Vigilância
Depois do preço, consultar o prazo de validade antes de pegar um item da prateleira e colocar no carrinho é hábito comum a quase todos os chefes e chefas de família. Não é difícil localizar as informações nutricionais, data limite para consumo e indicações de armazenamento no rótulo do produto. Mas, nem sempre foi assim e a regulamentação que obriga que constem os dados, Resolução RDC 259/02, é de 2002, estabelecida pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
Antes disso, segundo a pesquisadora e nutricionista do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec), Ana Paula Bortoletto, “existe uma lei de 1977 que proíbe a comercialização de produtos com prazo de validade expirado e uma de 1998 que faz determinações sobre rotulagem, mas não fala de prazo de validade”. Segundo Ana Paula, há 50 anos ou mais a validade dos alimentos não estava em evidência como hoje em dia.
Se no passado a omissão da informação podia não ser notada, com a regulamentação de 2002 a multa para a comercialização de produtos vencidos ou alteração do prazo de validade pode chegar a R$ 1,5 milhão, segundo informou a Anvisa. Desde 2008, as promoções que provocam correria nos corredores do supermercado são obrigadas a informar se o motivo é o prazo de validade próximo, contou Ana Paula. E, desde 2011, o consumidor que encontrar um produto vencido à venda, pode exigir outro gratuitamente no estabelecimento, completou.
O vencimento dos alimentos, segundo informou a Anvisa em nota, é estabelecido pelo próprio fabricante e fiscalizado pela Agência. Qual é o critério? Ana Paula explicou que são feitos testes para a observação de em quanto tempo começam a ocorrer mudanças microbiológicas, enzimáticas e químicas no produto. “Não existe nenhum feitiço que faça à meia noite e um do dia do vencimento o produto se estragar”, esclareceu a professora do curso de nutrição do Centro Universitário Senac, Gislaine Andrade. A data é estipulada com uma “margem de segurança”, segundo ela.
Gislaine cogitou a possibilidade de um alimento estar em condições de consumo no dia seguinte ao vencimento, por exemplo. Mas isso vai depender de como foi armazenado, da situação da embalagem e da perecibilidade em si, disse Ana Paula. Alguns alimentos não apresentam mudança de sabor e cheiro, mas podem causar intoxicação alimentar. Entre os perecíveis, os lácteos são os que estragam com mais facilidade, segundo as nutricionistas.
Sucos naturais
Um suco de laranja, por exemplo, do ponto de vista de vitamina C, deve ser consumido em 15 minutos, contabilizou Gislaine. “Nunca ultrapasse meia hora”, recomendou. O risco de causar malefícios à saúde é pequeno, porém, a bebida perde todos os nutrientes, sofre alteração de sabor, surge amargor e acidez
Carnes
Estão entre os alimentos mais perecíveis, pela alta concentração de água. A deterioração acontece, principalmente, por bactérias, disse Gislaine. “A carne começa a se deteriorar a partir do abate. Resfriada ela tem validade de 72 horas”, disse. As mais gordurosas podem ficar rançosas, com gosto de sabão em pouco tempo, alertou. Uma saída, é o congelamento: “é bastante seguro, desde que seja feito de forma rápida. Pode ficar até três meses no congelador em boas condições”. Manter por mais do que 90 dias no freezer provoca a formação de cristais e a carne fica borrachuda, segundo a nutricionista. “Ela queima e perde a água”.
Outra solução para a pericibilidade das carnes é comprar o alimento embalado a vácuo. “A ausência de oxigênio dificulta o desenvolvimento de bactérias e permite que a carne dure, com a embalagem integra, 30 dias na geladeira”, contou.
Frutas, verduras e hortaliças
A Anvisa informou que não é exigida a indicação do prazo de validade para os alimentos. De acordo com Gislaine, a conservação deve ser feita sempre em refrigeração. “Na geladeira, sabemos que aguenta até cinco ou sete dias, mas é preciso avaliar as condições de armazenamento e a situação individual de cada alimento”, explicou.
Pães de forma
O maior problema dos pães, produto altamente perecível, segundo Gislaine, é que a alteração pode não ser visível ou palatável. Mesmo sem o bolor estar aparente, o produto pode ter alterações após o prazo de validade, que é, em média, de 10 dias. Depois de aberto, o pão deve ser consumido em três dias, segundo Gislaine. “Se colocar na geladeira, ganha dois ou três dias a mais do que a validade. Congelado, dura mais 30 dias”, contou.
Ovos
“Tem indicação para serem conservados em geladeira. Em refrigeração, eles têm durabilidade de até 20 dias”, disse Gislaine. Porém, o prazo só deve ser considerado se os ovos estiverem armazenados da forma adequada.
