Analista político diz: “Racha na oposição é uma insanidade”

O cientista político José Denis, formado na primeira turma de Ciências Sociais da Universidade Federal do Acre (Ufac), também tecnólogo em Heveicultura pela Ufac e MBA em Pesquisa de Mercado pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), influenciado pelo saudoso professor José Mastrangelo, analisou o cenário político atual com base em uma pesquisa de intenções de votos que fez com 4.029 entrevistados nos 22 municípios do Acre.

Com 20 anos de experiência, Denis afirma que a pulverização partidária no Brasil influencia diretamente no comportamento do eleitor, que deixou de ser partidário para ser personalista.

“O mais politizado dos eleitores não sabe dizer o nome de vinte partidos. Que me perdoem os teóricos, mas política no Brasil não obedece mais ao critério da democracia ‘do povo para o povo’. O critério agora é a busca pelo poder ou algum benefício pessoal, nada mais que isso”, opinou o cientista.

 

Nessa busca pelo poder, Denis revela fatos que decidiram eleições no Acre e fala da evolução das campanhas políticas que, segundo ele, tornaram-se muito mais profissionais e sem espaço para achismo. “Quem acha, não está achando”, destaca.

Ele confirma que o senador Gladson Cameli (PP/AC) larga na frente nas intenções de votos para o Palácio Rio Branco ano que vem, mas assegura que nada está decidido e que ainda é muito cedo para dizer quem ganha.

“Se a eleição for entre Gladson Cameli e Marcus Alexandre, será uma parada muito dura. Hoje o Cameli ganharia, não tenho dúvidas, mas ainda falta mais de um ano para o pleito político”, analisou, ressaltando que pesquisas refletem o momento.

Ao falar do comportamento de pré-candidatos da oposição, principalmente na disputa pelas duas vagas para o Senado, Denis chama de insanidade a política feita por “caciques” e cobra um projeto alternativo que tenha como base os interesses da sociedade. Por outro lado, essa “guerra” por uma vaga majoritária nada mais é do que a necessidade de se manter na mídia e chegar às convenções com o nome em evidência.

“O pensamento é pessoal, o orgulho de cada um aflora cada vez mais, cada um quer vender o seu produto [imagem] pelo melhor preço, não vejo confluência por resultados melhores pensando no povo”, disse.

 

Na sede de sua empresa, em um charmoso escritório no bairro do Aviário, o cientista político chama atenção para o fim do financiamento de campanhas e a mudança de comportamento do eleitor.

“O candidato pode ter carisma e planejamento, mas se não tiver estrutura não vence uma eleição. E nesta época em que ‘os Joesley’ da vida não vão existir mais, é preciso pensar muito bem antes de se lançar uma candidatura, principalmente majoritária”, conclui.

Veja na íntegra a entrevista concedida ao jornalista Jairo Carioca:

Jairo Carioca – Há um ano antes das eleições, por que setores da oposição se destoam tanto? Principalmente quando têm conhecimento dos resultados de uma pesquisa e, estes, não respondem aos seus interesses?

José Denis – Politicamente nós temos um grande problema, que é a pulverização do sistema partidário. No Brasil existem mais de 40 partidos. Isso não significa dizer que temos 40 ideologias.

Que me perdoem os teóricos, mas a política nada mais é do que a busca pelo poder. E nessa busca o que temos são caciques, cada um pensando em seu umbigo, com pensamento pessoal e o orgulho aflorando cada vez mais.

Cada um quer vender o seu produto [imagem] pelo melhor preço, não vejo confluência por resultados melhores pensando no povo. Racha na oposição é uma insanidade, não é a política do ‘ganha-ganha’, mas a política do ‘perde-perde’.

Jairo Carioca – De que forma esses partidos e seus pré-candidatos poderiam aproveitar melhor essas informações. Você é a favor da divulgação de resultados de pesquisas?

José Denis – Eu sou contra a divulgação de pesquisas e digo isso com base nos meus 20 anos de experiência nesse mercado. Ora, pesquisa feita para partidos ou políticos é um instrumento estratégico. Deve servir para quando, onde e como agir em uma campanha política, entender o eleitor como ele age, como é influenciado e como decide.

