Entrevista: “Obras na linha de transmissão podem ser a causa de apagões”, diz Eletrobras

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Diretor-presidente da Eletrobras Distribuição Acre, Ricardo Xavier: “Não é normal ter tantas interrupções num espaço tão pequeno” (Foto: Altino Machado)

O novo diretor-presidente da Eletrobras Distribuição Acre, Ricardo Xavier, nomeado pelo Conselho de Administração nesta terça-feira (22), em Brasília, na manhã de sexta (18) saiu para comprar pão, por volta das 8h, e quando voltou não conseguiu entrar em casa por causa do apagão que afetou milhares de pessoas no Acre e Rondônia. Xavier. Ele teve que telefonar para o celular da esposa, pediu a chave, e abriu o portão elétrico manualmente para conseguir entrar em casa. “Estava apenas começando o transtorno, pois o apagão começou parcial e depois se tornou geral porque as usinas foram desconectadas do sistema nacional”, lembrou.

Um dia antes de ser nomeado para o cargo de diretor-presidente da Eletrobras Distribuição Acre, Ricardo Xavier concedeu entrevista exclusiva a ContilNet em que comenta sobre geração, transmissão e geração de energia. Engenheiro eletricista, com especialização em sistemas de proteção de rede de energia, o prognóstico de Xavier para cinco apagões no Acre e Rondônia no período de 40 dias são as obras de melhorias no sistema de corrente contínua da usina de Santo Antônio, em Rondônia.

“Estão ocorrendo intervenções diárias na linha, de manutenção. Isso pode ter sido a causa desses apagões nos últimos dias. Pode ter sido. Não posso dizer que foi porque o ONS ainda não nos deu o parecer final. Seria leviano dizer que foi. Também pode ter sido um defeito oculto no equipamento, que até o momento não foi encontrado. Não é normal ter tantas interrupções num espaço tão pequeno. Uma interrupção acontece; várias não é normal”, afirmou.

Ele disse que o ONS (Operador Nacional do Sistema) está analisando a situação junto com os agentes de transmissão, pois o problema foi específico na transmissão.  “Assim que o ONS nos repassar o real motivo, a gente vai dar conhecimento à população e quais as providências que serão tomadas para que isso não mais ocorra”, promete o diretor-presidente da Eletrobras Distribuição Acre.

“Não existe racionamento. Há disponibilidade de transformação e transmissão de energia suficiente para o Acre e para Rondônia. Não foi nenhum tipo de racionamento, nenhum desligamento programado. Foi um desligamento acidental da linha por motivo que ainda não se sabe ao certo e que ainda está sendo investigado pelo ONS, mas racionamento não houve, não ocorreu”, acrescentou.

Rio Branco possui uma usina termelétrica ativa, de propriedade da Eletronorte, com dois geradores de 15 megawatts cada um, que só podem ser acionados em caso de emergência. Existe uma decisão judicial que impede que funcionem diariamente por causa do barulho das turbinas em área residencial. Na sexta-feira, quando foi registrado o penúltimo apagão, um dos geradores entrou em operação e forneceu 10% do atendimento de Rio Branco.

“Uma das máquinas (turbinas de avião) não conseguiu partir. Até que fosse resolvido o problema, o fornecimento de energia foi restabelecido. Depois foi feito teste e ela está normal. Infelizmente elas só podem operar em casos de emergência, quando damos prioridade para abastecer áreas com hospitais e delegacias”, explica Xavier. “Todos os nossos esforços são envidados para que não ocorra interrupção no fornecimento de energia, afinal de contas a gente vive de vender essa energia. No momento que ocorre interrupção a empresa deixa de faturar. E quando falta, que volte no menor tempo possível”.

Ações de mitigação

O ONS (Operador Nacional do Sistema Elétrico) divulgou nesta terça-feira (22) uma nota sobre o atendimento ao Acre e Rondônia em que anuncia medidas com as quais espera mitigar a possibilidade dos cortes de carga associados a contingências no sistema de transmissão do Madeira, que foram as causas da interrupção do suprimento ao sistema no Acre e Rondônia nos dias 11 e 20 de agosto, além do dia 20 de setembro. Veja a nota a seguir:

1. Os estados do Acre e de Rondônia são atendidos por um sistema de transmissão em 230 kV, a partir da SE Jauru no estado do Mato Grosso, por geração local, com destaque para as UHE Samuel e Rondon e a UTE Termonorte II, e através de uma ligação com o sistema de transmissão em corrente contínua que escoa a geração das usinas do Rio Madeira (UHE Santo Antônio e Jirau). A figura abaixo destaca as principais instalações para o atendimento aos consumidores desses estados.

