18 de abril de 2024

Eliane Sinhasique: “Os petistas são péssimos gestores, desorganizados, gastam muito e mal”

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“O PT é desonesto na sua essência e método”, disse Sinhasique

Uma das formas mais simplificadoras e mistificadoras de identificar as causas dos graves problemas sociais que afetam o Brasil consiste em dizer que eles se devem à falta de vontade política dos governantes. A expressão é utilizada a torto e a direito, à esquerda e à direita, quando se trata de disparar uma crítica rápida a um determinado grupo político no poder.

Simplificadora porque reduz uma série de causas econômicas, políticas e sociais a um aspecto voluntarista. Mistificadora porque esconde o caráter complexo das causas e sua relação com um determinado modelo político e econômico definidor da natureza das políticas públicas ou da ausência destas.

“O PT é desonesto na sua essência e método. No primeiro porque é uma legenda produtora e mantenedora de relações desiguais, disfarçada por uma falsa utopia de justiça social. Segundo porque utiliza os mais sórdidos e anti-republicanos expedientes para manter o seu projeto de poder”, dispara a deputada estadual Eliane Sinhasique (PMDB), 46, que tem apenas três anos de atuação na vida pública.

Todavia, o partido da parlamentar no Acre precisa capacitar seus quadros e repensar um discurso em favor da ética, da moral e em defesa da transparência para se diferenciar das demais legendas. Além, é claro, de se afasta de maus exemplos, notadamente o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, sob pena de ser recepcionado a pedradas na campanha que se avizinha.

Nascida no Paraná e criada até os 16 anos no Projeto de Assentamento Dirigido (PAD) Pedro Peixoto, no município de Plácido de Castro, Sinhasique, embora não seja adepta a ideologias, tem muita vontade de fazer política. Com apenas dois anos de mandato, de longe foi a vereadora que mais apresentou proposições e fiscalizou a prefeitura.

A intensa ação parlamentar e política, aliadas a outros fatores, levaram-na a conquistar uma cadeira na Assembleia Legislativa do Acre (Aleac). Talentosa como oradora e por ‘meter o dedo nas feridas do governo’, passou a pautar os principais debates, o que causou uma verdadeira fúria no núcleo do poder e entre seus colegas palacianos.

As críticas e as tentativas de desqualificação a projetaram ainda mais. Pesquisas domésticas realizadas até o momento a colocam em pé de igualdade com nomes como de Márcio Bittar (PSDB) e Tião Bocalom (DEM), hoje moribundos, mas que se eternizaram como os únicos candidatos de oposição.

Radialista, jornalista e publicitária, a pragmatíssima Eliane Sinhasique assume a pré-candidatura à Prefeitura de Rio Branco nas eleições do próximo ano. Em seu gabinete na Aleac, ela recebeu a equipe da ContiNet e concedeu esta entrevista. Vejam os principais trechos:

ContilNet – Por que a senhora entrou na política partidária?

Sinhasique – Porque tem uma hora que a gente decide parar de reclamar e se envolver diretamente à procura de soluções, ou seja, quero dar a minha contribuição. Como jornalista, eu já estava me sentindo impotente. A gente faz as denúncias, apura para saber quem são os responsáveis e muitas vezes isso não dá em nada. Eu tinha por certo que era possível usar um mandato de forma consequente, coerente, propositivo e que isso pudesse contribuir para melhorar a vida das pessoas, porque elas, e todos nós, dependemos da política. Eu estou muito feliz em vê que o meu mandato está cumprindo esse papel.

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Radialista, jornalista e publicitária, a pragmatíssima Eliane Sinhasique assume que é pré-candidata à Prefeitura de Rio Branco nas eleições do próximo no ano/Foto: Charlton Lopes/ContilNet

A senhora exerceu apenas dois anos do mandato de vereadora. Como foi essa primeira experiência na vida pública?

Eu avalio que foi bastante positivo. Eu consegui, por exemplo, incluir as pessoas negras nas propagandas institucionais da prefeitura. Foi um trabalho muito intenso. Além de tribuna, apresentei indicações, requerimentos, moções, anteprojetos, projetos e propus audiências públicas. Apesar de ter instigado os gestores a trabalhar, ainda me sinto impotente porque não disponho de máquinas, trabalhadores e o orçamento para resolver os problemas. A minha ação parlamentar é bastante limitada nesse aspecto.

Como a senhora avalia a administração do prefeito Marcus Alexandre?

Abaixo da média. Para ser mais didática, dou-lhe nota quatro. Por quê? Porque tem um excessivo número de secretarias e poucas soluções para os problemas da cidade.  Existe o setor, que emprega pessoas, mas não existe orçamento para o serviço ser executado.

Mas as administrações petistas contam com apoio da ampla maioria dos parlamentares e do governo federal? Por que não existe orçamento para a execução dos trabalhos e a consequente resolução dos problemas?

