“Aqui a guerra é entre traficantezinhos baratos revestidos de líderes criminosos”, diz Walter Prado em entrevista

O ex-diretor de Polícia Civil no Acre, Walter Prado, que na década de 90 implantou até então o mais eficiente programa de combate após a existência do temido Esquadrão da Morte, falou com exclusividade ao portal ContilNet em relação à onda de assassinatos que vem aterrorizado a sociedade acreana.

Sem meias palavras, Prado credita a onda de crimes à ineficiência do Estado e a falta de pulso das autoridades em Segurança Pública. Por isso diz que o principal responsável pelo caos instalado nas últimas duas décadas é o Partido dos Trabalhadores, que não foi capaz de prover de maneira eficiente os programas sociais voltados para a Juventude e nem fomentou atrativos para novas indústrias e geração emprego para a sociedade.

Depois de algum tempo afastado por questões de saúde, Walter Prado está de volta/Foto: reprodução

O “xerife”, como ficou conhecido pela população, foi eleito três vezes deputado estadual e se afastou no terceiro mandato para tratar um câncer. Jogador de futebol, ele deixou o município de Tarauacá em meados da década de 70. Pouco tempo depois, tornou-se o parlamentar mais jovem da história (aos 21 anos), quando se elegeu deputado estadual nas eleições de 1978. Em 1982, foi candidato a vice-governador na chapa do então senador Jorge Kalume.

Prado se formou em Direito pela Universidade Federal do Acre (Ufac) e ingressou no serviço público como delegado de polícia. Depois de algum tempo afastado por questões de saúde, Walter Prado está de volta.

Confira a entrevista:

Como o senhor avalia esse atual cenário de roubos e assassinatos no Acre?

Na verdade, esse caos aí é por pura incompetência de quem está à frente do Comando das forças da Polícia. Eles reclamam que não têm dinheiro para aparelhar as forças de Segurança, mas isso é mentira. Dinheiro veio e muito. Hoje as delegacias estão todas sucateadas.

Nós temos uma boa Polícia, os nossos homens são os mais preparados do Brasil para combater a criminalidade, mas de que adianta você ser um bom jornalista, por exemplo, e não ter um veículo, condições de mostrar o seu trabalho? Os policiais precisam de condições e isso eles não têm.

Para onde foi o dinheiro que veio da Dilma? Do Lula? Do Temer. Embolsaram tudo, meu amigo! A sociedade vive à mercê dos bandidos e o dinheiro sumiu. Os papéis se inverteram. A sociedade, com a onda de violência que aí está, vive no lugar do presidiário em um regime semiaberto. De dia o cidadão são sai para trabalhar e a noite tem que ficar dentro de casa preso, com medo de ser assaltado ou assassinado.

O senhor fala em combater a criminalidade tirando os marginais das ruas, mas a polícia reclama das audiências de custódia, que no dia seguinte às prisões já coloca esse suposto bandido nas ruas. O que fazer?

São prisões malfeitas. Digo mais, existe um dispositivo na Lei de Contravenções penais que você pode segurar o bandido por 15 dias preso. Daí você trabalha esse bandido, investiga ele. Se encontrar qualquer indício de que esse sujeito é perigoso, aí você pede a prisão temporária e “apertando” esse sujeito ele vai soltar muita coisa, daí você tira ele das ruas por um bom tempo e joga ele lá na penal, que é lugar de quem não presta.

Quando o senhor era diretor de Polícia Civil foi criado aqui no Acre a Força Tarefa, o senhor tem ideia porque esse modelo de Segurança Pública acabou?

Simples. Falta de interesse do Estado em dar sossego à população no que diz respeito ao combate ao crime! Fui eu na época também que criei o Grupo Antiassalto da Polícia Civil (GAPC) e bandido não tinha vez não, meu amigo! Lugar de bandido, ladrão e assassino é na cadeia.

Hoje bandido aqui no Acre ri da cara da polícia e ainda esnoba que se prender ele no dia seguinte ele tá roubando, matando e estuprando de novo. Isso é um absurdo. O governo perdeu a vergonha na cara e o policial que trabalha sem condições acabada coitado, vivendo envergonhado também.

No ano passado aconteceram quase 500 assassinatos e a Polícia diz que a maioria desses crimes são originados pelas guerras entre facções. O que o senhor pensa sobre essa afirmação?

