Criança triste: como lidar?

Tristeza: as crianças também precisam dela (Foto: Thinkstock)

Tristeza: as crianças também precisam dela (Foto: Thinkstock)

Quem assistiu à animação Divertida Mente, da Pixar, pode ter uma ideia da importância da tristeza. Apesar de ter o formato de uma lágrima e estar sempre chorosa e dramatizando as situações, no filme, ela é personificada e mostra que é uma peça fundamental na vida da protagonista Riley, uma garota de 11 anos.

A versão mostrada nas telas é uma maneira divertida de ilustrar o complexo jogo de sentimentos que conduz as ações de cada ser humano. Na vida real, apesar de ser um sentimento nada agradável, a tristeza também é fundamental para compor esse quebra-cabeças.

“O papel das emoções é ajudar a regular o nosso comportamento. Assim como o medo tem a função de nos proteger de perigos, a tristeza nos ajuda a identificar e a evitar o que nos faz mal”, explica a psicopedagoga Renata Trefiglio, do Centro Paulista de Neuropsicologia (SP). Se o seu filho ficou triste depois de brigar com um amigo, por exemplo, a tristeza vai ajudá-lo a identificar que não é legal repetir os atos que desencadearam esse sentimento.

De acordo com Renata, o processo emocional tem três passos. “No primeiro, nós sentimos algo, mas ainda não sabemos identificar o que é. Depois, atribuímos um significado e um nome ao que estamos experimentando – como ‘tristeza’, por exemplo. Por último, vem o reflexo no comportamento. Ficamos mais quietos, com uma expressão triste, choramos. É a partir disso que conseguimos avaliar, tentar encontrar uma solução, resolver, sair daquela situação que nos incomoda”, explica a especialista.

O que fazer quando seu filho está triste

Ninguém gosta de ver uma criança cabisbaixa. Quando é com o seu filho, então… Dá até desespero! Mas o fato é que, em algumas situações, não há muito o que fazer. Os pequenos precisam vivenciar aquele momento e aprender, da maneira deles, a lidar com isso. A inquietação é tão grande que, na ânsia de tentar mandar embora aquele sentimento, muitos pais oferecem objetos em troca, como doces ou presentes.

“Isso é péssimo”, afirma Quézia Bombonatto, diretora da Associação Brasileira de Psicopedagogia. “Você não pode comprar a felicidade do seu filho. Ele precisa da suapresença, dos valores, do amor e não de coisas”, completa. Ao agir dessa maneira, os adultos acabam mascarando as emoções da criança. É como varrer a sujeira para baixo do tapete, mas isso pode trazer problemas ainda mais graves no futuro, já que não ensina a encarar os sentimentos de frente.

Mas, então, qual é a saída? Para Renata, o papel dos pais é o de ajudar a criança a entender o que está acontecendo com ela, a identificar o sentimento e os motivos que o desencadeiam. “O diálogo é muito importante. Ao perceber que seu filho está triste, você pode tentar conversar com ele e nomear essa emoção. Muitas vezes, as crianças sentem uma tristeza e não sabem o que é e muito menos como lidar com aquilo”, explica a psicopedagoga.
E quando a criança tem dificuldade de falar sobre o que sente?

Existem duas situações que dificultam essa conversa: uma é quando a criança não quer falar sobre o que está sentindo e a outra é quando não consegue se expressar. No primeiro caso, o adulto precisa mostrar que está ali, disponível.

Assim, ao sentir vontade de se abrir, ela poderá recorrer ao pai ou à mãe, que precisam esperar esse momento. Outra situação é quando há uma dificuldade de explicar o que está acontecendo. “Aí, os pais podem recorrer a outras técnicas para começar um diálogo. Pedir para o filho fazer um desenho, por exemplo, pode ser uma boa saída. A partir daí, é possível identificar ou, pelo menos,  iniciar uma conversa sobre o que gerou aquele sentimento”, sugere Renata.

Tristeza não é depressão
Uma grande preocupação dos pais é: será que o sentimento do meu filho é normal ou é uma depressão? Calma. É preciso avaliar caso a caso com calma. “A depressão é mais séria, precisa ser tratada, em algumas situações, com medicamentos. Além de poder ser impulsionada por situações externas, ela pode ser química mesmo”, explica Quézia. Observar e participar ativamente da vida dos filhos é a melhor maneira de identificar e separar um caso do outro.

“Os adultos devem prestar atenção na intensidade e na frequência em que os episódios de tristeza acontecem. Em geral, a tristeza é desencadeada por um estímulo externo, mas dura pouco tempo e logo passa. Quando o comportamento é repetido e muda completamente a vida da criança, é necessário avaliar”, alerta Renata.

Repare se o seu filho se afasta dos amigos, perde o interesse por atividades que antes davam prazer, fica muito retraído, se há mudanças na maneira como ele se expressa. “Sentimentos como a tristeza e o medo são comuns para vários seres vivos, inclusive nos animais. Nos humanos, porém, eles podem ter consequências mais complexas, como a ansiedade e a depressão“, exemplifica a especialista.

Há ainda aquelas situações em que seu filho não está triste, nem deprimido. “Ele pode apenas estar mais quieto e introspectivo porque está aprendendo a lidar consigo mesmo, com a solidão, com as escolhas e com o ócio, que é cada vez mais raro na vida das crianças”, diz Quézia.

Educação emocional
Várias situações diferentes podem ocasionar ansiedade e depressão ainda na infância. Uma das causas mais frequentes, de acordo psicólogos e psicopedagogos, é que isso aconteça por conta de emoções mal trabalhadas. “A criança pode ter dificuldade de identificar e de lidar com um sentimento e, com o tempo, isso se acumula e se transforma em algo mais profundo. Por isso, não adianta negar a tristeza quando os filhos a vivenciam”, diz Renata.

Sim, algumas experiências são difíceis e elas não têm idade para começar. O importante é que os pais estejam por perto, para oferecer segurança afetiva e preparar o filho para o mundo, cheio de dias bons e ruins.

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