Em uma pesquisa, pelo menos três premissas devem ser observadas: 1°) O que deseja conhecer; 2°) Para que deseja conhecer; e 3°) O que será feito. Se o que você pergunta não responder a esses critérios mínimos, não deveria ser perguntado.

Informação é poder, de posse de informações estratégicas, aja de forma estratégica. Trabalhei para um cliente que no máximo quatro pessoas tinham acesso irrestrito às informações.

Jairo Carioca – A pesquisa então é um instrumento fundamental em uma campanha política?

José Denis – As pesquisas quantitativas e qualitativas são imprescindíveis para as ações de planejamento e desenvolvimento de uma campanha política. Servindo para o candidato agir de forma “cirúrgica” durante o processo, evitando que se gaste energia e dinheiro onde não há necessidade.

Elas precisam obedecer um critério temporal entre pesquisa/ação e ao longo do processo se dispor do que chamamos de ‘base história’. A partir de agora teremos campanhas com muito menos recursos, portanto, carecem de precisão nas ações. É provável que não existam mais os ‘Joesleys’ da vida [risos].

Jairo Carioca – Nós já tivemos erros grosseiros cometidos por institutos de pesquisas em eleições no Acre, quando acreditar em um resultado de pesquisa?

José Denis – Eu trabalho com a metodologia que estatisticamente é a mais utilizada: a ‘Probabilidade Proporcional ao Tamanho (PPT)’. Também consideramos variáveis como sexo, faixa-etária, escolaridade, o fator econômico e até religião, pois é isto que diferencia uma pesquisa de uma enquete.

A Estatística é uma ciência exata, portanto, quando se julga que uma amostra pode ser muito pequena para um lugar, você pode aumentar e depois utilizar fórmulas matemáticas para ajuste de sua mostra total, obtendo os mesmos resultados e dispondo de informações mais seguras de toda área amostrada.

Nas pesquisas políticas aplicamos as residenciais ou em ponto de fluxo, entretanto, essa última deve ser rápida para que não sofra interferências externas. Dependendo do processo, também aplicamos “trackind”, onde diariamente dispomos de dados novos. Eu utilizo até “olheiro” nas pesquisas de fluxo próximas de uma eleição para evitar que eleitores estimulados por candidatos se ofereçam para entrevistas.

Jairo Carioca – Essa foi a maior pesquisa que o seu instituto já fez no Acre? O senhor considera o total de entrevistados seguro?

José Denis – Eu afirmo que é extremamente seguro. A nível de Brasil, os grandes institutos, com exceção do Data Folha, ouvem cerca de 2 mil pessoas. Eu ouvi 4.029 em todo o estado. Trabalho semelhante eu fiz em 2000, quando ouvi 5.000 pessoas em Rio Branco.

Nesta última amostragem, eu ouvi mais de 4 mil pessoas porque o objetivo era estratégico, não apenas o de aferir as intenções de votos, que nesse momento é secundário, a partir daí é importante alternar pesquisas maiores com outras menores por uma questão de custo.

Jairo Carioca – Como diferenciar os resultados de entre pesquisas espontâneas e estimuladas?

José Denis – Em todas pesquisas trabalhamos as duas perguntas. Eu considero o resultado de uma pesquisa espontânea mais seguro quando estamos próximos de uma eleição. O nível de definição por parte do eleitor, neste momento, é bem maior quando se pergunta: ‘Se a eleição para….fosse hoje, em quem o Sr(a) votaria? De pronto o entrevistado responde e simplesmente confirma quando é estimulado através de “disco”.

Distante do pleito, como agora, geralmente eles respondem o nome que vem à lembrança, de quem está sempre na mídia. Isso pode mudar e geralmente muda quando você apresenta um “disco” com nomes de possíveis candidatos.

Os votos que se repetem na [pesquisa] espontânea e estimulada são votos consolidados, identificamos aí o eleitor fiel, que é motivo de outra pergunta durante o processo.

Jairo Carioca – O senhor acredita que uma pesquisa pode influenciar no resultado final de uma eleição?

José Denis – Todo mundo que vive de política sabe que o eleitor acreano é extremamente politizado. Até os que não são bem informados dentro do seu nível de conhecimento e universo de convivência sabem de política.

