À beira do abismo

perfil-jose-casadoABISMO

perfil-jose-casadoÉ uruguaia a primeira instituição financeira fechada por participação na rede de lavagem de dinheiro da corrupção na Petrobras. Na noite de sexta-feira, o Banco Central do Uruguai decretou intervenção na corretora Interbaltic, de Montevidéu. O motivo, segundo o comunicado oficial: “lavagem de ativos”.

Controlada pelo corretor Jorge Davies Cellini, a Interbaltic foi nos últimos oito anos um dos vértices das triangulações financeiras internacionais para pagamento de propinas a políticos brasileiros. Um de seus clientes era Julio Camargo, intermediário de fornecedoras da Petrobras como as japonesas Mitsui e Toyo e a coreana Samsung.

Em juízo, ele confirmou repasses de US$ 14 milhões a Fernando Soares Falcão, conhecido como Fernando Baiano, identificado nos autos como operador do PMDB.

Vinte e quatro horas antes do fechamento da Interbaltic, Camargo depôs na Justiça Federal, em Curitiba, como testemunha no processo de Fernando Baiano. Contou ao juiz Sérgio Moro que em 2011 sentiu-se extorquido pelo deputado fluminense Eduardo Cunha (PMDB), atual presidente da Câmara , a quem pagou propina de US$ 5 milhões. Cunha nega, com a ênfase peculiar dos olhos arregalados.

Parte do dinheiro que Camargo diz ter transferido da sua Piamonte Investiment Corp., no Uruguai, para contas das empresas de Baiano na Suíça, como a Three Lions Energy Inc., transitou pela Interbaltic, em Montevidéu. Essa corretora uruguaia também foi usada para repasses de subornos a dois diretores da Petrobras, Nestor Cerveró e Paulo Roberto Costa.

A Interbaltic “se destacou com transações suspeitas em outras investigações penais realizadas pela Procuradoria Pública da Suíça em relação à Petrobras” — escreveu Stefan Lenz, procurador federal em Berna, numa carta enviada em 26 de maio à Justiça brasileira. No texto, ele qualifica como “doleiros” os corretores Jorge Cellini, dono da Interbaltic, seu irmão Raúl Fernando e Eduardo Wincour. Acrescenta: “São conhecidos da Procuradoria (da Suíça) de outros processos”.

Em Brasília, por ordem do Supremo Tribunal Federal, investigam-se as suspeitas de pagamento de suborno a Eduardo Cunha não apenas a partir dos documentos apresentados por intermediários como Julio Camargo e Alberto Youssef, mas também pelo rastreamento das finanças dos seus mais fiéis patrocinadores, cujos interesses abrangem desde negócios na Petrobras aos segmentos de bancos de investimento, seguros, energia, portos, concessões de estradas e bebidas.

O cenário da destituição do acuado presidente da Câmara, terceiro na linha de sucessão republicana, já é debatido pelos deputados. Não é simples: será necessário demonstrar materialidade e autoria do crime e, em seguida, que o juiz Teori Zavascki, do STF, aceite a eventual denúncia da Procuradoria.

A decisão do procurador-geral Rodrigo Janot está prevista para o início de agosto. Caso Cunha seja processado, deputados devem denunciá-lo ao Conselho de Ética (que ele controla), propondo-lhe alternativas de afastamento por licença ou renúncia. Como se prevê uma recusa, já se trama uma inédita rebelião no Legislativo: a obstrução da Câmara contra o seu presidente. Até a queda.

 

*José Casado é jornalista

 

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