Iogurte
A nutricionista Gislaine apontou o iogurte como um dos principais produtos que estragam por armazenamento inadequado. Fechado, algumas marcas estipulam a duração de 30 dias ou mais. Após aberto, deve ser consumido, no máximo, em 72 horas, se ficar em refrigeração, disse ela. “Não dá para garantir a higiene e qualidade em que ficará na geladeira. Geladeiras mais vazias conservam melhor, mas tem gente que a deixa abarrotada de coisas, então, pode estragar antes”, disse.
O problema pode começar já na chegada do produto ao supermercado, segundo Ana Paula. A demora entre o descarregamento e a instalação do iogurte à temperatura adequada já provoca alterações microbiológicas. “O iogurte precisa ser mantido e transportado sempre a 10°C”, determinou. Umas das alterações visíveis é a embalagem estufada, pelo aumento de bactérias. Não tente congelar o iogurte, pois ao descongelar ele fica líquido, alertou Gislaine.
Queijo
Queijo em fatias e requeijão são altamente perecíveis, segundo Gislaine. “Evite comprar fracionado, as peças inteiriças e lacradas são mais duráveis”, aconselhou. Fechado, as marcas estipulam cerca de 50 dias sob refrigeração para o requeijão cremoso. Depois de aberto, o requeijão cremoso e o queijo minas devem ser consumidos em até 72 horas. “A mussarela e o presunto aguentam mais, até quatro ou cinco dias”, disse.
Manteiga
Costuma ter prazo para consumo de 90 dias contados a partir da data de fabricação. Porém, depois de aberto, o produto deve ser consumido em até 10 dias, em média, segundo fabricantes. O alimento deve ser conservado em geladeira.
Feijão
Com a perda da umidade, o feijão sofre alterações em características importantes como a coloração clara, tempo de cozimento – que aumenta – e fica com o caldo mais ralo. Além disso, os grãos estão sujeitos à contaminação por carunchos. “Os fabricantes colocam como prazo seis meses, mas o ideal é que seja consumido em três meses”, disse Gislaine.
Arroz
A validade do arroz, de acordo com Gislaine é de cerca de um ano. “O arroz mais velho fica mais seco e soltinho”, comentou. Porém, ela ressaltou a importância de conservar o arroz em local seco, livre de roedores e insetos e com pouca luminosidade. O arroz também deve ser consumido em até três meses, segundo Gislaine.
Hambúrguer e frango empanados – congelados
Os alimentos congelados, como hambúrguer e peito de frango empanado têm validade longa pelo teor de sódio, embalagens próprias para conservação de longo prazo e por estarem congelados. Os dois alimentos industrializados costumam ter quatro meses de validade, segundo fabricantes. As principais alterações dos produtos acontecem na textura e sabor, disse Gislaine.
Salsicha
Segundo fabricantes, o alimento pode ser conservado em geladeira por entre 45 e 120 dias, a 8°C. Depois que a embalagem for aberta, o produto deve ser consumido entre dois e cinco dias. Se congeladas, as salsichas podem durar meses, de acordo com o estipulado por cada marca.
Lasanha congelada
O alimento industrializado congelado costuma ter seis meses de validade, desde a fabricação. Se armazenado em temperatura indicada com a embalagem intacta, tem boa durabilidade. Porém, como lasanha costumar ter queijo, Gislaine alertou para deixar o produto para o fim da despesa e se certificar que está congelado.
Suco de caixinha
A regra, segundo Gislaine, é parecida com a do leite. Com a embalagem fechada, o prazo de validade é de, em média, seis meses. Depois de aberto, as alterações microbiológicas começam a acontecer em 72 horas, às vezes em 24 horas, disse a nutricionista. Podem ocorrer alterações nos níveis de açúcar e alterações por fungos.
Leite
Segundo Ana Paula, deve-se sempre verificar o prazo estipulado pelo fabricante. Em média, o leite de caixinha costumar durar 180 dias, fechado e armazenado da forma indicada. Depois de aberto, segundo Gislaine, deve ser consumido em três dias. O pasteurizado, que é vendido em saquinho, dura ainda menos, disse ela. Congelar, de acordo com Ana Paula é uma forma de estender o vencimento. “Muitos produtos têm na própria embalagem uma validade para quando congelado”, explicou. Congelado, segundo Gislaine, pode durar 90 dias.
Creme de leite e leite condensado
Produtos enlatados são vendidos como não perecíveis e têm durabilidade longa, “de seis a oito meses em embalagem fechada”, segundo Gislaine. Depois que abrir a embalagem, o consumo deve ser feito em até 48 horas, mas o ideal é que seja imediato. “São lácteos, têm tendência a estragar”, completou.
Coco ralado
Os fabricantes estimam cerca de oito meses de validade com embalagem lacrada. Segundo Gislaine, o produto é um exemplo dos alimentos que sofrem transformações químicas e biológicas. “Acontece a oxidação dos lipídios, o coco ralado fica com gosto de sabão, de ranço”, disse a nutricionista. O produto vale por cerca de oito meses com embalagem lacrada e 10 dias após aberta.
