Quando o jornalismo legitima uma farsa, presta enorme desserviço ao cidadão

O joio e o trigo

No jornalismo, a experiência proporciona, entre outras vantagens, a capacidade de vislumbrar um embuste disfarçado em uma notícia que se pretende alvissareira. Exemplifico: dias atrás, alguns veículos de comunicação local alardearam, como um feito, a existência de mais de cinco mil empresárias em Cruzeiro do Sul.

Engodo

Os dados, divulgados pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), na última sexta-feira (16), tencionavam passar ao público a ideia de que presenciamos um acontecimento a ser comemorado por sua grandeza. Tolice pura.

Patuscada

A notícia veio a público por ocasião do Mês das Mulheres, em forma de homenagem àquelas que agora se dedicam aos negócios próprios. Um site de notícias local, subjugado pela versão oficial, endossou a patuscada, reproduzindo o ufanismo da gerente da entidade, Laís Mapes, que “destacou o novo momento vivido por muitas mulheres da região”.

Jornalismo irreflexivo

O que o Sebrae não revelou, e nem os jornalistas que reproduziram a notícia tiveram o cuidado de checar, é que o aumento do número de empreendedores, seja em Cruzeiro do Sul, na capital ou em qualquer outro município do estado, decorre da crise que achatou a economia e empurrou à informalidade milhares de pessoas em todo o Acre.

Questão econômica

A despeito da tímida recuperação da economia, com incremento de vagas no mercado de trabalho formal, a desaceleração do desemprego se deve, em parte, ao crescimento da informalização. Isso significa que quem perdeu o emprego com carteira assinada passou a empreender por conta própria, com o apoio ou não do Sebrae.

Dados oficiais

Segundo o presidente da Associação Comercial do Alto Juruá (Acaj), Assem Cameli, em avaliação feita no ano passado, a crise econômica gerada nos governos de Luiz Inácio e Dilma Rousseff pulverizou, entre 2015 e 2016, cerca de 20% dos empregos com carteira assinada no setor do comércio de Cruzeiro do Sul.

Retrato da realidade

Esse contingente, segundo o empresário, não conseguiu realocação no mercado de trabalho. E a única saída dos demitidos foi trabalhar por conta própria, em pequenos empreendimentos ou de forma autônoma.

Dados do IBGE

Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), as vagas com carteira assinada em 2017 somaram 33,3 milhões – uma queda de 2% (ou 685 mil pessoas a menos) em relação a 2016. Na outra ponta, trabalhadores por conta própria engrossaram as estatísticas em 4,8%, ou 23,1 milhões de pessoas a mais que o ano anterior.

Ressalva

Longe de querer depreciar o trabalho do Sebrae, a dedicação dos seus funcionários e a importância de sua atuação, sobretudo para os micro e pequenos empresários, não dá pra avalizar o otimismo de uma contabilidade que está longe de ser motivo de regozijo.

Omissão

Ao retratar um município, cuja população em 2017 foi estimada pelo IBGE em 82,6 mil habitantes, como uma espécie de nicho do empreendedorismo feminino, uma vez que cinco mil mulheres optaram pelo trabalho autônomo, o Sebrae, lamentavelmente, omite as verdadeiras razões por trás desse fato. E esse não deveria ser o papel de uma instituição tão respeitável e reconhecidamente produtiva.

Avesso do avesso

O mesmo raciocínio se pode utilizar em relação a matéria reproduzida neste portal sobre o pagamento do Bolsa Família do mês de março, que será realizado até o dia 29. O montante de beneficiados (88.148 famílias) é sugerido como uma distinção, já que acrescida pela notícia de que no Acre os favorecidos recebem o maior valor médio pago pelo programa.

Questão de lógica

Se pararmos pra pensar, o fato de haver tantas pessoas dependentes do programa social é a mais pungente demonstração de que as políticas públicas, mesmo após duas décadas de vianismo, falharam em sua tentativa de minorar os efeitos da miséria. Muito pelo contrário, no Acre se aprofundou o fosso a separar a minoria de ricos da horda de miseráveis engrossada pelo desastre econômico produzido pelos companheiros no poder.

Carimbo do fracasso

Tal qual no caso do Sebrae, o jornalismo louvaminheiro tratou de edulcorar a notícia com as tintas do triunfo, quando na verdade os fatos revelam o fiasco das políticas públicas implementadas pelos governos de Jorge Viana, Binho Marques e Tião Viana.

Assessores de imprensa

A propósito, jornalismo é coisa bem diversa de assessoria de imprensa. No Acre, os veículos de comunicação, salvo exceções, se tornaram, há duas décadas, porta-vozes dos das vontades dos governos do PT.

Perdas e danos

O ex-deputado João Correia (MDB) recorreu ao Facebook para lamentar a ‘perda’ do correligionário e prefeito de Cruzeiro do Sul, Ilderlei Cordeiro, que optou por apoiar o senador Gladson Cameli, pré-candidato ao governo pelo Progressista.

Dos males, o menor

Além de dizer que Ilderlei se mostrou desleal ao padrinho político, o ex-prefeito Vagner Sales, responsável por eleger o pupilo como seu sucessor, acrescentou que dos males o menor: antes sem Ilderlei na chapa de Ulysses que Sales na aliança de Gladson.

Mala e cuia

Ilderlei, por sinal, vai deixar a sigla pela qual se elegeu depois de supostamente ter sido ‘convidado’ a fazê-lo por Vagner, com quem acabou por romper. Vai para o Progressista com mala e cuia.

O tempo cura tudo

Ainda anuviado, o ambiente na oposição deverá se aclarar com o passar do tempo, a despeito das arestas e ranhuras. É o que indicam a manifestação do pré-candidato ao Senado pelo MDB, Marcio Bittar, o relato no WhatsApp por parte da advogada Ana Paula Cameli, esposa de Gladson, e a nota deste último, dirigida aos emedebistas, em tom conciliatório.

De estarrecer

São graves as denúncias feitas por uma servidora concursada que trabalha na Organização Central de Atendimento (OCA) sobre a decisão de se reduzir de 8h para 6h o atendimento ao público.

Bancarrota

A medida que muda o horário de atendimento na OCA passa a vigorar a partir de abril, e tem por objetivo, segundo a assessoria de imprensa do governo, economizar os recursos públicos.

Resultado pífio

A servidora que criticou a decisão argumenta que ela fere os direitos do cidadão. E alega ainda que a medida resultará na mísera economia mensal de R$ 90 mil.

Manobra

Justamente por isso, a denunciante, que não quis se identificar por razões óbvias, assegura que a mudança não passaria de uma estratégia para promover a demissão em massa de funcionários da OCA, com base no argumento da diminuição do número de atendimentos.

Coletiva

A Secretaria de Comunicação do governo não quis comentar as declarações da servidora. Limitando-se a informar que nos próximos dias o governo dará uma coletiva de imprensa para tratar sobre o assunto.

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