19 de abril de 2024

Artigo: Governo do Acre foi sorrateiro, covarde e terrorista, opina presidente do Sinteac

Rosana Nascimento

Rosana Nascimento

Procurei, em 65 dias de greve, mas não encontrei, da parte do governo do Acre, um motivo sequer para reconhecer respeito aos professores. Resta concluir que a boa educação e o trato com a maior categoria de trabalhadores no Estado merece nota vermelha. Não é o governador que confere legitimidade ao nosso movimento, exercendo o seu poder de forma fascista, atropelando direitos de acordo com suas vontades ou com as do grupo político ao qual pertence.

A gestão Tião Viana admitiu que não prioriza nem valoriza a educação e os professores. Agiu sorrateira e covardemente, imprimindo um terrorismo descabido, inaceitável, afrontoso à democracia instituída neste país há 30 anos, causando pânico a 18 mil famílias, despertando um revés emocional sem precedentes aos educadores, seus filhos, aos alunos, à sociedade.

Foi uma experiência vitoriosa, sim. Provamos que é possível o enfrentamento, a resistência, a mobilização em defesa de causas justas, legais.

Lamentamos que o Plano Nacional de Educação, um grande guia para as mudanças estruturais da área educacional até o ano de 2020, tenha sido rasgado, ao invés de cumprido.

Não nos curvamos à imposição e à obrigatoriedade de obediência de um líder cuja postura se assemelha a regimes provenientes do nazismo, do fascismo, como se exercesse os três poderes sozinho.

Os tempos são outros. Não vivemos mais sob regimes totalitários. A greve vai crescer ainda mais, porque nossas reivindicações são justas e necessárias para a valorização da nossa categoria e para a melhoria da qualidade do ensino nas escolas.

A divisão de trabalhos entre escola e família está embaralhada. O fato de que esses dois territórios não têm fronteiras claras ocasiona tensão no ambiente de trabalho. Os próprios pais se sentem desencorajados ou temerosos de participar da vida escolar dos filhos.

O que mais nos incomodou não foi só o abandono extremo ao qual aquelas crianças foram submetidas. Pode parecer contraditório, mas no momento em que mais se prega o diálogo entre as instituições familiar e escolar, os governos dão péssimo exemplo de civilidade.

Os sindicatos, sobretudo, servem para formar cidadãos e estabelecer a coesão dos trabalhadores em defesa de seus interesses. Servem para garantir a regulação da ação do capital, o estabelecimento de leis de proteção contra a ganância do lucro máximo e, no limite, o despertar dos trabalhadores contra modelos  capitalista perversos.

Cresceu a sindicalização, o poder de negociação, as centrais foram reconhecidas, os sindicatos são figuras fundamentais no arcabouço institucional do país, fato que vai contra a corrente que empurrou o sindicato para um papel secundário e coadjuvante no movimento político.

Cabe aos pais a tarefa de educar seus filhos, estabelecendo limites e orientando-os a terem respeito e consideração para com todos e principalmente para com os professores que têm a missão de prepará-los para a vida. Tanto os pais quanto os professores são os condutores da vida de uma criança.

A boa educação manda ouvir para depois responder. No Acre, repito, nossos governantes são totalmente impacientes e demonstraram isso nos últimos dias – revelando uma atitude inadequada, que desconstrói o convívio social, uma vez que entendem que não precisam ouvir ou dialogar a não ser com os iguais ou com o computador.

O rancor e a indiferença levam a violência que está consumindo a vida de muitos jovens, que se sentem desamparados e frágeis para enfrentar a vida. É preciso rever conceitos e atitudes. O ser humano gosta e precisa de atenção. É preciso demonstrar mais afeto, respeito entre todos e menos cobranças, pois cada um tem o seu limite. Voltamos ao trabalho chocados.

Os pais precisam ensinar os filhos a respeitar e agradecer aos professores pelo muito que fazem. Os professores precisam se sentir valorizados, estimulados, e cada vez mais se aproximar dos alunos para conhecê-los melhor e com isso poder ajudá-los, respeitando os limites de cada um.

As atitudes ditatoriais e a violência não terão lugar. O entendimento surge sempre que houver diálogo, compreensão e valorização do outro. A greve está suspensa, mas jamais estará cancelada até que os direitos legítimos sejam reconhecidos.

Um abraço a todos.

Rosana Nascimento é presidente do Sindicatos dos Trabalhadores em Educação do Estado Acre

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