Artigo de Opinião: As ocupações e a “geração perdida”

Primeira citação: “A nossa juventude adora o luxo, é mal-educada, troça da autoridade e não tem o menor respeito pelos mais velhos. Hoje, os nossos filhos são verdadeiros tiranos. Eles não se levantam quando uma pessoa idosa entra, respondem aos seus pais e são simplesmente maus”.

Segunda citação: “Não tenho mais nenhuma esperança no futuro do nosso país se a juventude de hoje tomar o poder amanhã, porque esta juventude é insuportável, desenfreada, simplesmente horrível”.

Terceira citação: “O nosso mundo atingiu seu ponto crítico. Os filhos não ouvem mais os seus pais. O fim do mundo não pode estar muito longe”.

Quarta citação: “Esta juventude está estragada até o fundo do coração. Os jovens são malfeitores e preguiçosos. Eles jamais serão como a juventude de antigamente. A juventude de hoje não será capaz de manter a nossa cultura”.

Você concorda com essas afirmações? Seriam os jovens atuais uma “geração perdida” e estaríamos fadados ao fracasso? Sinto lhe dizer que você foi enganado, este artigo não é sobre política, mas sim sobre conflito de gerações.

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A obra marginal do artista anônimo ‘Basky’ é um ícone de contestação aos padrões da nossa sociedade

Pois bem, a primeira citação é do filósofo grego Sócrates, que viveu entre 471 e 399 a.C. A segunda foi dita por volta do ano 720 a.C pelo poeta grego Hesíodo. A terceira citação é atribuída a um sacerdote há 2 mil anos. Por fim, a quarta citação foi encontrada em um vaso de argila originário da Babilônia, com provavelmente 4 mil anos de idade. Acho que enganei você novamente.

“É você que ama o passado e que não vê, que o novo sempre vem!”, essa é um pouco mais nova, foi dita pelo Belchior em 1976 e ficou famosa na voz de Elis Regina. O que eu quero provar com isso é que o jovem sempre ocupou um lugar diferenciado dentro da sociedade. O mundo muda, não necessariamente para melhor, porquanto é normal que essas mudanças causem estranhamento.

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A ironia do cartunista brasileiro André Dahmer representa bem o choque de gerações

As menções que compõem a introdução deste artigo foram reunidas e ditas inicialmente pelo médico inglês Ronald Gibson, durante uma palestra sobre conflito de gerações, quando deixou a plateia em silêncio ao revelar a autoria das citações. Ele quebrou o gelo exclamando: “Fantástico! Não mudou nada! Pais e mães, acalmem-se, o mundo sempre foi assim.”

Outro que soube muito bem expor o conflito de gerações em suas obras foi Douglas Adams, autor da série de sucesso “O guia do Mochileiro das Galáxias”. Em uma compilação de textos, entrevistas e histórias pessoais sobre a sua vida do autor, traduzida no Brasil como “O Salmão da Dúvida”, Adams expõe, como ninguém, o tema aqui abordado:

“Recentemente eu descobri algumas regras que regem nossa reação para tecnologias:

1. Tudo o que já está no mundo quando você nasce é normal, corriqueiro e nada mais do que parte natural da maneira como o mundo funciona.
2. Tudo o que é inventado entre os seus 15 e 35 anos é novo, empolgante e revolucionário, e pode, inclusive, se tornar sua carreira profissional.
3. Tudo o que é inventado depois dos seus 35 anos vai contra a ordem natural das coisas.”

Infelizmente, mais uma vez eu não trouxe propostas de intervenção, apenas de reflexão, mas como diria o professor Carlos Estevão em suas aulas de Economia: “Quem disse que eu estou certo?”

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