CPI de câmara municipal apura se empresas inflaram gastos para subir tarifa de ônibus

As garagens de empresas de ônibus do Rio revelam-se como ponto de encontro de duas frentes de investigação contra empresários do setor. Citadas na denúncia na Operação Cadeia Velha como o local da coleta de dinheiro cobrado dos passageiros e transformado em propina paga a deputados estaduais, as garagens são também um dos mais importantes achados na CPI dos Ônibus da Câmara Municipal. Os vereadores colheram provas de que esses locais são usados para fraudar a contabilidade das empresas, inchar os gastos operacionais com simulações de aluguéis e inflacionar o preço das passagens.

Convencidos de que há mais pontos de convergência entre as duas investigações, quatro integrantes da CPI foram na quinta-feira ao procurador-chefe da Procuradoria Regional de República do Rio (PRR-2), José Gomes Ribeiro Schettino, acertar uma agenda em comum. Eles querem o compartilhamento das provas de que as empresas BKR Viagens e Turismo e PJ3 Empreendimentos Imobiliários, ambas pertencentes à família do vereador Thiago K. Ribeiro (PMDB), foram usadas no esquema de corrupção da Alerj, como destinatárias da propina.

A operação Cadeia Velha, responsável pela prisão dos deputados Jorge Picciani, Edson Albertassi e Paulo Melo, todos do PMDB, denunciou que a propina era paga para que as empresas de ônibus intermunicipais tivessem interesses atendidos na Alerj, como isenções fiscais, aumento de tarifas, retenção de créditos oriundos do Riocard, entre outros. A CPI da Câmara suspeita da existência do mesmo esquema nas linhas municipais.

Vereador Tarcísio Motta preside a CPI dos Ônibus/Foto: Márcio Alves/Agência O Globo

Os vereadores já sabem, com base na investigação da CPI, que ao menos três empresas pertencentes a Jacob Barata Filho e seu filho David Ferreira Barata foram usadas em suposta manobra contábil para inflar os preços das tarifas municipais. As garagens, que inicialmente pertenciam às empresas, ganharam personalidade jurídica própria e passaram a cobrar aluguéis elevados pela guarda dos ônibus. O esquema fez subir os custos operacionais, com consequentes efeitos nos cálculos do valor das tarifas.

As três empresas dos Barata, que integram os consórcios que operam as linhas municipais, são: Viação Nossa Senhora das Graças, do consórcio Intersul; Viação Verdun S/A, do consórcio Internorte; e a Transurb, do consórcio Intersul, cujos CNPJs fazem parte de uma ampla sociedade de empresas representadas pela família Barata. O GLOBO teve acesso a um e-mail enviado por Jacob Barata a um funcionário da Rio Ônibus com uma planilha dos custos dos aluguéis. Apenas da Transurb foram pagos R$ 24,3 milhões em aluguéis nos últimos sete anos. Outro documento mostra que a Verdun S.A desembolsou R$ 26 milhões em aluguéis no mesmo período.

— Esses contratos de locação de garagem provam que há uma maquiagem nos custos da operação do sistema de transporte. Falsas despesas como esta mascaram o lucro das empresas e apontam para indícios de fraudes — afirma Tarcísio Motta (PSOL-RJ).

Outras frentes serão abertas com o compartilhamento de provas. Jorge Luiz Ribeiro, que está preso, sob a acusação de ser o principal operador de Picciani, é pai do vereador Thiago K. Ribeiro. Na Cadeia Velha, também aparece o nome da diretora do Centro Cultural da Câmara Municipal do Rio, Marcia Rocha Schalcher de Almeida, que teria facilitado a entrega de propina quando atuava como gerente do Bradesco e administrava as contas mantidas por Picciani e Ribeiro, além de algumas empresas deles e de contas de terceiros utilizadas para depósito.

Filho de Marcia, Matheus Schalcher de Almeida doou RS 40 mil para a campanha do vereador Thiago K. Ribeiro (PMDB) no ano passado.

Outro lado

Em nota, a defesa de Jacob Barata Filho afirmou que os gastos com as garagens não entram no cálculo da tarifa: “A fórmula contratualmente prevista para reajustar a tarifa é calculada com base na variação do preço do óleo diesel, dos pneus para ônibus, dos ônibus, chassi com motor e carroceria, da mão de obra e das despesas gerais (item que não inclui aluguel com garagem ou investimentos em garagem própria)”. O Rio Ônibus também disse que os gastos com garagens não fazem parte do cálculo. Marcia Schalcher negou qualquer envolvimento com os clientes Jorge Luiz Ribeiro e Jorge Picciani:

— Eu só era gerente de uma agência. Era apenas um cliente sentado à minha mesa. Essa entrega de dinheiro nunca aconteceu. Jorge Luiz nem era meu cliente em 2011, época da denúncia.

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