto, a presidenta Dilma Rousseff do cargo que lhe foi conferido pelo voto de mais 54 milhões de brasileiros e brasileiras”.

De tais percepções, cada vez mais generalizadas, depreende-se que a defesa do mandato da presidente Dilma é o centro da atual batalha de proteção da jovem democracia brasileira.

Goste-se ou não da presidente e de seu governo, goste-se ou não do maior partido que a sustenta, o PT, goste-se ou não do ex-presidente Lula, o fato é que a preservação do mandato presidencial representa hoje a condição democrática do país.

A alternativa a ele é a direita hidrófoba. Portanto, defendê-lo (ainda que com críticas) é injunção daqueles que se opõem ao golpe, entre os quais conservadores legalistas, como o ex-governador paulista Cláudio Lembro, para citar apenas um exemplo.

Falando a professores em Belo Horizonte, o jornalista José Reinaldo Carvalho, dirigente nacional do PCdoB e editor do Vermelho, defendeu, como instrumento de defesa da democracia, “a união de forças políticas e sociais – partidos, movimentos populares e personalidades – numa ampla frente de caráter democrático, patriótico e progressista, com uma plataforma mínima comum que considere como prioritárias as lutas pela democracia, a soberania nacional, os direitos dos trabalhadores e a realização das reformas”. Defende-se, portanto, o mandato da presidente Dilma com uma plataforma mais ampla, democrática e progressista.

Percalços

Mas a situação política brasileira apresenta um outro complicador, a meu ver decisivo: a atitude tímida, algo assustada e perplexa de certos setores progressistas. Como afirmou José Reinaldo Carvalho aos professores mineiros, “é necessário advertir para as fragilidades políticas e ideológicas do governo, das forças de esquerda e dos movimentos populares. Ao invés de enfrentar os problemas e apontar a perspectiva da resistência e luta por reformas estruturais democráticas, manifestam-se da parte desses sujeitos políticos tendências a ceder espaço ao inimigo e conciliar com forças que defendem posições antagônicas e estão em plena ofensiva para derrubar o governo. Além disso, aparecem importantes divisões, a esquerda fragmenta-se e cria-se um ambiente de dispersão”.

Em sua nota do último dia 6, o PCdoB, partido da base aliada, advertiu: “A experiência histórica nos ensina que o golpismo da direita não se derrota com apelos, nem cedências, mas com a mobilização e a tomada de posição em defesa da democracia por parte de amplas forças políticas e sociais”.

E olha que o PCdoB vivenciou golpes ou tentativas de golpes como em 1954, 1961 e 1964. Mas há quem não creia num golpe em curso. É o caso do jornalista Paulo Nogueira, diretor editorial do sítio Diário do Centro do Mundo (DCM), para quem “o que a direita quer, com sua gritaria histérica e alucinada, com suas ameaças tonitruantes e vazias, é manter os progressistas acoelhados, imobilizados até 2018”.

Em artigo sob o título “Não vai haver golpe, e aqui estão as razões”, veiculado há dias no DCM, Nogueira defende que a direita está conseguindo intimidar os progressistas. “O medo imobiliza, e este é o principal problema para os progressistas”, pois com ele sente-se “desânimo para dar a melhor resposta para a gritaria conservadora: sair às ruas”. E recomenda, literalmente, espinha reta, coragem e discernimento. Ainda que, ao contrário de Nogueira, perceba o golpe em andamento, o jornalista Ricardo Melo concorda com certa passividade reinante: “O programa da oposição é derrubar Dilma, custe o que custar; a PF assina embaixo e o governo assiste”, escreveu.

Há, de fato, nas hostes democráticas e progressistas, certa intimidação diante dos rosnados da direita. Intimidação e, pior, perplexidade. A força hegemônica no governo parece fracionada e, salvo iniciativas pontuais, inativa, atemorizada. Dá mostras, mais uma vez, não haver em seu DND o enfrentamento de complexas crises que a luta de classes costuma proporcionar.

Quando do chamado “mensalão”, para citar o exemplo nais emblemático, essa força, tomada de surpresa por uma circunstância difícil para a qual demonstrou não estar preparada, reagiu com tibiez. Parlamentares chegaram a chorar no plenário da Câmara Federal, num espetáculo deprimente. Na ocasião, foi Lula e a juventude dirigida pelos comunistas que saíram às ruas para enfrentar os golpistas e derrotá-los.

É claro que o caminho tomado pelo governo para sanar os problemas da economia, ao implicar dificuldades, sobretudo aos trabalhadores, dificulta mobilização em favor do mandato presidencial. Examinei isso em minha coluna de 13 de maio e seis de junho passados, sob os títulos “As razões e seu custo” e “Pagando o (alto) preço”.

Os motivos pelos quais a presidente optou por tal caminho (que parece uma perigosa concessão ao capital financeiro) não cabem no escopo deste modesto artigo. De todo modo, sejam quais forem esses motivos, o fato é que, no momento, a defesa do mandato é imperativo democrático. Mas o governo e as forças que o apoiam devem ser mais corajosos, mais audazes, mais firmes na defesa da legalidade, sem o que se torna mais difícil a consecução da necessária frente ampla, democrática e progressista capaz de varrer o golpe.

 

*Luiz Manfredini é jornalista a escritor paranaense, autor, entre outros livros, dos romances “As moças de Minas”, “Memória e Neblina” e “Retrato no entardecer de agosto”.

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