Opinião: a política voltou

Francisco Oswaldo Neves Dornelles nasceu em Belo Horizonte no dia 7 de janeiro de 1935, filho de Mozart Dornelles e de Mariana Neves Dornelles. Seu avô paterno, Ernesto Francisco Dornelles, militar e natural de São Borja (RS), era irmão de Cândida Dornelles Vargas, mãe de Getúlio Vargas. Seu tio Ernesto Dornelles, também militar, foi senador (1946-1951), governador do Rio Grande do Sul (1951-1954) e ministro da Agricultura (1956).

Seu pai, primo em primeiro grau de Getúlio, também natural de São Borja, ao terminar a Escola Militar em 1930, foi servir em São João del Rei (MG) e aí se casou em 1932 com sua mãe, irmã de Tancredo Neves, deputado em várias legislaturas, ministro da Justiça (1953-1954), primeiro-ministro (1961-1962), senador (1979-1983), governador de Minas Gerais (1983-1984) e presidente da República eleito pelo Colégio Eleitoral (1985), falecido antes de tomar posse. Seu primo Aécio Neves da Cunha foi constituinte (1987-1988), deputado federal (1987-2003), governador de Minas Gerais (2003-2010), eleito senador por Minas em 2010 e candidato derrotado à presidência da República em 2014.

Chico Oswaldo, como era chamado por Tancredo Neves, seu tio, tem larga experiência profissional. Estudou nas melhores universidades dos Estados Unidos e da Europa. Foi eleito várias vezes, desde deputado a senador até vice-governador do Rio de Janeiro. Exerceu as mais diversas funções públicas na administração federal. Foi Ministro da Fazenda do governo Sarney. Saiu porque o presidente não queria comandar uma recessão. No lugar dele entrou Dilson Funaro que deixou o país às portas da hiperinflação. Antes, nos governos militares, foi Secretário da Receita Federal e ajudou o tio Tancredo a fazer contatos com os setores mais duros do regime.

Com essa história e essa biografia não parece ter sido difícil para Francisco Dornelles perceber a extensão do problema financeiro do estado do Rio de Janeiro, que governa. Ele, pessoalmente, vive uma fase curiosa. Está com 81 anos e não pretende se candidatar a mais nada. Decidiu falar a verdade. E assim anunciou, sem maiores preocupações, que o estado estava falido e não havia dinheiro sequer para cumprir as mais elementares obrigações. Depois deste terrível diagnóstico, partiu para a solução. E foi criativo: decretou estado de calamidade no Rio de Janeiro – que normalmente diz respeito a acontecimentos climáticos – e se credenciou a receber verbas extraordinárias do governo federal.
A engenhosa solução representou a oportunidade única para o grupo de governador vinha se reunindo em Brasília sob as benções do governador Rodrigo Rollemberg. O grupo não conseguia avançar. Os estados estão falidos ou perto disso. O exemplo do Rio detonou a solução de todos. Ganharam prazos maiores, juros menores e a oportunidade de voltar a investir em crescimento. E o governador do Rio, que inventou a calamidade, saiu da conversa com 2,9 bilhões de reais debaixo do braço.

Deve ser suficiente para debelar boa parte da crise financeira do estado do Rio, concluir a linha quatro do metrô, que chegará a Barra da Tijuca, colocar em dia o pagamento dos funcionários públicos, policiais, pessoal da área de saúde e abrir espaço para respirar. As Olimpíadas estão garantidas. Foi uma solução engenhosa. O presidente interino Michel Temer precisava de fato concreto para colocar na negociação com os governadores. Conseguiu. Aparentemente terá o apoio necessário para completar o impeachment da presidente Dilma Rousseff, também votos indispensáveis para recriar a CPMF e realizar o ajuste fiscal em toda a sua extensão.

Depois da avalanche de procedimentos amadores proporcionados pela equipe da presidente Dilma Rousseff, a ação de Dornelles e a compreensão que Temer proporcionou momento raro na ação pública no Brasil. É curioso que tudo ocorreu de maneira rápida, sem estrelismo, com extrema objetividade. Em questão de dias foi solucionado um problema que estava pendente há mais de cinco anos. Não é razoável prever crescimento econômico com os estados membros da federação em situação falimentar.

A movimentação de Dornelles demonstrou que política exige tradição, disposição para a conversa, história, conhecimento, respeito à liturgia e ação rápida com objetivo determinado. Temer é também um experimentado político, filho de emigrantes libaneses que se estabeleceram no interior de São Paulo. Ele disputou várias eleições, foi presidente da Câmara dos Deputados, vice-presidente e agora presidente da República. Experiência e capacidade de negociar modifica o ambiente político. Foi isso que o encontro de Dornelles com Temer proporcionou aos brasileiros. O recurso, recheado de pequenos ardis, resultou em acordo surpreendentemente positivo para todos os envolvidos.

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