Jornalista diz que deputado do PT viaja o Brasil tentando desqualificar a Lava Jato

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Deputado federal Wadih Damous

O “Cavaleiro da desesperança” passou pelo Acre

Evandro Cordeiro

Quando percorreu o Brasil à frente de centenas de camaradas sobre cavalos, num comboio famoso chamado de Coluna Prestes, o tenente do Exército, Luiz Carlos Prestes, promovia ali, naqueles anos de 1940, a primeira cruzada pela esquerda brasileira. O feito dele, para apresentar o Partido Comunista do Brasil como alternativa, viraria depois um livro de Jorge Amado, que o intitulou de “Cavaleiro da Esperança”, título que imortalizaria Prestes. Pois outro cavaleiro começa a percorrer o Brasil em nome da mesma esquerda. Agora viajando de avião e palestrando em atos disfarçados de encontros de oportunidades para os comuns discutirem a reforma política brasileira, o deputado federal Wadih Damous, do PT do Rio de Janeiro, vem em nome do governo para desqualificar adversários e mostrar que instituições como o Judiciário ajudam a tramar um golpe no país.

Enquanto o cavaleiro da esperança enfatizava a ditadura Vargas, propunha o Partidão como o socialismo salvador, o atual cavaleiro faz um périplo Brasil a fora com objetivo de desqualificar Ministério Público, Polícia Federal e o Judiciário como um todo, por uma razão elementar: essas instituições comandam, com pulso firme, uma cirurgia de alta precisão no Brasil, com probabilidade de esquartejar de vez a esquerda, ao mesmo tempo em que desmascara a maior farsa já tramada por um grupo de pessoas se manter no poder.

Esse “cavaleiro da desesperança” chegou ao Acre acompanhado do senador Jorge Viana (PT), num claro jogo do PT e de toda a esquerda brasileira, promovido para enfrentar a crise, acuados pela caçada ética e policialesca promovida pelas instituições. O modelo: fazer lavagem na consciência das pessoas, usando jargões e clichês como “golpe” e “entreguismo”. Ex-presidente da OAB do Rio de Janeiro, falante e de uma riqueza vernacular invejável, o deputado Damous começa sua fala tentando ganhar a plateia ao fazer ataques ao Congresso Nacional. Usufruindo da combalida popularidade de deputados e senadores, o palestrante puxa palavras de ordem contra os congressistas e ganha aplausos da plateia obviamente revoltada. A ideia, ao que parece, é torporizar a plebe para os assuntos seguintes, um deles e o principal do evento, a judicialização da política, subterfúgio para desqualificar a atuação do Judiciário na Operação Lava-Jato. Aos poucos o cavaleiro da desesperança acha que vai pegar a plateia embriagada com suas duras críticas ao status quo.

Segundo o Luiz Carlos Prestes da era dos nerds, a direita teria se infiltrado nas instituições para guerrear contra a esquerda e desestabilizar um governo que, segundo ele, inclui, certamente se referindo ao Bolsa-Família, e faz crescer, agora baseado na ordem do ex-presidente Lula para que as pessoas comprassem a prestação, passando a sensação de que todo mundo melhorou de vida. Essa direita, segundo ele, tem usado de artifícios maquiavélicos para derrubar o PT do poder, incluindo ai o cerne da questão, o instituto da delação premiada. Demora, mas ele chega no objetivo de sua palestra. Malandramente, começa insinuando apoio as ações da Polícia e do Judiciário, mas ataca vorazmente como um endiabrado lutador de UFC, quando chega na questão fundamental, a delação, por meio da qual a Justiça Federal tem desbarato a maior quadrilha já descoberta no Brasil especializada em saquear os cofres públicos por intermédio de propinas. Faz um paralelo desta  com as ocorrências da época da ditadura, quando cidadãos podiam se beneficiar de alguma forma usando a delação. Nesse caso, diz ele, maioria dos “companheiros” preferiram arder ante a tortura, a delatar, tudo para dar eco as falas recentes da presidente Dilma, de que não respeita delatores.

O cavaleiro da desesperança não contava com a plateia da noite da última sexta-feira. Ao invés de cabos eleitorais do senador Jorge Viana, o auditório da OAB estava lotado de magistrados, promotores, procuradores e gente minimamente esclarecida. O porta-voz do Palácio do Planalto acabou constrangido.

Teve que terminar dizendo, mal educadamente, que “não precisa da opinião da opinião de promotores e juízes para defender sua ideia”. Ora, estavam ali pessoas como o procurador Cosmo Lima, um dos comandantes da operação que esfacelou o maior grupo de extermínio da história do Acre, no final dos anos 1990. Para trancafiar o coronel Ildebrando Pascoal e uma claque de malfeitores, ele, pelo Ministério Público, mais o Poder Judiciário, a Policia e o próprio PT do então governador Jorge Viana, tiveram que usar, além de outros, o instituto da delação premiada. Quem não lembra do bandido Valtemir “Palito”, cujo depoimento sob garantia da delação premiada ajudou a decretar sentenças de milhares de anos de cadeia?

Mesmo se contradizendo em muitas coisas daquilo que lançou mão para ser governador do Acre, o senador Jorge Viana se mostrou, como patrocinador do evento, meio lá, meio cá. Nem é a favor cem por cento, mas também não se apresenta contra. Tenta surfar no que para si parece ser melhor. Viana anda, faz tempo, tentando fugir do epicentro, mas poderia ter evitado o constrangimento. Como presidente da Comissão da Reforma Política do Congresso, ele já sabe que não haverá reforma nenhuma – e que, se houver, o povão não opinara sobre ela coisíssima nenhuma. Jorge preferiu contrariar sua fama de muquirana, patrocinando um evento que deixou sua imagem arranhada num meio onde estendeu seu braço sem cerimônia, quando governador, como Judiciário e Ministério Público. Poderia ter deixado os agouros, por exemplo, para a alma penada que incorporou o professor Marcos Inácio, único da plateia que vomitou sobre o instituto da delação premiada, fazendo paralelos com os alcaguetes de seu Partidão na época da ditadura militar. Inácio, que sustentou o Partidão no Acre, fez mexer-se no tumulo o verdadeiro cavaleiro da esperança, ao terminar sua fala afirmando que a prisão preventiva, para esses ricaços da Lava-Jato, por si só seria uma tortura capaz de fazê-los entregar inocentes, como Lula e Dilma, talvez.

Evandro Cordeiro é jornalista e colunista político

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