Tião Viana é governador pouco habilidoso e oposição não passa confiança, diz cientista político

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O PT tende a não ser a melhor opção nas próximas eleições. No Acre, o controle da informação e do marketing são trunfos que mantém o partido vivo. A pouca habilidade do governador Tião Viana, considerado “o dono do barracão”, e a falta de coragem do prefeito Marcus Alexandre para enfrentar problemas crônicos na capital, somadas à rejeição histórica da presidente Dilma (91%), favorecem um possível revés nas urnas. Desunida, a oposição tem o desafio de construir credibilidade junto ao eleitorado se quiser mudar o comando do governo no Acre. Num cenário nacional, até mesmo Lula seria uma ameaça menor se as eleições fossem hoje. Veja trechos da entrevista exclusiva do cientista político Nilson Euclides da Silva, professor da UFAC e coordenador do Grupo de Estudos Políticos e Democracia (Gepde).

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ContilNet – Que leitura o senhor faz da pior avaliação dada a um presidente do Brasil (apenas 9% de aprovação a Dilma Roussef)?

Nilson – Parte disto eu credito na conta da própria presidente que tem muito dificuldade de enxergar os problemas decorrentes de uma péssima articulação política que o seu governo vem praticando. Por outro lado este governo tem enfrentado talvez uma das piores legislaturas dos últimos vinte anos que somada ao pacote de ajuste fiscal e outras medidas extremamente impopulares o levaram a este quadro deprimente. As expectativas que foram criadas durante a campanha de que este seria um governo que não retiraria direitos sociais, e que governaria para a classe trabalhadora desmoronou nos primeiros meses de governo. As rachaduras que estas medidas provocaram no casco do navio são muitos difíceis de serem restauradas. O que vemos é um governo que: primeiro não consegue lidar com os interesses de grupos que atuam dentro do parlamento brasileiro, segundo perdeu a capacidade de dialogar com a opinião pública e o eleitorado, e por último por estar com uma aprovação tão baixa não tem forças para enfrentar as forças de oposição e com os descontentes da sua própria base. Isto tende a piorar porque ao que tudo indica o espírito republicano simplesmente desapareceu do cenário político do país, e o que assistimos é um congresso com uma parcela muito significativa de conservadores (no pior sentido que esta expressão possa ter) que disputa uma protagonismo político baseado no quanto pior melhor.

Quais os reflexos disso em cidades e estados administrados pelo PT?

Com uma avaliação tão ruim seria engano dizer que as cidades administradas pelo PT não sentirão os reflexos deste quadro político negativo.  Mas, é preciso entender também que eleições municipais possuem características diferentes porque normalmente o eleitor esta muito focado nos problemas do seu cotidiano. Ou seja, mesmo em tempo de crise existem algumas prefeituras que conseguem administrar estes problemas cotidianos sem passar para este eleitor que existe uma relação direta da política da sua cidade com o quadro nacional. Mas, é claro que os efeitos até por conta do índice de aprovação ser tão baixo, e com tendência de queda vai fazer desta eleição uma tarefa muito mais difícil para as prefeituras administradas pelo PT.

Se as eleições fossem hoje, o revés nas urnas seria inevitável para o Partido dos Trabalhadores?

Com este quadro que temos hoje creio que mesmo com o Lula sendo o candidato o PT teria muitas dificuldades para ganhar uma eleição.

Há uma sequência de derrotas do governo no Congresso Nacional. O poder está sendo retomado?

Não! O legislativo não esta retomando o poder porque este protagonismo que estamos assistindo esta baseado em uma relação desequilibrada de um Poder Executivo enfraquecido com um Poder Legislativo desprovido do espírito republicano. Mas há quem acredita que isto esta ocorrendo. Eu não faço parte deste grupo.

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Há motivos para Impeachment?

