18 de abril de 2024

Eleições 2018: “Quem tem maior rejeição pode tirar o cavalinho da chuva!”, analisa Agência Delta

A praticamente um ano antes das convenções que devem formalizar candidaturas em todo o país, pré-candidatos a cargos majoritários e proporcionais começam a se mexer para viabilizar suas intenções políticas. Nos barrancos dos rios, aldeias, comunidades isoladas, no restaurante mais popular, na TV, no rádio e pelas redes sociais, cada um vai tocando seu nome.

É do autor maldito, o ditador espanhol Francisco Franco, a afirmação de que, como fazia pesquisas, sabia que o povo estava a seu lado e não ia gastar dinheiro em fazer eleição. Embora de forma equivocada, Franco identificou um dos instrumentos que mais marcam as democracias modernas: a pesquisa eleitoral. Mesmo distante do pleito, esse recurso está na mesa de todos os pré-candidatos. Os mais fanáticos guardam este material debaixo do travesseiro, talvez para sonhar com o poder.

No Acre, a divulgação de números de duas pesquisas por dois institutos diferentes, com resultados antagônicos, foi o suficiente para espantar coligações que estavam em curso e até de ameaçar o agrupamento em torno de um único palanque na oposição.

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Quem está no governo leu os resultados, mas de forma estratégica não alardeou comentários. Contudo, um setor do PSDB desaprovou, outros partidos acharam bom, ruim, péssimo e até mesmo causou calafrios em algumas pretensões. Como em uma Copa do Mundo, cada correligionário, filiado e eleitor mais interessado pelo processo começou a espalhar receitas de vitória pelas redes sociais.

Até que ponto uma pesquisa é capaz de influenciar resultados de uma eleição, ou neste caso, de pré-candidaturas ao Governo do Estado e as duas vagas do Senado Federal?

A ContilNet ouviu especialistas em pesquisas no Estado do Acre que, em uma série de duas reportagens especiais, analisam os números coletados e debatem metodologias, o que cada pré-candidato ou partido deve fazer para utilizar as informações coletadas, a suposta influência dos dados nos resultados das eleições e como alguns institutos dizem a temperatura da opinião pública.

“Pesquisa é o retrato de um momento, não tem votos e não é fundamental para se ganhar uma eleição”, disse Francimar Façanha, proprietário da Agência Delta.

O especialista, com 12 anos de mercado, acumula acertos de resultados nas últimas eleições no Acre e na Amazônia. De cara, ele afirmou que uma pesquisa eleitoral que não respeita a densidade eleitoral estabelecida pelo TRE não pode ser considerada como séria.

“Tem que ser proporcional ao eleitorado, se Feijó, por exemplo, representa 5% do eleitorado, na minha pesquisa de campo eu tenho que entrevistar um número correspondente a esse percentual e assim sucessivamente”, comentou Façanha.

Ao analisar os dados coletados em maio de 2017 pelo seu instituto, Façanha dá a ‘receita’ para quem pretende se eleger governador ou senador no Acre. Ele também quebra os mistérios da pesquisa com intenção de votos para candidatura proporcional.

Veja na integra a entrevista de Façanha concedida ao jornalista Jairo Carioca:

Jairo Carioca – Qual metodologia você utiliza em suas pesquisas: de fluxo ou residencial?

Francimar Façanha – Eu trabalho com as duas, dependendo do que o cliente pedir. O método de residência é o mais seguro. No controle de fluxo eu posso não pegar, por exemplo, uma pessoa idosa aposentada, que eu preciso para completar o meu questionário, mas de residência em residência eu tenho a garantia do perfil exigido.

Jairo Carioca – A sua pesquisa ouviu 1.200 pessoas em 14 cidades. Como você priorizou esses municípios?

Francimar Façanha – Observando a maior densidade eleitoral. Os dados que eu coletei representam mais de 80% do eleitorado do Acre. Para eu saber se uma feijoada está boa, eu preciso de uma amostra [não da panela toda]. É uma questão de estratificar, fazendo esse trabalho bem feito, com uma equipe bem treinada, qualificada, obtemos os resultados de volta.

