“Olhou para nós como se estivesse sendo arrastada pela correnteza para o vazio do oceano, iria se afogar, afogar-se no esquecimento. Assustada, surpresa por não se lembrar, coisas simples. Era um exercício sobre-humano remar de volta.”
O trecho acima, do livro autobiográfico “Ainda Estou Aqui”, do autor Marcelo Rubens Paiva, retrata a luta da mãe do escritor com a doença degenerativa conhecida como Mal de Alzheimer. Nesta quinta-feira (21), celebra-se o Dia Mundial do Alzheimer, que busca trazer conscientização sobre a doença e seus tratamentos.
Ayres Rocha, de 55 anos, profissional do jornalismo acreano há 30 anos, relatou em entrevista exclusiva à equipe do site ContilNet que sua mãe, Raimunda de Souza Rocha, de 87 anos, foi diagnosticada há pouco mais de um ano com o mal de Alzheimer. “Começou com perguntas repetitivas, dúvidas relativamente simples do dia a dia. Mas quando isso começou a adquirir certa frequência, nós a encaminhamos para exames onde nos apresentaram que, infelizmente, ela estava nos estágios iniciais da doença”, disse Ayres.
Desde então, mudanças significativas foram estabelecidas para cuidar da matriarca da família. Duas cuidadoras – uma para o período do dia e outra para o período da noite – foram contratadas, e os irmãos (seis, no total) revezam-se para visitar diariamente a mãe.
“Cada dia é uma inconstância. Ela já chegou até a me confundir com meu tio na TV! Mas família é sempre acima de tudo. Paciência acima de tudo também. Minha mãe nos criou da melhor forma possível, e o mínimo que podemos fazer é retribuir.
O QUE É O MAL DE ALZHEIMER?
Trata-se de uma doença de lenta e progressiva evolução, que destrói as funções mentais importantes, levando o paciente à demência – termo usado para indicar que o indivíduo perdeu suas capacidades de raciocínio, julgamento e memória, tornando-se dependente de apoio nas suas atividades diárias.
Segundo a Organização Mundial de Saúde, a doença afeta cerca de 28 milhões de pessoas em todo o mundo, sendo 1,2 milhão de casos apenas no Brasil (de acordo com a Abraz – Associação Brasileira do Alzheimer). E a estimativa é que o número global salte para 66 milhões em 2030.
Hoje, não há um exame específico que diagnostique a doença. No caso do Alzheimer, para descartar a possibilidade de outras doenças, são usados exames do líquido cerebrospinal (ou líquor, normalmente retirado da lombar) e tomografia computadorizada ou ressonância magnética.
O problema é que nem sempre o resultado é claro ou rápido, o que traz sensação de insegurança e incerteza aos pacientes. Mas pesquisas recentes – como a dos cientistas da Ufscar (Universidade Federal de São Carlos) apostam em biomarcadores, especificamente no ADAM10, proteína que pesquisas têm relacionado ao quadro degenerativo.