A possibilidade de um impedimento deve ser discutida com responsabilidade. Isto significa que é necessário primeiro verificar se há base jurídica para discutir esta questão. E caso ela exista, cabe as instituições que estão legitimadas para isto, fazer os encaminhamento necessários. O que não se pode tolerar é que é esta seja uma solução apresentada para agradar setores da sociedade brasileira que estão descontentes com o governo, ou mesmo como instrumento que pode facilitar o caminho de algumas lideranças que almejam o cargo de Presidente da República. Isto é uma insanidade que pode colocar em risco a democracia no país.

O PT tem jeito? Quais os erros mais crônicos, na sua opinião, cometidos pela cúpula petista nacional?

O PT ainda é um partido que tem penetração nacional, e conta quadros e uma militância que apesar de tudo o que vem acontecendo podem ajudar no processo de reconstrução do partido. Isto é algo urgente e necessário! Como o PT irá encaminhar essas questões vai depender muito do desempenho do atual governo, e a forma com que ele seguirá lidando com os efeitos das denuncias e dos atos de corrupção que acertaram em cheio o coração do governo e do partido. As primeiras impressões apontam que esta faltando habilidade do governo em lidar com tudo isto, e que a unidade que o partido necessita para administrar estas questões não existe. De qualquer maneira eu avalio que paradoxalmente o fato do PT chegar ao poder fez muito mal ao partido, e a democracia brasileira perdeu muito com este enfraquecimento do PT. Mas, o objetivo de qualquer partido é chegar ao poder logo esta é uma crise que inexoravelmente atingiria o PT.

O IBGE atesta que nos últimos 7 anos 60% dos jovens filiados do PT abandonaram o partido. Mas o PMDB também perdeu metade de seus quadros com essa idade. Qual o impacto desse desfalque?

A crença nas ideologia e nos partidos diminuiu em todos os países e no Brasil não foi diferente. O PT foi certamente o partido que mais sofreu com isto, até porque ele tem uma responsabilidade direta com este processo. A falta de confiança dos eleitores e da militância ocorreu primeiro porque o partido praticou a partir do final dos anos 90 um deslocamento ideológico da esquerda para o centro ou centro direita (se considerarmos a politica econômica promovido pelo governo petista), e segundo com o envolvimento de algumas das suas mais importantes lideranças e do próprio governo com os escândalos de corrupção iniciou-se um processo de desconstrução do capital ideológico eleitoral do partido. O PT acabou se transformando naquilo que ele mais combatia, e este foi um golpe fatal na legenda.  È claro que isto afetou diretamente a vida orgânica do partido. O pior é que um processo de abandono começa a atingir os seus quadros com a saída de alguns nomes históricos que migraram para outras legendas.

Muito se fala, nas ruas, sobretudo, que desta vez, a oposição, aqui no Acre, vai superar as derrotas do passado. Nós temos um quadro favorável a esta mudança?

Este quadro favorável é algo que já está configurado pelo menos nas últimas duas eleições. Mas, ele  sozinho é insuficiente para que seja realizado uma troca de comando na política local. Outros fatores igualmente importantes precisam ser considerados, e entre eles esta a unidade discursiva dos grupos de oposição que ainda não se realizou. A falta de uma alternativa viável ao atual governo faz com que o eleitor decida “racionalmente” por algo que ele acredita ainda ser o melhor mesmo que este melhor seja produto do marketing e do amplo processo de controle da informação exercido pelo governo.

Qual a lição que a oposição, no Acre, devia ter aprendido e, por algum motivo, não põe em prática?

O maior problema da oposição tem sido o de não ter conseguido passar um discurso confiável para uma parte significativa do eleitorado. Os partidos e as lideranças que pensam um dia assumir o comando do governo, precisam entender que o fato de termos uma parcela do eleitorado acreano descontente com o atual governo (os números das últimas três eleições demonstram que isto representa a metade do eleitorado) não é suficiente para garantir a vitória. O desafio é convencer a outra metade que acredita que o atual governo ainda é a melhor opção. Como se faz isso? Primeiro, é preciso estabelecer a unidade discursiva que agregue vários partidos da oposição; segundo, é preciso ter um nome que seja capaz de romper com a ideia muito bem trabalhada pelo governo de que votar na oposição é votar em um passado ruim, terceiro estabelecer uma agenda que a partir dos fracassos do governo petista aponte uma direção que retire o estado desta dependência histórica de repasses constitucionais, e viabilize uma base produtiva que liberte a economia da caneta do poder executivo acreano. Este seria um bom começo.