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2. De uma forma simplificada, o atendimento aos consumidores dos estados do Acre e de Rondônia depende de duas condições operativas: i) a segurança do sistema de transmissão que escoa a geração das usinas do Rio Madeira; e ii) as condições do tronco de transmissão em 230 kV que interliga esses estados ao Mato Grosso, conforme mostrado na figura abaixo.

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3. Assim, distúrbios com origem no sistema de transmissão do Madeira e na interligação com o Mato Grosso poderão comprometer o atendimento aos consumidores dos estados do Acre e de Rondônia.

4. O tronco de transmissão em 230 kV, formado atualmente por dois circuitos, está sendo reforçado com a implantação de mais um circuito, entre Jaru e Porto Velho, cuja previsão para concluão de todos os trechos é de dezembro de 2015. Uma vez completo o 3o circuito, o mesmo agregará confiabilidade ao atendimento aos consumidores e evitará o isolamento dos estados do Acre e de Rondônia, mesmo em situações de perda de duas linhas de transmissão.

5. Por sua vez, o sistema de transmissão associado às usinas do Madeira encontra-se em fase final de comissionamento, com parte dos equipamentos liberados para a operação e outros ainda em período de testes. Cabe destacar que a implantação desse sistema tem se caracterizado pelos enormes desafios, tecnológicos, técnicos e gerenciais decorrentes da dimensão e a complexidade inédita do projeto, com a implantação de dois bipolos de corrente contínua com mais de 2.000 km de extensão.

6. Além disso, o atendimento aos estados do Acre de Rondônia é influenciado diretamente pela geração local, composta por usinas hidráulicas e pela usina térmica Termonorte II.

7. Neste sentido, cumpre observar que nos dois últimos meses tem se verificado uma redução na disponibilidade de geração da UTE Termonorte II devido a problemas associados ao fornecimento de combustível. Além disso, a usina de Samuel, principal hidroelétrica da região, possui pequeno reservatório e está, no final do atual período seco, com armazenamento em torno de 4% do seu volume útil.

8. Diante desse cenário, o Operador, em conjunto com MME, ANEEL e agentes envolvidos, tem atuado intensamente para prover maior confiabilidade ao sistema Acre/Rondônia, com as seguintes ações:

a. Viabilizar o retorno à operação da UTE Termonorte II;

b. Agilizar a entrada em operação do 3o circuito em 230 kV entre as SE Jauru, Vilhena, Pimenta Bueno, Ji-
Paraná, Ariquemes, Samuel e Porto Velho;

c. Analisar a viabilidade de preservar o TR 500/250 kV – 465 MVA de P. Velho, quando de perda do sistema de corrente contínua;

d. Implementar alterações na topologia do sistema de transmissão para reduzir o impacto de perda de elementos, visando viabilizar a operação simultânea de 2 conversores de potência para o sistema Acre-Rondônia; e

e. Analisar a viabilidade de segregar unidades da UHE Santo Antônio, ligando-as diretamente ao sistema Acre-Rondônia, através do TR 500/230 kV – 465 MVA de Porto Velho, quando da perda do sistema de corrente contínua.

9. Essas medidas mitigam a possibilidade dos cortes de carga associados a contingências no sistema de transmissão do Madeira, que foram as causas da interrupção do suprimento ao sistema Acre / Rondônia nos dias 11 e 20 de agosto, além daquela do dia 20 de setembro último.

10. Finalmente, o ONS ratifica o seu compromisso de prover as melhores condições de atendimento a todo o Sistema Interligado Nacional, adotando medidas operativas que garantam o suprimento de energia de forma equânime a todos os consumidores.

OPERADOR NACIONAL DO SISTEMA ELÉTRICO”

 

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