Caso da reserva na Amazônia foi desrespeito ao direito à informação

Uma grande trapalhada caracterizou a extinção da Reserva do Cobre na Amazônia brasileira. Como se vivesse num esconderijo, de surpresa o governo baixou um decreto atingindo um tema supersensível, causando o maior reboliço no ambientalismo. Desprezou a opinião pública em plena era da democracia digital. Quebrou a cara.

O próprio presidente Temer se esforçou, em vídeo oficial, para dizer que o governo estava sendo mal interpretado. Nenhuma reserva ambiental havia sido extinta, argumentou. Tinha ele certa razão, mas ninguém acreditou. Correndo atrás do prejuízo, apareceu nesta 2ª feira (28.ago) um novo decreto para substituir o primeiro.

Escalado para dar as devidas explicações, o ministro do Meio Ambiente, que antes nem soubera do caso, deixou claro que a eventual exploração de minérios na área em questão será expressamente impedida nas 8 unidades de conservação lá existentes. Melhor assim.

Era, porém, tarde demais. O ataque na imagem do governo brasileiro se alastrou mundo afora. Mesmo sem conhecer direito o assunto, pessoas famosas faziam coro contra a “devastação” da Amazônia, inundando a rede com severas críticas ao governo federal. Mereceu a paulada. Foi colossal o erro de comunicação do governo.

A má informação, anteriormente, contava com a ajuda do tempo, relativamente lento, para ser solucionada. Notas explicativas valiam a pena. Agora, com os botões on-line das redes sociais trazendo espantosa rapidez às notícias, quando estas saem tortas dificilmente se consegue endireitá-las. Daí para se transformarem em fake news falta apenas uma pitada de maldade política. Tempero que sobra por aqui.

Credibilidade. Esta é a palavra mágica que opera no mercado digital da informação. Como a sociedade, regra geral, não acredita mais nos políticos, e muito menos no governo Temer, qualquer coisa que se anuncie recebe alta dose de desconfiança. Tem maracutaia nisso, logo se pensa. Se é nobre a causa afetada, como a defesa da Amazônia, todos se sentem imediatamente atingidos, e se ouriçam famosas personalidades que adoram aparecer nessas horas. Adeus racionalidade.

Abaixada um pouco a poeira, mais tranquilos todos nós que imaginávamos o pior, do episódio fica a lição. Não dá mais para governar com atos apressados e obscuros, decisão entre 4 paredes. Acabou o conchavo, os esconderijos do poder. Tudo agora se sabe, se descobre; tudo vaza, cai na rede. A transparência na gestão pública, além de obrigação ética, tornou-se um imperativo da sociedade contemporânea.

No fundo, não aconteceu bem um lapso de comunicação. Houve, sim, um tremendo equívoco político: o governo desrespeitou o direito à informação de seus cidadãos. Agiu como no século passado, ignorando os princípios da sociedade conectada, que quer saber das coisas, quer opinar. O governo decidiu sozinho. Depois, não encontrou ninguém para defende-lo. Apanhou feio.

Valorizar e consultar seus stakeholders faz parte da gestão empresarial avançada, ditada pela sustentabilidade, com rastreabilidade na cadeia produtiva. Qualquer dano de imagem, caem suas ações na Bolsa.

Semelhantemente, a boa governança pública no século 21 também deve se desenrolar de forma colaborativa, chamando parceiros não-governamentais, compartilhando decisões. Ao querer resolver sozinho, e escondido, o problema da mineração na Amazônia, o governo expôs sua maior fraqueza: seu distanciamento da sociedade.

Autor
Xico Graziano, 64, é engenheiro agrônomo e doutor em Administração. Foi deputado federal pelo PSDB e integrou o governo de São Paulo. É professor de MBA da FGV e sócio-diretor da e-PoliticsGraziano. Autor de 10 livros.

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Caso da reserva na Amazônia foi desrespeito ao direito à informação