Já rolou a primeira cabeça na administração Trump

O conselheiro para a segurança nacional dos Estados Unidos demitiu-se esta madrugada. Salta assim a primeira peça da equipa acabada de formar, confirmando a frase que Donald Trump repetiu três vezes ontem à tarde (noite em Portugal) durante a conferência de imprensa com o primeiro-ministro canadiano, Justin Trudeau: “Nunca se pode estar totalmente confiante”. Apesar de o Presidente ter afirmado que a equipa da segurança estava a fazer um “tremendous job!”, o general Michael Flynn estava sob uma “tremendous” pressão: a sua demissão surgiu logo após se ter sabido que o Departamento de Estado avisou a administração Trump no mês passado de que Flynn teria contado só meia verdade (facto alternativo?) relativamente às suas comunicações com o embaixador da Rússia nos Estados Unidos. A verdade, parece, é que teria ficado potencialmente vulnerável a chantagem por parte dos russos ainda antes da tomada de posse da nova administração. Restou-lhe pouco mais do que pedir longamente desculpa numa carta de… demissão: “Inadvertidamente informei o vice-presidente eleito e outros com informação incompleta relativamente aos meus telefonemas com o embaixador russo. Desculpei-me sinceramente ao Presidente e ao vice-presidente e eles aceitaram as minhas desculpas”, lê-se na carta reproduzida pela CNN.

O sentimento interno na administração Trump já deveria ser de indisfarçável tensão e nervosismo, como atestavam ao início da noite (em Washington) a CNN, Politico e New York Times reportando sobre uma possível alteração da equipa, em particular da de segurança. O conselheiro para a segurança nacional Michael Flynn andava ali sobre gelo fino e não era o único. Há quem seja da opinião de que o “tumultuoso arranque” desta administração vai fazer rolar (mais) cabeças.

A aproximação dos 100 dias de presidência de Donald Trump andam a azafamar o mundo inteiro e poucos serão as afirmações e gestos políticos públicos do novo habitante da Casa Branca que não são escrutinados. Do ponto de vista da importância que os EUA têm para a segurança do mundo, será fácil perceber o significado de eventos como o lançamento de um míssil balístico de longo alcance pela Coreia do Norte que se provou ter alcance para chegar aos EUA. A notícia chegou a tempo de interromper o jantar de dois dos mais conceituados inimigos do líder norte-coreano – Donald Trump e Shinzo Abe – na mansão do Presidente americano de Mar-a-Largo onde o casal Abe era recebido. Como escreve o repórter, “o momento teve potencial para para ser o primeiro teste crítico” a qualquer decisão que Trump viesse a manifestar ou mesmo efetivar relativamente aos testes nucleares da Coreia do Norte. Enquanto, lá fora, América, Japão e Coreia do Sul pediam uma reunião de emergência do Conselho de Segurança das Nações Unidas logo a seguir às manobras norte-coreanas, Trump fazia do encontro com o primeiro-ministro japonês a sua primeira consulta de segurança com um aliado, dada a coincidência do lançamento com a visita do primeiro-ministro japonês aos Estados Unidos.

Do ponto de vista das relações externas, a conferência de imprensa de Trump com o primeiro-ministro canadiano Justin Truedau era esperada com expectativa. Segurança, fronteiras e acordos comerciais são de absoluta relevância para os dois países que Trump declarou partilharem “ muito mais do que uma fronteira”: “a história e os valores”. A primeira pergunta da imprensa foi sobre imigração e segurança e permitiu a Trump referir-se em termos de segurança à “fronteira a norte” – o Canadá prepara-se para acolher 40 mil refugiados sírios – e à “fronteira a sul”, onde as coisas “não têm sido justas para os EUA, mas vão ficar no futuro”, disse Trump. A visita de Trudeau seguiu-se à de Abe e precede a do primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, que terá lugar amanhã.

OUTRAS NOTÍCIAS
Por cá, o ministro das Finanças continua debaixo de fogo apesar do apoio e confiança reafirmados pelo primeiro-ministro. Mário Centeno assume “erro de perceção” em acordo com Domingues como aqui explicam o Adriano Nobre e a Helena Pereira. O ministro falou numa conferência de imprensa convocada para o final da tarde de ontem pelo ministério das Finanças, o dia em que António Costa voltou a comentar o caso CGD depois das últimas acusações de Marques Mendes no seu comentário na SIC, segundo as quais o Governo terá retido durante um mês a publicação em “Diário da República” do estatuto do gestor público, evitando deste modo que os deputados pedissem a sua apreciação parlamentar. A opinião de Daniel Oliveira e de Paulo Baldaia.

Previsões de crescimento económico de Portugal em Bruxelas ultrapassam as do Governo. Bruxelas elogia o crescimento económico de Portugal, a descida do desemprego e a redução do défice. Mas não nos safamos ainda das recomendações, como aqui explica a Susana Frexes. Portugal cresce ao ritmo da zona euro pela primeira vez desde a crise.

Quem falar será “devidamente compensado” e isto não é o Brasil, dizem os advogados do caso dos vistos Gold. A primeira sessão do julgamento ficou marcada por polémica.