Entretanto, distante de uma eleição essa influência é zero. Mais próximo, pode até influenciar uma parcela muito pequena de eleitores que continuam vagando. Aquela turma que não gosta de perder o voto e acaba votando em quem está na frente. Mais a rigor não existe comprovação científica dessa questão.

Jairo Carioca – Mas no Acre as últimas eleições têm sido de resultados apertados. Essa pequena influencia não pode ter contribuído para algum lado?

José Denis – Em 2000, na eleição para prefeito, tivemos uma das eleições mais acirradas. Os candidatos eram Angelim, Flaviano e Bestene. Eu acompanhei passo a passo. Na última semana a diferença chegou a 2,73% pró-Flaviano.

Eu me lembro que perguntamos ao eleitor se no dia da eleição ele se deparasse com um número grande de pessoas vestindo camisetas e usando bandeiras de um outro candidato (ainda podia), se ele mudaria o seu voto. Um percentual de menos de 1% disse que poderia mudar o voto.

O Ibope um dia antes divulgou pesquisa dando três pontos de vantagem para o Angelim. Quando abriram as urnas, o Flaviano venceu com três pontos na frente. Ou seja, a pesquisa do Ibope não influenciou. A nossa estimativa foi de apenas 0,17% dos números finais.

Jairo Carioca – o senhor disse que acompanhou passo a passo esse pleito. O que decidiu essa eleição?

José Denis – A diferença entre os candidatos chegou a ficar em 0,6%. A Frente Popular fez uma passeata grande, a maior da história até então, que fechou o centro da cidade. Instantes depois, divulgou-se que grande parte das pessoas que foram ao evento, vestidos de vermelho, eram servidores públicos que estavam ali obrigados.

Se isso foi verdade ou não, eu não posso afirmar, mas a partir daí a diferença voltou a aumentar em favor do Flaviano. A cidade vestiu vermelho e votou azul. Tem determinadas coisas na política que é difícil de explicar, o eleitor se deixa manipular até onde ele quer, na urna é ele e sua consciência.

Jairo Carioca – Até que ponto a rejeição é um péssimo sinal para uma candidatura majoritária?

José Denis – Em qualquer cenário o candidato precisa prestar atenção no nível de sua rejeição. Se ela ultrapassar os 45% a luz amarela apaga e acende a vermelha. Mas há casos, como o de Paulo Maluf – político mais rejeitado do país – que se consegue eleger.

A relação é inversa, na proporção em que essa rejeição diminui, maiores são as chances. Em algumas eleições de turno único, onde não há a necessidade de maioria absoluta (metade mais um), havendo muitos candidatos isso pode não ser determinante e sim a estrutura da campanha.

Jairo Carioca – Até que ponto a pesquisa proporcional pode ser considerada científica, ou seja, confiável?

José Denis – A pesquisa proporcional é relativa. Para ter indicativos que se passa a acreditar, é preciso sucessivas consultas, uma estanque não significa muita coisa. Existem os nichos em determinados lugares que, apesar de altos para aquela localidade, podem não ser suficientes para atingir o coeficiente eleitoral. Mais quando se verifica uma base eleitoral e uma abrangência, embora que pequena, em outros lugares é válida. Entretanto, citamos os que têm as maiores intenções de voto, quanto a se eleger depende da legenda do partido ou coligação, que a meu ver é injusto, embora seja a regra.

Jairo Carioca – O que o senhor diria para os pré-candidatos às eleições majoritárias no Acre?

José Denis – Quem tem informação tem poder. O cenário está aberto, tanto para a eleição de governo como a de Senado. Se a eleição for entre Gladson Cameli e Marcus Alexandre, será uma parada muito dura.

Hoje o Cameli ganharia, não tenho dúvidas, mas ainda falta mais de um ano para o pleito político, quem errar menos ganha. Para o Senado é a mesma coisa, despontaram na minha pesquisa o Jorge Viana e o Sérgio Petecão, mas ainda é muito cedo para dizer quem vai ganhar.

Um fato muda tudo na política. Quem tiver mais informações terá menos custo, na política hoje não existe espaço para o achismo, quem acha não está achando [risos]. Não faço pesquisa para agradar ninguém, faço para mostrar a verdade, isso sempre pautou meu trabalho e continuará sendo assim.

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