19 de abril de 2024

Videogames violentos podem estimular comportamento agressivo nas crianças

Videogame pode despertar comportamentos e pensamentos agressivos (Foto: Thinkstock)

Videogame pode despertar comportamentos e pensamentos agressivos (Foto: Thinkstock)

Seu filho gosta de jogar games de guerras, tiros e lutas? Se a resposta foi sim, é preciso redobrar a atenção e estabelecer alguns limites para essa atividade. Uma pesquisa realizada e divulgada pela American Association of Psychology (APA) concluiu que jogos eletrônicos violentos podem estimular comportamentos agressivos.

Para chegar a esse resultado, os especialistas analisaram uma série de estudos publicados entre 2005 e 2013, que mostram como o uso do aparelho pode afetar o comportamento infantil. A conclusão é que, embora os jogos não tenham sido relacionados à violência criminal ou a alterações neurológicas, eles podem, sim, aumentar comportamentos e pensamentos agressivos e também diminuir sentimentos de empatia, que é a nossa capacidade de nos colocar no lugar do outro.

Meu filho não pode jogar, então?

A pesquisa não fala de todos os tipos de jogo, mas daqueles baseados no uso da violência, como os games de guerra. Para a psicanalista Cristiane M. Maluf Martin, especialista em temas relacionados ao comportamento humano, esses jogos tornam as crianças mais agressivas porque permitem que elas experimentem certos comportamentos que não são tolerados na vida real. “Se na sociedade há uma censura e uma punição para determinados tipos de comportamento, no jogo, tudo isso que seria condenado é permitido: quanto mais você mata/rouba/agride, mais pontos ganha”, explica.

Para o neuropediatra Antônio Carlos de Farias, do Hospital Pequeno Príncipe (PR), que desenvolveu sua tese sobre vídeogames, os resultados da pesquisa têm a ver, não apenas com o conteúdo violento de determinados jogos, mas também com a frequência e a intensidade em que as crianças ficam em contato com eles. “Estudos anteriores monitoraram a frequência cardíaca, o pulso e a dilatação pupilar de pessoas expostas a situações de violências por meio de games.

No começo, o coração acelera, a pupila dilata, há uma reação autonômica [do sistema nervoso]”, explica. Mas, se essas mesmas pessoas continuam jogando durante semanas, aos poucos, essas respostas vão diminuindo É como se as cenas de horror não chocassem mais. “Por isso dizemos que jogos violentos causam certo embotamento afetivo nas crianças: a violência já não causa mais espanto”, completa.

No lugar do outro

Outro aspecto levantado pela pesquisa é a diminuição da empatia. Uma vez que a única interação das crianças ao jogar é com a tela, o uso prolongado dos jogos pode prejudicar a maneira como criança e jovens se relacionam. “O problema é gastar horas em uma atividade que não envolve reciprocidade, comunicação e conversa. Muitas crianças ficam nessa situação para não terem que se relacionar com o outro”, explica o neuropediatra.

Tecnologia como ferramenta

Segundo dados relacionados na pesquisa, nos Estados Unidos, mais de 90% das crianças joga algum tipo de vídeogame. Entre os adolescentes – de 12 a 17 anos – esse número é ainda maior: 97%. Outro material analisado no estudo revela que crianças menores de 8 anos que já jogam vídeogame passam, em média, 69 minutos por dia em jogos de console, 57 minutos em jogos de computador e 45 minutos em jogos de dispositivos móveis, incluindo tablets.

A maneira como as novas gerações incorporaram o uso da tecnologia é um processo com consequências ainda desconhecidas. Ainda assim, é preciso saber que tanto o vídeogame como tablets e celulares são apenas ferramentas. A maneira como as crianças se relacionarão com elas depende dos pais.

O lado bom

É claro que o uso saudável dessas tecnologias tem lá seus benefícios. “O videogame trabalha o processamento visual e auditivo, a rapidez, a diferenciação de formas e de sons… É óbvio que, como tudo o que fazemos de forma repetitiva, isso reforça alguma sinapses, melhorando essas habilidades”, explica Farias. Em um estudo conduzido pelo próprio neuropediatra, ele constatou que o uso de games teve impacto na melhora do desempenho escolar das crianças, aprimorando sua habilidade de atenção e memória.

Apesar dos benefícios, o médico é categórico ao afirmar que há uma série de váriaveis que os pais precisam analisar quando o assunto é videogame. A primeira é o conteúdo, que deve ser adequado à faixa etária e não promover a violência. A segunda é que o uso deve ser feito preferencialmente de forma descontinuada. “O ideal é que a criança não fique uma hora, uma hora e meia jogando sem parar, mas que faça um intervalo a cada trinta minutos pelo menos”, sugere. Além disso, os pais devem levar em conta:

– Horário de uso: a luz de LED das telas interfere no sono. Por isso, é melhor desligar os aparelhos conforme a hora de dormir se aproxima;

– Postura: em que posição a criança joga? Observa como ela se senta e como manipula o aparelho, para evitar o esforço repetitivo;

– Impaciência: os jogos funcionam em um sistema de motivação x recompensa. Ou seja, ao passar de fase, a criança prontamente recebe o prêmio pelo seu esforço. Isso pode gerar comportamentos impacientes e deixar os pequenos irritados em processos mais demorados do que os jogos, como a leitura de um livro longo;

– Ansiedade: para crianças com doenças que têm muito a ver com ansiedade, como TDAH, os conteúdos e mecanismos dos jogos tendem a deixá-las ainda mais ansiosas.

PUBLICIDADE
logo-contil-1.png

Anuncie (Publicidade)

© 2023 ContilNet Notícias – Todos os direitos reservados. Desenvolvido e hospedado por TupaHost