Um outro estudo, da University College London, no Reino Unido, de 2011, constatou que meninas e meninos com apenas oito anos já demonstram insatisfação com o próprio corpo.
Há três fatores principais por trás da inquietação precoce com medidas e calorias: a supervalorização da estética, a influência da publicidade e os modelos ensinados, consciente ou inconscientemente, pelos pais.
Segundo o psicólogo Bruno Mader, do Serviço de Psicologia do Hospital Pequeno Príncipe, de Curitiba, imagens de pessoas belas e magras se disseminam em todos os meios de comunicação como uma estratégia para impulsionar o consumismo.
“Isso nos leva a pensar o corpo como um bem de consumo, como se a felicidade pudesse ser resolvida apenas com o aspecto da aparência. É um valor contemporâneo”, fala o especialista.
Comerciais e brinquedos ensinam padrões
O ser humano começa a criar e a elaborar conceitos antagônicos, como grande/pequeno e claro/escuro, a partir do momento em que aprende a falar. Assim, uma criança de três anos pode diferenciar uma pessoa gorda de uma magra. Porém, o juízo de valor sobre isso toma forma a partir dos cinco ou seis anos.
É bom ressaltar que as crianças são mais sugestionáveis do que os adultos em relação à imposição de padrões, pois não têm maturidade emocional para discernir quais são saudáveis para elas. É justamente nessa dificuldade de discernimento que a publicidade encontra espaço para intervir.
“As crianças são um alvo certeiro, já que pela própria imaturidade não conseguem avaliar criticamente a exposição a que estão submetidas”, afirma Camille Apolinario Gavioli, psicóloga do Centro de Obesidade Infantil do Hospital Infantil Sabará, de São Paulo.
Para Adriano Segal, diretor de Psiquiatria e Transtornos Alimentares da Abeso (Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade), a publicidade atua de vários modos, desde os diretos, nos quais a questão do excesso de peso é abordada como um problema a ser evitado, por causa da saúde, até as formas indiretas, ligadas à estética.
Bonecos como Barbie e Monster High (magras e altas) e Ken e Max Steel (sarados com barriga trincada) influenciam de forma negativa na autoimagem das crianças, que acreditam que sucesso, popularidade e prestígio estão 100% atrelados à beleza e ao padrão de beleza que valoriza o corpo esbelto.
A boa notícia é que dentro de casa é possível combater esse bombardeio de referências estereotipadas. “Se as crianças tiverem uma ligação afetiva satisfatória com adultos que os elogiem e os valorizem como são, comerciais e brinquedos não terão tanta influência”, diz a pediatra Sonia Maria Baldini, membro do Departamento de Saúde Mental da Sociedade de Pediatria de São Paulo.
O papel da família
Os pais e/ou cuidadores são, portanto, o fator mais preponderante na construção da autoimagem infantil. Tudo o que eles fazem é absorvido, elaborado e, claro, imitado.
Se a criança cresce em uma casa onde o pai ou a mãe (ou ambos) se preocupam excessivamente com dietas e calorias, soltam frases do tipo “estou gorda” ou “preciso perder essa barriga” ou ainda tecem comparações sobre a forma física das pessoas, a tendência é que ela aprenda a imitar as atitudes e a reproduzir o mesmo discurso.
Para tentar ajudar um filho que se sente insatisfeito com sua aparência, é preciso entender que, assim como acontece com os adultos, as crianças também usam a comida como forma de controlar ou extravasar emoções.
Outra questão a considerar é que a criança que tenta fazer ou faz dieta por conta de padrões corporais, provavelmente, está procurando no lugar errado a busca da satisfação de alguma necessidade, como a atenção e aceitação dos pais ou se encaixar em um grupo de amigos.
Onde mora o perigo
Dietas restritivas repetidas e sem orientação apresentam riscos clínicos, nutricionais, psicológicos e psiquiátricos e, por isso, devem ser prontamente combatidas pelos pais, que, assim que estranharem algum tipo de comportamento, devem levar o filho para uma consulta com profissional da área de transtornos alimentares.
Conversar e oferecer apoio são ações fundamentais, mas a família deve, antes mais nada, avaliar se precisa mudar a relação com a própria autoimagem e a maneira como expõe seus valores às crianças.