Posse de Trump e mudanças políticas dão ‘cara nova’ ao Mercosul

Fundado em 1991, o Mercosul, é a principal organização entre governos da América do Sul e uma das mais importantes do mundo. Historicamente, o Mercosul teve uma postura protecionista, devido ao fato de o Brasil e a Argentina – países que correspondem a praticamente 90% do PIB do bloco – terem passado por mais de uma década sendo governados por partidos de esquerda.

Contudo, a partir do ano passado, a América do Sul passou por grandes mudanças em seu cenário político-econômico, o que acarretou em uma mudança na postura do próprio Mercosul. Na Argentina, o kirchnerismo deu lugar ao governo neoliberal de Mauricio Macri, enquanto no Brasil o governo Dilma sofreu o impeachment e foi substituído pelo de Michel Temer. Além disso, no final de 2016 a Venezuela foi suspensa de sua posição de membro pleno do Mercosul após não adequar suas normativas internas às do bloco.

Todo esse conturbado ambiente político presente na América do Sul somado às grandes mudanças previstas pelo recém-empossado presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, prometem dar “cara nova” ao bloco sul-americano. Encabeçado por Macri, o Mercosul está buscando novos parceiros comerciais, dentre eles a Aliança do Pacífico – bloco composto por Chile, México, Peru e Colômbia – e a União Europeia.

Foto: Reprodução

A relação entre Mercosul e Aliança do Pacífico, que sempre foi de prudência em função da diferença de políticas econômicas – enquanto um tem viés protecionista, o segundo defende o livre comércio -, aparenta estar caminhando para algo mais harmonioso. Devido a uma nova postura muito mais protecionista por parte dos EUA, é de interesse de ambos os blocos encontrar novos parceiros comerciais para a exportação de matérias-primas, as quais ainda representam grande porcentagem do PIB dos países da América Latina.

Além disso, o México, que também é membro do Nafta (Tratado de Livre Comércio da América do Norte), deve passar a olhar mais para seus vizinhos ao sul, visto que Trump classificou o Nafta como uma “catástrofe” que precisa ser revista.

Outro importante acordo que está sendo buscado pelo Mercosul é com a União Europeia. Tal acordo vem sendo adiado há 15 anos e passa atualmente por conversas em nível técnico. Tudo leva a crer que a situação atual é de muito mais otimismo entre as partes. O acordo UE-Mercosul já foi defendido pelo presidente Michel Temer e é de grande interesse de Mauricio Macri, que viajou no final do mês para a Espanha em busca de investidores no velho continente. Além disso, o acordo com o Mercosul é visto como prioridade pelo presidente do governo espanhol, Mariano Rajoy.

Outro sinal de uma mudança na postura do bloco sul-americano é a confirmação da abertura de negociações comerciais com os países da Associação Europeia de Livre-Comércio (EFTA), que agrupa Islândia, Liechtenstein, Noruega e Suíça. Esse início de diálogo com os países do EFTA é, sem dúvida, um passo importante para uma aproximação entre União Europeia e Mercosul, e para uma abertura do Mercosul de modo geral.

Para que se concretize a abertura comercial do Mercosul e a conquista de novos parceiros, como a Aliança do Pacífico, é de suma importância que os governos de Brasil e Argentina estejam em sintonia – e isso pode ser um problema em determinado momento. As economias brasileira e argentina possuem um forte relacionamento. O Brasil é o principal destino das exportações argentinas, enquanto a Argentina tem o Brasil como principal fornecedor de produtos. Dessa forma, alterações na economia brasileira acabam reverberando com intensidade no país vizinho.

Em encontro realizado no início de fevereiro, Temer e Macri decidiram não falar sobre as barreiras impostas pelos próprios países e que tem causado certo desentendimento entre as partes – como as barreiras presentes no mercado de peças automotivas e de açúcar na Argentina. Situações como essas mostram a dificuldade de o Brasil e, principalmente, a Argentina abandonar certas posturas protecionistas.

Em suma, a aliança entre Michel Temer e Mauricio Macri em congruência com uma nova postura do Mercosul são fatores fundamentais para a confirmação de novas parcerias com grandes economias – como o México, Japão, entre outros – e que podem ser muito benéficas para os países sul-americanos em um momento em que o mundo acompanha o fortalecimento de ideologias nacionalistas.

Post em parceria com Rodrigo Andrade, graduando em Administração de Empresas pela Fundação Getulio Vargas e consultor pela Consultoria Júnior de Economia (www.cjefgv.com)

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