Jairo Carioca – Com base na sua experiência como pesquisador, a campanha majoritária está aberta? Os resultados justificam todo esse alvoroço de pré-candidatos, principalmente para o Senado Federal?

Francimar Façanha – O índice de ‘não sabe ou não respondeu’ é grande. As candidaturas não estão postas oficialmente, esse quadro pode mudar muito. Eu faço diagnóstico, não prognóstico. Daqui a dois meses o resultado de hoje pode ser diferente. O retrato é de momento. O cenário, embora tenha mudado alguns atores, é o mesmo de dezembro. Não existe campanha e nem movimentação.

Jairo Carioca – Nesse cenário de escândalos, algum partido leva vantagem? Como o eleitor se comporta ao responder os questionários?

Francimar Façanha – Veja bem, o eleitor tem dito que vota no candidato, ele não considera o partido. Tem um universo de eleitores que também esconde a sua intenção, nem diz que é oposição e nem situação.

Jairo Carioca – Um resultado muito questionado na sua pesquisa, principalmente por um setor do PSDB, foi o proporcional. O nome da deputada federal Jéssica Sales [PMDB] como a mais atuante intrigou adversários. O que é parâmetro em uma pesquisa como essa?

Francimar Façanha – Nessa avaliação para proporcional, costuma-se fazer a pedido do cliente. Mas tem um viés importante: A Jéssica Sales, que você diz que está sendo questionada, sempre será bem avaliada no Juruá. O peso dela em todos os municípios do Juruá é muito alto. Até em Feijó e Tarauacá ela é bem avaliada. Aí você pega o Angelim, ele é bem avaliado na Capital e em cidades do Baixo Acre. Essas questões regionais deixam esse cenário aberto. Para proporcional a avaliação não deve ser científica, tendo em vista que 50% dos eleitores não lembra em quem votou para deputado federal! Acaba ficando todo mundo nivelado.

Jairo Carioca – Qual a diferença entre as pesquisas espontânea e induzida? Em qual quadro o cliente deve confiar?

Francimar Façanha – A gente sempre pede que o eleitor cite dois nomes na [pesquisa] espontânea. Mas geralmente ele fala o que vem na lembrança. Quando você mostra o cartão é diferente, ele fica diante de um cenário, damos a opção de escolher. Eu confio mais nos resultados da pesquisa induzida porque o cidadão demonstra uma disposição de voto, não que esse voto esteja 100% confirmado, mas é, como diz a pesquisa, uma intenção.

Jairo Carioca – Qual o peso do resultado da rejeição em uma pesquisa. Quem tem maior rejeição deve ‘tirar o cavalo da chuva’?

Francimar Façanha – O pré-candidato deve se preocupar mais com sua rejeição do que com a aceitação. Imagine o Lula, que tem aparecido com 30% de aceitação, mas ao mesmo tempo, uma rejeição acima dos 45%. Como ele vai se eleger se precisa mais de 50% dos votos? Quem tem menos rejeição tem mais probabilidade de crescer. Quem tem maior rejeição pode ‘tirar o cavalo da chuva’.

Jairo Carioca – A pesquisa influencia no resultado final de uma eleição?

Francimar Façanha– Existem muitos estudos nessa área, isso é um debate nacional, mas eu posso te afirmar que o resultado praticamente não tem efeito sobre a vitória ou derrota de um candidato. O eleitor, quando se decide em votar em um determinado nome, dificilmente muda de opinião. A convicção o faz votar no seu candidato independente do lugar que ele apareça. Creio que afeta os indecisos, mas uma margem muito pequena.

Jairo Carioca – Pesquisa nesta época é para consumo interno. O que você orienta aos pré-candidatos de eleição majoritária no Acre?

Francimar Façanha – Pesquisa não é o critério. É um dos critérios. Precisa se avaliar todo um contexto. As coligações, o grupo que ele faz parte, com quem vai se unir. Os dados coletados são reflexos do que ele vai fazer para convencer a população que ele é o melhor candidato.

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