Minha Casa, Minha Vida: família aguarda há 5 anos por casa própria

Após a revelação do esquema de corrupção na distribuição de casas populares construídas com recursos públicos e que eram vendidas por diretores e servidores da Secretaria de Habitação (Sehab), muitas famílias carentes que realmente precisam da moradia e se inscreveram para serem contempladas, afirmam estar há mais de cinco anos esperando que o sonho da casa própria se realize. É o caso da dona Elziete da Silva, que está na fila do Minha Casa, Minha Vida desde 2009.

“Eu fiz minha inscrição em 2009, depois ficaram de fazer uma visita ao local em que eu moro e até hoje ninguém apareceu. Eu já fui a Sehab várias vezes para saber o que estava acontecendo e o motivo da demora. Todas as vezes que eu vou lá, eles só diziam para eu aguardar porque, além de mim, tem centenas de pessoas também aguardando. Isso já tem mais de cinco anos de espera”, conta Elziete.

Atualmente, Elziete mora de aluguel numa quitinete com os três filhos pequenos e mais três parentes que a ajudam nas despesas da casa. Desempregada, ela conta que não tem mais condições nem de pagar o aluguel, e que necessita muito de um lugar digno para criar seus filhos.

Cleudivani Santos também se inscreveu em 2009 e mora de aluguel social. Sem trabalho, ela corre o risco de ser despejada da casa onde vive por falta de pagamento do aluguel. Até agora ela não foi contemplada com a casa popular prometida pelo governo.

“Estive na Seds (Secretaria de Desenvolvimento Social) ontem. Disseram que não tem uma previsão de pagamento [do aluguel social] e corro o risco de ser despejada. Na Sehab, todas as vezes que levo a inscrição cobrando a minha casa, sou mal atendida. Inclusive muitas vezes, o Daniel [ex-diretor-executivo da Sehab], que está preso, já me tratou muito mal. Espero que a Justiça seja feita”, desabafa Cleudivani.

A funcionária pública Cristiane Alves passa pela mesma situação. Ela morava em situação de risco no bairro Seis de Agosto e se inscreveu em 2009 para ganhar uma casa do programa habitacional do governo.

No mesmo ano ela recebeu uma visita técnica de assistentes sociais da Secretaria de Desenvolvimento Social (Seds) para ser atendida pelo aluguel social até ser contemplada pelo Minha Casa, Minha Vida. Porém, até hoje, a funcionária não teve o benefício do aluguel, nem tampouco recebeu seu imóvel.

Conjunto habitacional em Rio Branco

Conjunto habitacional em Rio Branco

Em 2011, Cristiane ficou sem casa e foi até a Seds para solicitar o aluguel social, mas não teve sua solicitação aceita. Ao questionar o diretor do Departamento de Assistência Social, ele ironizou a situação sugerindo que a mesma fosse morar debaixo da ponte para conseguir o imóvel.

“Eu cheguei a Seds e expliquei minha situação ao coordenador de Habitação, mas ele falou que eu tinha que esperar, pois tinham outros pedidos na frente. Falei para ele que já estava esperando há dois anos e que não tinha para onde ir porque eu estava morando de favor, só seu fosse para debaixo da ponte. Ele mesmo respondeu que eu fosse para debaixo da ponte quem sabe, assim, a minha casa não sairia”, relatou Cristiane.

O diretor de Gestão Interna da Seds, Antônio Carlos Crispim, que à época estava como coordenador de Habitação, diz desconhecer esse fato, e afirma que o papel da secretaria é exatamente solucionar os problemas das famílias em situações de risco. Nos anos de 2011 e 2012, segundo Crispim, foi quando houve o maior número de atendimentos dos aluguéis sociais por conta das cheias do rio Acre.

“Eu estranho que essa moça tenha recebido esse tipo de orientação, até porque nesse ano em que ela nos procurou foi o ano que mais conseguimos atender os casos de aluguéis sociais, pois o Estado tinha condições para isso, e muitas famílias em situação de risco foram beneficiadas. Em 2013 houve uma redução e estávamos dando prioridade a casos mais delicados e às vítimas da alagação” afirma ele.

Além de Cristiane, Elza e Cleudiani, centenas de acreanos que moram em áreas de risco, que realizaram suas inscrições para serem contempladas com as casas populares do Minha Casa, Minha Vida, aguardam até hoje o sonho da casa própria.

Enquanto isso, como revelou a Operação Lares, da Polícia Civil, servidores públicos que deveriam zelar pela boa execução das políticas de Habitação do governo, faziam uma verdadeira farra com a distribuição de casas para seus apaniguados, e comercializavam imóveis que deveriam beneficiar famílias como as das personagens desta reportagem.

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