Maionese
Com a embalagem fechada, os fabricantes costumam estipular oito meses de validade, pois o alimento está em uma atmosfera modificada, explicou Gislaine. Depois de aberta, o ideal é consumir em sete dias, com armazenamento em geladeira, disse a nutricionista. Algumas marcas, no entanto, dão como prazo de vencimento até 30 dias depois que a embalagem por aberta.
Refrigerante
O prazo de validade varia de acordo com a embalagem e o fabricante, mas em média fica entre 3 e 9 meses. Para chegar à data ideal, Ana Paula, explicou que os pesquisadores expõem o refrigerante a condições adversas que antecipem a deterioração. Assim, estipulam o prazo. Segundo Gislaine, o refrigerante tem alto teor de açúcar que é um conservante natural. Porém, Ana Paula alertou que, apesar de ter validade “ótima”, a manipulação em temperaturas inadequadas pode fazer o produto estragar mais rápido. O produto pode sofrer alterações químicas e criar resíduos no fundo, completou Gislaine.
Chocolate
A média de prazo de validade estimado por fabricantes é de 10 meses. “É comum acontecer com ovos de páscoa, que as pessoas ganham e armazenam em casa. O chocolate começa a ficar seco e com manchas mais claras”, contou Ana Paula. Como o alimento é rico em gordura, acontecem alterações microbiológicas e pode até aparecer bichinhos, como carunchos. Colocar na geladeira pode aumentar o prazo de validade, segundo ela.
Pó de café
É um produto perecível, no entanto, Gislaine explicou que a questão é a perda de sabor e aroma, pois são voláteis. Uma vez que a embalagem for aberta, o produto começa a perder as características. “Deve ser conservado em potes bem fechados e escuros, na geladeira. A luz oxida os compostos gordurosos e o pó pode rancificar”, disse a nutricionista. O ideal é consumir em até 15 dias. Fabricantes costumam estipular prazo de validade de um ano, com a embalagem fechada.
Açúcar
Fabricantes costumam estipular um ano de validade. Segundo Gislaine o açúcar em pó é um conservante natural, tem baixa quantidade de água e, por isso, se torna inviável ao desenvolvimento bacteriano. O armazenamento, segundo ela, não é difícil, o que diminui os casos de alterações nos produtos. Em nota, a Anvisa informou não ser obrigatório informar o prazo de validade.
Sal
Assim como o açúcar é um conservante natural, com baixa quantidade de água e, portanto, não tem tendência a desenvolver bactérias. O armazenamento costuma ser fácil e apesar de os fabricantes estipulam, em média, um ano como prazo de vencimento. A Anvisa, em nota, informou não ser obrigatório informar o prazo de validade.
Pimentas
Alguns molhos de pimenta chegam a ter dois anos de validade, desde que armazenados de acordo com as indicações do fabricante. Depois de aberto, o produto deve ser mantido em geladeira e consumido em dois ou três meses, no máximo. “O tempo de consumo é alto, mas ninguém consome um vidro de pimenta em uma semana”, disse Ana Paula.
Quanto às pimentas em conserva, a pesquisadora do Idec afirmou que não dá para traçar um parâmetro devido o número de variáveis como tipo a pimenta, tipo da conserva, se está picada ou não, entre outros. “Deve-se obedecer a indicação do fabricante”, disse. A conserva, porém deve ser guardada em geladeira, disse Gislaine.
Restaurantes e bares costumam indicar a validade dos condimentos que ficam sobre as mesas em uma etiqueta própria. “Antes eles não faziam isso, mas devido à formação atual de nutricionistas e chefs, existe a preocupação com contaminação, principalmente por fungos”, disse Gislaine. De acordo com Ana Paula, a “etiqueta” se refere às boas práticas de segurança alimentar, já que os “produtos ficam, por vezes, sobre as mesas, sem temperatura adequada de conservação”.
Molho de tomate
Segundo fabricantes, o produto em lata costuma ter prazo de vencimento de dois anos desde a fabricação. No entanto, a embalagem deve estar intacta e fechada para a durabilidade. Depois de aberto, o molho deve ser consumido em até cinco dias, pois corre o risco de contaminação por micro-organismos e oxidação.
Azeitonas
Segundo Gislaine, o tempo de validade depende do tipo da azeitona, se é cortada e se tem caroço. “Em geral, têm boa tolerância e resistem bem em refrigeração”, disse. Fechada pode durar até três anos. Depois que o recipiente for aberto, o consumo deve ser feito em cinco dias, se guardado na geladeira. “Em temperatura ambiente, em dois dias”, completou Gislaine. Por ser rica em gordura, pode ocorrer a rancificação e também a contaminação por fungos.