18 de abril de 2024

“Não podemos adotar o discurso ‘santuarista’ de que nada pode ser tocado”, diz defensor

Alvo de polêmica nos últimos anos por conta dos impactos que poderia causar numa das regiões mais preservadas da Amazônia, a BR-319 –que interliga Manaus a Porto Velho – passa a ganhar atenção nas rodas de discussões dos amazonenses. Enquanto órgãos ambientais do Estado e do governo federal não se entendem sobre a concessão das licenças e a obra de recuperação da rodovia está paralisada, um grupo de jovens decidiu colocar a mão na massa e atuar por conta própria.

Professor de informática e um dos líderes do movimento de defesa da BR-319, André Marsílio, 30, afirma que as 15 unidades de conservação localizadas ao longo dos mais de 800 quilômetros da rodovia são a garantia de proteção das áreas de floresta no entorno. Segundo ele, os impactos que deveriam acontecer já ocorreram durante a década de 1970, quando a estrada foi construída pela ditadura militar (1964-1985).

Marsílio concedeu a seguinte entrevista para ContilNet:

ContilNet: Nas últimas décadas o Amazonas tem convivido com o debate sobre a recuperação da BR-319, única via de interligação rodoviária de Manaus com o restante do País. Quais as consequências deste isolamento para os dois milhões de habitantes da cidade?

Marsílio: As consequências são enormes. A economia da capital Manaus, dos municípios que estão ligados pela BR-319, deixa de arrecadar muito dinheiro com o turismo, escoamento da produção. O isolamento de comunidades que precisam ser repatriadas ao Brasil para ser cidadãos de verdade, isto tem consequências gravíssimas para o desenvolvimento da região.

br 319Os críticos afirmam não haver necessidade de Manaus contar com a BR-319 pavimentada por a cidade conseguir manter seu abastecimento via fluvial, além da estrada não apresentar viabilidade logística. Você concorda com esta tese?

Não concordo. Primeiro que a BR-319 tem estudos e mais estudos sobre sua trafegabilidade, inclusive de caminhões e contêineres que não deixaram de utilizar os meios fluviais para a logística, por exemplo, do Polo industrial de Manaus. Os órgãos competentes podem e devem regular o trafego da rodovia da melhor maneira possível para o desenvolvimento da região junto com a sociedade civil organizada.

Outro ponto criticado seria o “desastre ambiental” que uma rodovia ligando Manaus a Porto Velho provocaria numa das áreas mais preservadas da Amazônia. Ambientalistas dizem que a rodovia contribuiria para o aumento do desmatamento e a ocupação irregular de terras. Como o Amazonas pode lidar com esta situação?

Primeiro que os impactos já foram lá na década de 70, quando foi inaugurada a BR-319. Existe, por determinação do Ibama, mais de 15 unidades de conservação para preservar a floresta nesta área. Não podemos adotar o discurso “santuarista” de que nada pode ser tocado. O Exército, junto com a Polícia Rodoviária Federal e o Dnit, já tem estudos de como eles vão trabalhar com a BR-319 trafegável. Podemos conter, inclusive, os madeireiros que avançam na floresta por justamente o poder publico não ter condições de acompanhar por meio terrestre estes problemas.

Quais seriam os impactos sociais e econômicos para o Amazonas com a interligação rodoviária de Manaus com as demais regiões do Brasil? Você acredita que haveria uma redução no custo de vida? Haveria uma melhora na qualidade de vida da população?

Os impactos sociais seriam enormes. O

Amazonas poderia entrar de vez na rota turística do mundo. A produção do Estado teria outra forma de sair pelo meio terrestre, como verduras e frutas dos pequenos e médios produtores. A qualidade de vida iria aumentar e muito. Hoje, a população de diversos municípios tem dificuldades de acesso aos direitos fundamentais garantidos pela nossa Constituição, como ter acesso à Educação e Saúde.

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BR-319 liga Manaus a Porto Velho foi aberta no Governo Militar

 

Qual será o papel da associação que você integra nesta queda de braço entre os órgãos ambientais do Amazonas e do governo federal para definir de quem é a responsabilidade pela concessão das licenças da obra?

Não podemos adotar o discurso “santuarista” de que nada pode ser tocado. O Exército, junto com a Polícia Rodoviária Federal e o Dnit, já tem estudos de como eles vão trabalhar com a BR-319 trafegável.

Nosso objetivo principal será lutar pela pavimentação da BR-319. Nossa associação também terá um papel primordial na luta para coibir os grandes latifundiários de ocupar as margens da BR-319, e lutar pelo não desflorestamento de toda a sua extensão até Porto Velho. Iremos fazer campanhas e ações sociais para que as comunidades sejam agentes de fiscalização da nossa floresta e do cuidado como a nossa rodovia.

Você acha que será possível, um dia, acontecer uma viagem de ônibus de Manaus para São Paulo ou Brasília, por exemplo, numa rodovia em perfeitas condições?

Nesta Operação Beija-Flor conseguimos colher diversos depoimentos de pessoas que estavam trafegando pela BR-319. Dois deles me chamaram a atenção. Um foi de uma família de Roraima que estava voltando da Argentina de carro e outro foi uma família do Paraná que saiu de Curitiba e foi conhecer as cachoeiras de Presidente Figueiredo, no interior do Estado do Amazonas. Isto mostra que a BR-319, apesar das dificuldades encontradas, está trafegável e muita gente a utilizando parta o turismo.

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