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O que teria motivado Lula a afirmar que Rio Branco tem o melhor prefeito do Brasil?

Trata-se de mera retórica de quem visita o Acre e quer ser simpático. Quem mora aqui e conhece um pouco do Brasil sabe que temos graves problemas, e estes problemas nos distancia de outros municípios em termos de qualidade de vida, emprego, transporte público, participação política, segurança enfim o prefeito agradece a gentileza do nobre visitante, mas deve lembrar o ex presidente de que é preciso combinar com os moradores da cidade.

A gestão pública na capital é digna de uma nota azul?

Não! Claro que não. Apesar de algumas ações positivas que a atual administração municipal tem implementado, temos problemas estruturais que são crônicos e que não foram sequer diagnosticados por esta administração.  A solução destes problemas é um desafio que o PT já demonstrou que não tem coragem de enfrentar.

As greves ressurgem com uma intensidade que só se via nos governos de direita. O que está acontecendo?

Isto ocorre porque o que temos hoje no Acre é um governo de direita, e alguns setores mais organizados da classe trabalhadora perceberam (mesmo que tardiamente) que é preciso enfrentar  este governo da mesma forma que se fazia nos anos 80 e 90. Mas, é preciso ir além das antigas estratégias de enfrentamento e passar a utilizar os novos instrumentos de participação e mobilização política para fazer deste enfrentamento algo mais produtivo. Ou seja, é preciso ir além das ruas e das  praças e deslocar esta luta para outro campo de mobilização e conscientização agregando as demandas dos vários setores e imprimindo na luta política um dinamismo que é exigido por esta nova sociedade.

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O senhor acredita ser inteligente um cenário em que dois irmãos disputam duas vagas para o Senado?

Nos últimos vinte anos os irmãos Vianas estabeleceram uma relação de propriedade com o governo do Acre. As consequências deste tipo de relação é que temos hoje um grupo político que controla o poder no estado usando instrumentos eficazes de controle e dominação. Esta é uma realidade que se materializa no Diário Oficial do estado que é sem dúvida a publicação mais importante para aqueles que querem conhecer a política no estado.  Isto é muito, muito comum na política brasileira, e o exemplo mais puro deste tipo de dominação é a Família Sarney no Maranhão. Estas lideranças enxergam a política como uma extensão das suas relações privadas  e familiares. Se comportam na maioria das vezes nas suas relações politicas da mesma forma que fazem nas suas relações pessoais e familiares. A ideia da coisa pública e dos valores republicanos são extremante perturbadores para estas lideranças. O poder político não pode ser uma prerrogativa de um ou dois iluminados. Para restabelecer o equilíbrio político é necessário uma vontade contrária, ou seja homens dispostos a não obedecer. O problema para o atual quadro político no Acre é que os irmãos comandam bem o barracão, e acho que a dependência econômica que a sociedade acriana tem das ações do poder executivo nos desloca para um campo onde a regra é a obediência e não o bom senso.

O poderio demonstrado pelo senador Gladson Cameli ameaça a hegemonia dos Viana?

Sem a unidade discursiva de que falei anteriormente não! Mas, o desempenho que ele demonstrou nas últimas eleições é algo muito positivo que pode ser ampliado para uma disputa ao governo. Mas, esta é uma estratégia eleitoral que precisa ter um lastro social e partidário somado a uma campanha competente e propositiva. Passar confiança para o eleitor, e trabalhar a ideia de que existe vida depois do PT. Esta é uma tarefa que pode ser facilitada porque o governador Tião Viana tem demonstrado pouca habilidade na condução do seu governo. Arrisco a dizer que ele foi o que mais introjetou a ideia de dono do barracão. O problema é que a crise do governo federal já esta afetando o poder da caneta do governador que somado a um “secretariado tarefeiro” pode fazer com o que este governo não seja uma opção incontestável para o eleitor em 2018.

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