19 de abril de 2024

Precisamos falar sobre suicídio: “Os 13 Porquês” e o debate social ao redor da série

“Por que não me disse isso quando eu estava viva?”

Este é apenas um dos (muitos) trechos dos diálogos impactantes da série “Os 13 Porquês”, disponível na plataforma de streaming Netflix. Na trama, o estudante Clay recebe fitas cassete gravadas por Hannah Baker. Ao escutá-las, o jovem fica imerso nas razões que levaram Hannah ao suicídio, envolvendo elementos de cyberbullying, machismo, preconceito e estupro.

Trailer da série “Os 13 Porquês”:

https://www.youtube.com/watch?v=nHdoAaLiU2E

O sucesso da série foi estrondoso: segundo a Fizziology, empresa especializada em pesquisa de mídias sociais, ela alcançou mais de 3,5 milhões de impressões nas redes sociais em sua primeira semana de estreia, além ser, de acordo com o veículo de notícias Variety, a série mais comentada no Twitter de 2017 até o momento, com mais de 11 milhões de tweets desde seu lançamento em 31 de março.

Mesmo divergindo opiniões sobre o retrato do suicídio e sobre a “romantização” do ato na série, o principal ponto positivo de “Os 13 Porquês” está justamente nessas divergências. Ao estimular o debate, fala-se e expande-se o interesse por um assunto muitas vezes tabu na sociedade: o suicídio, a prevenção às tentativas suicidas e o que leva alguém, seja um adolescente, adulto ou idoso, a tirar a própria vida.

30 segundos

Considerado um problema de saúde pública, o suicídio é um dos principais combates da Organização Mundial de Saúde (OMS). De acordo informações da OMS, trata-se de causa de morte a cada 30 segundos no mundo, sendo esta a terceira causa de mortalidade entre pessoas com idade de 15 a 44 anos.

Ainda segundo dados da agência da Organização das Nações Unidas (ONU), mais de um milhão de pessoas morrem por suicídio todos os anos no mundo, com casos geralmente associados à depressão. A OMS também destaca que 75% das pessoas diagnosticadas com a doença não recebem tratamento adequado.

No Brasil, o número avança silenciosamente: suicídio perde apenas para homicídios e acidentes de trânsito entre as mortes por fatores externos (excluindo doenças), ocupando a oitava posição no ranking de países com maior incidência de suicídios, totalizando mais de dez mil casos por ano.

Na cartilha “Informando para prevenir”, co-criação do Conselho Federal de Medicina (CFM) e da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), o suicídio é explicado como sendo “um ato deliberado executado pelo próprio indivíduo, cuja intenção seja a morte, de forma consciente e intencional, mesmo que ambivalente, usando um meio que ele acredita ser fatal”.

A série retrata as etapas pelas quais a jovem Hannah passou até chegar ao suicídio

É preciso estar atento

No Acre, segundo informações do Núcleo de Prevenção ao Suicídio do Hospital de Urgências e Emergências de Rio Branco (Huerb), de 2013 a 2014 foram registrados 68 óbitos; em 2015 houve mais de 50% de redução desse número, totalizando 32 óbitos; e em 2016, esse número cai para 26 mortes em decorrência de suicídio.

Nos seis primeiros meses de 2015, o Huerb chegou a registrar 490 casos de atendimentos ligados às tentativas de suicídio. A psicóloga Andréia Vilas Boas, que atua na prevenção ao suicídio há cinco anos, explica que é extremamente importante falar sobre o assunto:

“É preciso que as pessoas fiquem atentas para as mudanças de comportamento. Quem já tentou uma vez precisa de acompanhamento psicológico e apoio dos parentes e amigos para evitar a reincidência. A tentativa pode acontecer de várias formas, por isso é difícil identificar e realmente quantificar as tentativas de suicídio.”

Psicólogas Andréia Vilas Boas e Kellen Bárbara Castro debatem o tema com estudantes de Psicologia /Foto: Astorige Carneiro/ContilNet

Para Kellen Bárbara Castro, também psicóloga do Huerb, as mudanças de comportamento já podem ser consideradas como sinais, mesmo que não haja mudança verbal ou que a pessoa que esteja transtornada não expresse seus sentimentos:

“Atitudes que antes não existiam com frequência, comportamentos autodestrutivos, aumento de introspecção… É preciso estarmos atentos e sempre investirmos no diálogo. Um simples ‘Está tudo bem?’, ‘Você quer conversar sobre alguma coisa?’ faz uma diferença tremenda para quem está se afogando dentro de si mesmo”, relata Kellen.

Sobre o impacto da série, a estudante de psicologia Jardelly Braga expõe que existem prós e contras: “Pessoas com tendências suicidas não devem assistir, pois pode influenciá-las negativamente. Mas para os pais de adolescentes eu recomendaria, já que o contexto da juventude hoje é outro, sobre como tratamos os outros e como os outros nos afetam”.

Ainda sobre os impactos positivos da série, está o aumento no número de ligações do Centro de Valorização da Vida (CVV). Desde o lançamento da série, a instituição dobrou o número de ligações. Em entrevista ao site UOL, um porta-voz do CVV disse que o aumento aconteceu em função da Netflix ter disponibilizado os contatos da organização no site da série em um especial chamado “Tentando Entender os Porquês”. Por isso, a CVV decidiu incentivar os voluntários do serviço a assistirem a temporada e lerem o livro que inspirou a série.

Para solicitar palestras e acompanhamentos do Núcleo, é só entrar em contato através do telefone 99913-4045. O CVV atende 24 horas por dia pelo telefone 141, por e-mail, Skype e chat no site do serviço.

 

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