Opinião: De volta ao Brasil em que tudo acaba em pizza

Resposta da população à denúncia contra Temer será crucial para chamar o Congresso à responsabilidade de evitar uma erosão ainda maior da confiança na classe política, opina Francis França, editora-chefe da DW Brasil.O Brasil começou a semana com mais um marco negativo em sua história: pela primeira vez um presidente no exercício do mandato foi denunciado no Supremo Tribunal Federal (STF). E as acusações são graves.

Segundo evidências apresentadas pela Polícia Federal, Michel Temer manteve relação escusa com Joesley Batista, dono da empresa JBS, investigada na Operação Lava Jato. Teve encontros ocultos com o empresário, voou em seu jatinho particular, indicou um assessor de sua “mais estrita confiança” para tratar com a JBS – Rodrigo Rocha Loures, mais tarde flagrado com uma mala com R$ 500 mil em notas marcadas pela PF. E silenciou ao saber que Batista agia para corromper membros do Judiciário e do Ministério Público.

Dilma Rousseff foi deposta por muito menos. Mas isso foi numa época em que o Brasil ainda parecia zelar pelo respeito à Constituição e não tolerar manobras com o dinheiro público – ou pelo menos assim justificaram os membros do Congresso o impeachment da ex-presidente. Agora parece que voltamos ao Brasil em que tudo acaba em pizza.

Presidente Michel Temer. Foto: Reprodução

Aliados do governo na Câmara já sinalizaram que vão blindar Temer, não importa quantas provas sejam apresentadas contra ele. Com isso, dão razão ao procurador-geral da República, Rodrigo Janot, ao qualificá-los de “organização criminosa que opera para a prática dos crimes investigados”.

A defesa de Temer, em vez de explicar como o presidente da República pôde manter laços obscuros com um empresário a quem o próprio Temer chama de “bandido notório”, pretende partir para o argumento ad hominem e desqualificar Janot.

A desfaçatez com que o governo menospreza evidências contra si cria uma atmosfera tóxica entre a opinião pública, e a impunidade pode empurrar os brasileiros para um perigoso sentimento de “qualquer coisa é melhor do que o que está aí”. É neste estado de espírito que se exacerbam radicalismos, floresce o populismo e acaba-se enfraquecendo a própria democracia.

A resposta da população neste momento será fundamental para chamar o Congresso à responsabilidade de evitar uma erosão ainda maior da confiança na classe política. O Brasil não pode aceitar ser comandado por políticos acusados de corrupção.

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