18 de abril de 2024

“Os espaços culturais refletem nossas vidas”, diz presidente da FEM à ContilNet

Desde o anúncio realizado no dia 12 deste mês, o projeto do Museu dos Povos Acreanos vem sendo alvo de diversas críticas nas redes sociais. O principal motivo é a acusação dos internautas de que o Estado estaria se preocupando mais com esse museu do que com os investimentos nas áreas “mais importantes”, como Saúde, Educação e Segurança Pública.

A obra é resultado das negociações do Governo do Estado com as operações de crédito do Banco Internacional de Reconstrução e Desenvolvimento (Bird), e veio da necessidade, divulgada pela equipe de Governo, de criar um novo equipamento de Cultura no qual a identidade acreana pudesse ser (literalmente) percorrida, sentida e apreendida de forma mais ampla.

As instalações do museu, com recurso de R$ 32 milhões, serão realizadas no antigo prédio do Colégio Meta, no Centro de Rio Branco. O imóvel, construído na década de 1960, também chegou a sediar o Colégio dos Padres. Já em 1978, veio a inauguração do Centro Educacional e Cultural Meta. Em desuso, a edificação protegida pela Lei 1294/99 do Fundo de Pesquisa e Preservação do Patrimônio Cultural do Acre foi desapropriada em 2016 para ser transformada no museu.

Após toda essa situação, a equipe da ContilNet entrou em contato com a atual presidente da Fundação Elias Mansour (FEM), Karla Martins, para que ela explicasse e destacasse os principais pontos da importância que esse museu representa para o futuro e para os outros pontos culturais do Acre.

De acordo com Karla, as verbas para as ações da FEM estão avaliadas em mais de R$ 40 milhões, que integram o total de R$ 1,05 bilhão destinado a todos os setores do Acre. Dentro do valor destinado à fundação, está o Programa de Valorização da Cultura, que irá revitalizar 20 espaços culturais acreanos.

Confira a entrevista:

Há quanto tempo a obra do Museu está em andamento?

A construção do Museu dos Povos Acreanos está nos planos de ação desde 2014, e desde o início esse lugar foi pensado no espaço do Colégio Meta. Durante nossos acordos com os Servos de Maria, nós verificamos como se encontravam as dependências do antigo Colégio Meta I, e estavam lá 32 moradores de rua. Também tiramos mais de 10 caminhões com entulhos após o processo inicial de limpeza do espaço.

Karla: “O Museu dos Povos Acreanos será sinônimo de interatividade”

Como funciona o conceito do ‘retrofit’ aplicado nessa construção?

Trata-se de um conceito que inclui a manutenção das características originais em combinação com elementos arquitetônicos da edificação antiga, incluindo esquadrias, pisos e características estruturais. A restauração sempre foi um elemento que nos interessou muito, pois cerca de 80, 90% daquele prédio está intacto. E ainda é um bônus tratar-se de um lugar que já está na memória coletiva da cidade de Rio Branco, bem como nas memórias afetivas de muitos acreanos que lá estudaram ou trabalharam.

O Museu será o único ponto cultural beneficiado no Estado?

Ao passo que fomos estruturando o Museu dos Povos Acreanos, voltaram à roda de debate as revitalizações dos outros espaços de cultura e memória do Acre. Sinceramente, não entendo a razão para tantas críticas relacionadas à construção desse espaço, já que não estamos diminuindo nenhuma verba de outras áreas (como acusaram alguns comentários nas redes sociais) para fazer esta obra.

Fora a construção do novo museu, quais outros pontos receberão as reformas e revitalizações?

Não apenas na Capital, mas em municípios como Brasileia, Xapuri, Sena Madureira e Cruzeiro do Sul, serão realizadas as reformas de espaços culturais que continuam a representar e integrar a identidade cultural do acreano. Entre os 20 pontos beneficiados, estão o Memorial Wilson Pinheiro (Brasileia), o Museu de Xapuri, o Museu de Sena Madureira, a Sociedade Recreativa Tentamem (Rio Branco), e as bibliotecas públicas estaduais Anselmo Marinho Lessa (Tarauacá) e Elomar de Souza Braga (Epitaciolândia).

O museu é pensado como uma integração entre as novas tecnologias e a ancestralidade que faz parte da história acreana, principalmente com os elementos da natureza?

O Museu dos Povos Acreanos será sinônimo de interatividade. Não podemos nos fechar para as possibilidades do mundo digital, é assim que pensamos os espaços desse museu: possibilidades da era digital para que os acreanos e os visitantes de outros Estados, ou de outros países, possam imergir nessa cultura amazônica. Pois essa cultura é um misto de novo, graças à tecnologia, e ancestral, graças ao elemento da natureza dentro do Acre.

Museu dos Povos Acreanos está sendo construído no espaço do antigo Colégio Meta

Como você avalia essas críticas feitas a essa nova aquisição cultural do Estado?

São bastante negativas, e mostram como muitas pessoas ainda não compreendem a real importância da Cultura. Os espaços de Cultura precisam estar vivos, pois eles são nossa própria vida. Gera-se um certo equívoco quando se compreende “cultura” exclusivamente como “expressão artística”. Realmente, a arte é uma das partes do conceito de cultura – talvez a mais estimulante –, mas é diferente de outras características dos aspectos culturais. Por exemplo: a Ayahuasca. É um componente cultural do Acre. Se existem duas coisas que destacam o Acre nacional e internacionalmente, são a Ayahuasca e Chico Mendes, duas vertentes da mitologia (e da cultura) acreana.

Essa falta de compreensão da importância cultural afeta diretamente a identidade cultural do Acre?

Com certeza! Como cidadã, eu também desejo Saúde de qualidade, Segurança, Educação… Mas eu também quero cultura! Quero que a identidade do nosso povo esteja acessível para quem não viveu nos primórdios do Estado. Quero que as pessoas de outros Estados ou países possam conhecer mais do Acre através desse museu. Não posso tirar essa vontade de mim nem dos outros. Não queremos tirar o brilho dos nossos outros pontos de Cultura, é justamente por isso que a construção do Museu dos Povos Acreanos vem junto com a restauração de 20 pontos com memória histórica e memória afetiva. Seria uma barbárie deixar que a Cultura de um povo se perdesse sem um centro que reúna as origens, o modo de vida, a expressão que é típica do acreano, seja na arte, na arquitetura, na culinária ou na produção da borracha. A cultura é feita por nós e representa parte de nossa história. Temos que celebrá-la e lembrar dela sempre.

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