Por que o desmatamento da Amazônia foi o maior dos últimos seis anos

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Área devastada no Acre, em 2005, onde onde o desmatamento é crescente (Foto: Altino Machado)

Quem acompanha as notícias sobre a Amazônia às vezes tem a sensação de estar lendo histórias muito parecidas. Aqui no blog ÉPOCA Amazônia já mostramos que a alta do dólar impulsiona o desmatamento na região porque supervaloriza a soja e o gado. Escrevemos que o Cadastro Ambiental Rural (CAR) não está impedindo derrubadas ilegais – pelo menos no Pará, onde há dados levantados – e que as unidades de conservação, que na teoria seriam áreas com controle de preservação, na verdade, estão repletas de focos de exploração ilegal da madeira. Também já foi pauta por aqui a importância de aumentar a fiscalização e as punições para quem não respeita as leis ambientais.

Então, quando índices de desmatamentos são divulgados, como aconteceu nesta terça-feira (1º), precisamos retomar toda essa velha conversa para entender o que está por trás dos dados. As causas que impulsionam os desmates já foram amplamente divulgadas e discutidas, mas persistem nos estados da Amazônia Legal. O Deter, sistema de monitoramento em tempo real do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), recém-divulgado, aponta que entre julho de 2014 e agosto deste ano, 5.121,92 quilômetros quadrados de floresta foram dizimados. Isso é 68% a mais do que no mesmo período entre 2013 e 2014.

O resultado do Deter é o maior desmatamento verificado pelo sistema nos últimos seis anos. A área perdida de floresta é cerca de 3,5 vezes o tamanho do município de São Paulo.

As taxas elevadas eram previstas. Na semana passada, o Imazon divulgou uma medição com base em seu sistema de monitoramento. Para a ONG, o aumento foi de 63%.

Paulo Barreto, pesquisador sênior do Imazon, afirma que os fatores para o aumento expressivo são vários e muitos deles já mais do que divulgados por pesquisadores, ONGs e por quem acompanha o que acontece na maior floresta tropical do mundo.

Alguns dos fatores são a falta de avanços em demarcar novas unidades de conservação, falta de medidas punitivas e pouco investimento na produtividade da pecuária. Pesou muito para as taxas de 2015 a alta do dólar, já que os lucros dos produtores de soja e gado aumentam com a desvalorização do real.

Barreto afirma que há pelo menos uma novidade dessa vez: a abertura do mercado norte-americano para a carne fresca brasileira. Apesar de os Estados Unidos já serem um grande comprador de carne congelada e processada, questões sanitárias barravam a entrada da carne bovina fresca naquele país. “Desde que a presidente Dilma Rousseff foi à Washington [em junho] e o governo americano fechou esse negócio, os fazendeiros se animaram com o aumento das vendas e podem ter começado a preparar o campo para receber mais cabeças de gado”, afirma. Isso não significa necessariamente que todas as aberturas para pastos seguiram as leis ambientais e tiveram autorizações dos órgãos ambientais.

O governo deve divulgar em novembro as taxas oficiais. Até lá, o coro pela necessidade de medidas mais firmes que coibam e diminuam os desmatamentos continuarão a pairar nosso noticiário. E ao que tudo indica deverão permanecer no radar mais tempo.

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