23 de abril de 2024

‘A lenda de Tarzan’ falha ao adotar estilo super-herói de HQ

Para virar Tarzan, Alexander Skarsgård teve de ganhar físico de estátua grega anabolizada, à custa de zero açúcar, zero álcool e muito “bodybuilding”. Faltou alguém pedir a ele que não adotasse também expressão de estátua grega. E este nem é o pior descuido do mediano “A lenda de Tarzan” (assista ao trailer acima), que estreia nesta quinta-feira (21) no Brasil. É injusto jogar tudo na conta do chamativo e empenhado (ao menos fisicamente) ator sueco, que é melhor que isso e esteve muito bem como vampiro na série “True blood”.

Existe mais uma coisa ou outra errada, além da questionável atuação de Skarsgård como o herói silencioso, emburrado, com melancolia de poeta romântico, vingativo na escola Charles Bronson e expressivo na escola Keanu Reeves (ou seja…).

Uma dessas limitações é a própria ideia de retratar o protagonista como se fosse um super-herói dos quadrinhos (inspirações hipotéticas: Wolverine e Homem-Aranha, além de lutadores de UFC em geral; justificativa óbvia: atrair o público juvenil). É o filme investindo em cenas de ação repletas de coreografia e nulas de emoção, embora o 3D fique bonito nas paisagens da África.

Os efeitos especiais às vezes, de tão especiais, querem ser mais especiais que o filme. Apelando a flasbacks recorrentes, o roteiro tem passagens menos racionais que os animais irracionais da selva africana. E fica cansativo (a velha história de que o trailer é em si uma fonte de spoiler e entrega o fundamental do filme). Enfim, quase tudo nota cinco: superprodução com ar solene e resultado medíocre alcançado pelo diretor David Yates, que antes tinha feito quatro filmes da franquia “Harry Potter”.

Nem o pior nem o melhor
Lançada em 1912 pelo escritor americano Edgar Rice Burroughs (1875-1950), a história de Tarzan é conhecida: filho de aristocratas ingleses emigra ainda bebê para o Congo, fica órfão, acaba adotado por gorilas, faz amizade com a fauna local e estabelece o cipó como meio de transporte alternativo. Já adulto, conhece o amor ao dizer “Eu Tarzan, você Jane” a uma jovem vinda da civilização.

“A lenda de Tarzan”, que essencialmente respeita o material de origem e a história de amor, não está entre as piores adaptações do “clássico”. Até porque seria mesmo uma façanha, considerando que já foram feitas tipo duas centenas de produções inspiradas na trama. As primeiras datam da época em que Tarzan sequer arriscava seu grito animalesco, uma vez que estávamos na época do cinema mudo.

Mas o novo produto, que se alterna entre a Inglaterra do final do século XIX e a selva, não merece ser colocado entre os melhores. Perde, por exemplo, da simpática animação lançada pela Disney em 1999. Dá saudade também de um similar recente, “Mogli: O menino lobo” (2016), menos ambicioso e mais capacitado a desenvolver uma história com pé, cabeça e emoção. E sem drama arrastado.

A partir da esquerda: Samuel L. Jackson, Margot Robbie e Alexander Skarsgård em cena de ‘A lenda de Tarzan’ (Foto: Jonathan Olley/Divulgação/Warner Bros. Entertainment Inc.)

Margot Robbie, a Jane, atua bem
Em “A lenda de Tarzan”, salva-se Margot Robbie como uma Jane protofeminista e atuação francamente superior à do parceiro. A proposta é erguer uma personagem que ao menos tente superar o status de “donzela em apuros”. Se não rola, a culpa não é da atriz.

O esforço é notável para sensibilizar a audiência dos dias de hoje. Evidente a boa intenção de condenar o colonialismo europeu na África, a escravidão e – já que é para ficar bonito na foto – o genocídio de índios lá nos Estados Unidos, a apenas um oceano Atlântico de distância da África.

“A lenda de Tarzan” se leva a sério demais, à exceção de Samuel L. Jackson, que tenta e eventualmente consegue ser engraçado interpretando Samuel L. Jackson na pele de um americano auxiliar técnico de Tarzan, e de Christoph Waltz, o vilão que replica seu trabalho em “Bastados inglórios” (2009).

Mas boas intenções não rendem bom cinema. Se tanto, serve como aula de história sub-15. O que resta, então? Resta a lenda. E não um filme em acordo com seu pretensioso título.

No começo de ‘A lenda de Tarzan’, Alexander Skarsgård encarna o protagonista já integrado à Inglaterra com sua identidade de origem, lorde John Clayton III; aqui, em cena com Samuel L. Jackson, que interpreta o diplomata americano George Washington Willia (Foto: Jonathan Olley/Divulgação/Warner Bros. Entertainment Inc.)

O ator sueco Alexander Skarsgård em cena de 'A lenda de Tarzan' (Foto: Jonathan Olley/Divulgação/Warner Bros. Entertainment Inc. )

O ator sueco Alexander Skarsgård em cena de ‘A lenda de Tarzan’ (Foto: Jonathan Olley/Divulgação/Warner Bros. Entertainment Inc. )

Alexander Skarsgård e Margot Robbie estrelam A Lenda de Tarzan (Foto: Divulgação)

Alexander Skarsgård e Margot Robbie estrelam A Lenda de Tarzan (Foto: Divulgação)

Margot Robbie e Alexander Skarsgård em 'A lenda de Tarzan' (Foto: Divulgação)

Margot Robbie e Alexander Skarsgård em ‘A lenda de Tarzan’ (Foto: Divulgação)

O ator Djimon Hounsou em cena de 'A lenda de Tarzan' (Foto: Jonathan Olley/Divulgação/Warner Bros. Entertainment Inc.)

O ator Djimon Hounsou em cena de ‘A lenda de Tarzan’ (Foto: Jonathan Olley/Divulgação/Warner Bros. Entertainment Inc.)

Christoph Waltz em cena de 'A lenda de Tarzan', no qual interpreta o vilão (Foto: Jonathan Olley/Divulgação/Warner Bros. Entertainment Inc.)

Christoph Waltz em cena de ‘A lenda de Tarzan’, no qual interpreta o vilão (Foto: Jonathan Olley/Divulgação/Warner Bros. Entertainment Inc.)

PUBLICIDADE
logo-contil-1.png

Anuncie (Publicidade)

© 2023 ContilNet Notícias – Todos os direitos reservados. Desenvolvido e hospedado por TupaHost