Porque eles (administradores petistas) são péssimos gestores. Dão calotes nos empresários. Não mantêm uma relação de respeito com essa classe. Por exemplo: não pagam em dias e isso gera uma crise econômica sem precedente. São desorganizados, gastam muito e mal. Os gestores petistas prometem, mas não cumprem. O prefeito Marcus Alexandre, por exemplo, prometeu construir 10 creches financiadas pelo projeto ‘Brasil Carinhoso’. Já está terminando a sua gestão e ele ainda não concluiu duas. Se eu não me engano só está funcionando uma, que fica no bairro Eldorado. Como é que se começa uma obra sem a previsão de recursos para terminá-la?  Isso cria uma série de transtornos que prejudica todos nós. Para ser um bom gestor tem que contratar e pagar.

Por que todas as obras, na Estado e Prefeitura de Rio Branco, são suspeitadas de serem superfaturados?

Acredito que isso faça parte da cultura e o modo petista de governar. É uma prática desonesta com a população em geral e com os empresários. Quando se paga em dia pode-se, inclusive, negociar o melhor preço. Nos superfaturamentos estão embutidos a propina e o caixa dois das campanhas. Uma parada de ônibus na Cidade do Povo custa R$ 19 mil. No mundo real, custa no máximo R$ 3 mil. Esse boxe dos engraxates, aqui em frente à Alaec, custou R$ 114 mil. Não preciso ser engenheira para saber que gastaria menos de 15 mil para deixa-lo do jeito que ele está agora.

Como a senhora avalia o governo de Tião Viana?

Péssimo. Ele se mete a ser empresário. Governo nenhum pode gastar dinheiro público em indústrias, metendo-se na iniciativa privada. Nem afugentá-la como faz esse governo. Todos os empreendimentos que o governo esteve no meio deram errado: fábricas de tacos e preservativos, em Xapuri, de biscoitos em Cruzeiro do Sul. O governo do Tião Viana é um Rei Midas às avessas, ou seja, tudo que ele toca dá errado.

E o que a senhora faria para trazer desenvolvimento e melhoria na vida das pessoas?

Faria tudo o que esse governo não está fazendo. Levaria investimentos e tecnologia para fomentar a produção agrícola, dotando os produtores de opções, uma vez que o desmatamento e uso do fogo estão proibidos. Abriria e recuperaria os ramais, pois a maioria está sem trafegabilidade. Faria fazer valer o zoneamento ecológico e econômico, isto é, cultivaríamos apenas aquilo que é vocacional para uma determinada região e sem agredir o meio ambiente. Traria a Suframa de Manaus para verdadeiramente investir em nosso estado, porque estamos na tríplice fronteira e, portanto, numa região estratégica. Diminuiria a carga tributária para que a iniciativa privada pudesse aqui se instalar. Faria, também, aquilo que chamo de inversão de prioridades, ou seja, ao invés de gastar exageradamente com propaganda, diárias de assessores, mordomias eu direcionaria esses recursos para a saúde, educação e segurança. Tentaria, ainda, ser transparente com a coisa pública, alargando a participação das pessoas na administração. Acabaria com essa simbiose com algumas instituições autônomas. Enfim, seríamos um governo democrático, respeitador do contraditório e do estado democrático de direito. Acredito na força da juventude e que os jovens acreanos, especialmente os que moram na periferia e no interior, precisam de alternativas para ingressar no mercado de trabalho, não obstante aos sagrados direitos ao lazer e entretenimento, afastando-os do perigoso mundo das drogas e do crime.

Nove em cada 10 brasileiros dizem política é  ‘coisa de bandido’. Como a senhora interpreta isso, levando em consideração a crise que atravessa o país e as constantes manifestações de ruas?

Estamos vivendo uma crise de representatividade na classe política e em algumas instituições. A política é intrínseca ao ser humano. É o meio mais apropriado para melhorar a vida das pessoas. A política surge da necessidade de dialogar e de equacionar interesses. Para participar da política é preciso ter grandeza, espírito público e causas para defender na sociedade. É uma atividade nobre para expor e debater ideias. A imensa maioria dos políticos não defende a coletividade. Estão lá com outros propósitos. Daí a frustração e indignação das pessoas.

A senhora é pré-candidata à Prefeitura de Rio Branco?

Sim. Trabalho de forma a contribuir e construir uma nova realidade para a nossa sociedade. A mudança na vida das pessoas só acontece através de ações. Iremos trabalhar para criarmos uma nova cultura política, principalmente a do pertencimento. Os políticos precisam entender que esta cidade e este Estado pertencem às pessoas e estas, por sua vez, precisam se sentir proprietárias dos recursos, dos espaços públicos, enfim, de tudo que dispomos. Não é só o poder público que tem a obrigação de cuidar das cidades e do Estado.

Qual a sua opinião e posição acerca dos escândalos envolvendo o peemedebista e presidente da Câmara Eduardo Cunha?

Sempre deixou claro que faço parte dos 49% que são contra a aliança nacional com o PT. Afirmo que deve haver investigação, inclusive dos peemedebistas que estão envolvidos em escândalos. O Eduardo Cunha está sendo investigado e está também passando pelo crivo do Conselho de Ética da Câmara. Se for apurado que ele cometeu crime, certamente deve sofrer as penalidades como toda e qualquer pessoa que cometer um crime. Ele terá que se explicar para o Brasil e para o partido.

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