Dia dos Namorados, São Valentim, assunto que hoje é suposto dizer respeito a todos que somos, já fomos ou vamos ainda ser namorados e namoradas de alguém. Consulte aqui algumas sugestões de prendas ainda que a situação ideal tivesse sido já ter resolvido esta questão há dias, mostrando ser um competente consumidor. Fique a saber porque é que o mundo nunca foi simpático para os solteiros. Assinalado com um coração rosa gigante na capa, a edição em papel do jornal i de hoje tem um suplemento de sete páginas sobre o assunto.

Hoje há jogo da Liga dos Campeões, o Borussia Dortmund joga às 19:45 na Luz e os alemães, até há pouco conhecidos por trincarem tudo o que lhes aparecesse à frente, acabam de perder a aura (e jogos), dizem que o jogo aqui na Luz é um desafio. Sorte do Benfica.

Após semanas de protestos, a o Parlamento da Roménia aprovou a realização de um referendo anti-corrupção, abrindo caminho para uma revisão da lei.

Ontem ficámos a saber quais as 45 fotografias/fotógrafos que foram consideradas as melhores de 2017 da World Press Photo. Consulte aqui. A escolha da fotografia vencedora não foi consensual, como pode verificar neste texto. Num artigo de opinião publicado pelo “The Guardian”, o presidente do júri, Stuart Franklin, declara considerar que “colocar esta fotografia num pedestal tão alto é um convite àqueles que contemplam a espetacularidade destes palcos: reafirma a associação do martírio e publicidade”. A exposição chega a Lisboa no próximo mês de julho.

FRASES
“Não vou dar lições a outro país sobre as suas políticas”, Justin Trudeau, primeiro-ministro do Canadá na conferência de imprensa conjunta com Donald Trump na Casa Branca

“Nunca se pode estar totalmente confiante”, Donald Trump, PR dos EUA respondendo a Trudeau na mesma conferência na Casa Branca e no momento em que o Canadá se prepara para receber 40 mil refugiados sírios

“O primeiro centro de competência a criar será na área dos serviços jurídicos”, António Costa, primeiro-ministro citado pelo Público a propósito da simplificação legislativa e das 1500 leis obsoletas que o Governo quer varrer do sistema

“Mesmo que seja ferido, ou morto, sou jornalista. Tenho de fazer o meu trabalho. Podia fugir. Mas não teria uma resposta decente para dar quando mais tarde me perguntassem – Porque é que não tiraste fotos?”, Burhan Özbilici, fotógrafo turco que tirou a foto vencedora do World Press Photo 2017

O QUE ANDO A LER E A VER
Vou a pouco mais de um terço da leitura de “Foice e Martelo – A outra história do comunismo contada em anedotas comunistas”, um livro inesperado e delicioso (editado em português pela Guerra e Paz) no qual o britânico (que eu até agora desconhecia) Ben Lewis (www.benlewis.tv) faz a história da União Soviética através de anedotas. Anedotas comunistas? Este único exemplo prova que toda a gente conhece e se lembrará deste universo de humor: “Qual é a diferença entre o comunismo e o capitalismo? O capitalismo é a exploração do homem pelo homem… e o comunismo é o contrário”. O livro reúne anedotas criadas em sociedades comunistas da Europa e da Rússia e analisa os contextos em que elas surgiram ou foram adaptadas. É um transporte ao século passado, com maior insistência ao período a partir dos anos 50, uma espécie de “Em busca das anedotas perdidas” que resulta num livro de leitura encantadora, que revê episódios arrepiantes e sistemas de vida que ninguém gostaria de reviver da época em que ainda não se tinham descoberto os “factos alternativos”: havia verdade e havia mentira e milhares de agentes preparados para extrair uma e outra de quem lhes caísse nas mãos. “Porque razão convocou Ceausescu um comício em massa no 1º de maio? Para ver quantas pessoas tinham sobrevivido ao inverno”. Além da reprodução de uma série de cartoons compilados pelo autor, o livro tem a virtude de rever as razões e as subtilezas do humor comunista, cuja condição de criação dependia essencialmente de ser proibido.

Coincidência absoluta, já tenho e vou ler a seguir “As minhas aventuras no país dos sovietes – a União Soviética tal como eu a vivi”, escrito pelo José Milhazes (Oficina do Livro). Depois de ter tido a sorte de me cruzar com ele (e outros correspondentes na Rússia e Ucrânia) numa reportagem em Kiev, em 2007, juro que não perco nada escrito ou contado por este correspondente veterano com sotaque.

Sugiro por fim que empregue dez minutos da sua vida a ver este documentário que o “The Guardian” fez sobre os tradutores afegãos que foram usados ao longo de anos pelo exército norte-americano até retirarem. Quando retiraram deixaram os tradutores para trás à mercê (eles e as suas famílias) dos talibãs com a promessa de que seriam protegidos. O filme não remonta àqueles anos, mas à atualidade que vivem na fronteira sérvia migrantes e refugiados, entre os quais se encontram alguns daqueles tradutores afegãos. Esperam uma oportunidade para entrar na Europa depois de lhes verem sido negadas sucessivas tentativas de obterem vistos de entrada nos Estados Unidos, apesar das recomendações e credenciais que lhes foram deixadas pelos oficiais. É uma reportagem simples e clara, capaz de estragar lanches do dia dos namorados…

E o curto de hoje termina com uma sugestão para levar a sério: fique connosco em www.expresso.pt e passe uma ótima terça-feira!

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