É mais uma mentira do Estado para justificar a falta de competência para solucionar os crimes. De todas essas mortes, não foi só bandido que morreu, não! Teve muita gente de bem. A polícia diz que os crimes são entre essas fações, mas é porque eles não têm competência de solucionar. Só dizem isso para dar uma satisfação à sociedade. Não existem fações e crime organizado. Isso é fruto da inoperância do Estado para solucionar os crimes e criaram isso para amedrontar ainda mais quem quer viver em paz.

Então o senhor acredita mesmo que não existem facções criminosas no Acre?

Meu amigo Salomão, uma organização criminosa não quer ver sangue no asfalto. Sangue no asfalto é sinal de polícia investigando e isso se tivesse eles não iriam querer. Esses assassinatos são de jovens, adolescentes, usuários de drogas e donos de bocas de fumo.

São todos jovens envolvidos com o tráfico, sabe por quê? Porque no Acre em 20 anos nunca se deu oportunidade na geração de emprego, programas sociais para tirar essa juventude da bandidagem.

Sem emprego, claro, essa garotada vê no tráfico a maneira fácil de ganhar dinheiro e entrar no crime, meu irmão! Facção tem no Rio de Janeiro e esses outros grandes centros. Aqui a guerra é entre traficantezinhos baratos revestidos de líderes criminosos. Crie-se uma Força Tarefa e em dois tempos essa bandidagem acaba.

Então o senhor diz que se a Força Tarefa voltar essa onda de violência e assassinatos vai acabar?

Eu não tenho nem dúvidas. Realizando operações nos Primeiro e no Segundo Distritos simultaneamente de quinta a domingo. Coloca na cadeia tudo que ‘tá’ na rua e que não presta. Investiga esses marginais e, se houver antecedentes, joga lá na penal que eu quero ver.

Outra moleza que tem que acabar é com a mordomia dos presos. Hoje é muito bom para o bandido. Aqui fora ele pinta e borda e, se vai para a penal, lá ele tem do bom e do melhor. Comida boa, colchão do melhor, visitas íntimas, celular com internet, TV e ainda ganha mais que um salário mínimo de auxílio reclusão por estar preso e ser bandido sustentado pelo cidadão de bem.

Preso é preso e tem que trabalhar para se sustentar. Se não trabalha não come. Mas desse jeito aí, quem não quer ser preso ou virar bandido? Isso tem que mudar, meu amigo.

A secretaria de Estado de Segurança Pública emitiu nota de repúdio contra as declaração de Walter Prado, veja abaixo a nota na íntegra:

A Secretaria de Segurança Pública e a Secretaria de Polícia Civil vêm de público externar seu repúdio às recentes declarações do Delegado aposentado Walter Prado.

Todos sabemos da complexidade das questões ligadas á Segurança Pública. Sabemos também que atravessamos um momento bastante delicado em que os índices de criminalidade e a sensação de insegurança tiram o sossego de toda a população brasileira, inclusive dos operadores e gestores da Segurança.

Semear ilusões nesta área é de uma irresponsabilidade tamanha, de um oportunismo barato e de uma falta de compromisso social que sequer merece consideração.

Mas, por se tratar de um delegado aposentado e de um ex-parlamentar (com pretensões para o próximo pleito eleitoral de acordo com o noticiado na imprensa local), as declarações merecem contraposição.

Dizer que é possível “segurar” um preso por 15 dias para “apertá-lo” é de um desconhecimento jurídico que beira a infantilidade.

Os tempos são outros as soluções mágicas já não surtem os mesmos efeitos.

Apesar de vivermos em extensa faixa de fronteira que é disputada pelo crime organizado, nossas polícias têm se destacado pela honestidade, pelas prisões, pelas operações e pelo comprometimento.

Aliás segundo levantamento recente divulgado nacionalmente somos o segundo Estado da Federação que mais prende, de acordo com índice calculado pelo número de pessoas presas para cada grupo de 100 mil habitantes.

Todos nós queremos um Acre melhor.

Querer fazer uso de impropérios ou de falácias para ludibriar a opinião pública evidencia falta de caráter e oportunismo político.

Reafirmamos nosso compromisso com a Segurança Pública e com a população acreana.

Com o apoio de todos temos a certeza de que o bem vencerá o mal.

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“Aqui a guerra é entre traficantezinhos baratos revestidos de líderes criminosos”, diz Walter Prado em entrevista