16 de abril de 2024

Coragem Súbita?

Ao contrário do que talvez pensem a maioria dos militantes dos dois lados da contenda anti e pró-Dilma: de que um súbito arroubo de coragem teria feito com que os contendores tenham partido para o tudo ou nada, os fatos apontam para razões mais pragmáticas, de ambas as partes.

Cunha

A decisão de Cunha de aceitar o pedido de impeachmeant não partiu de nenhum fato novo na Operação Lava Jato que pudesse apontar na direção de Dilma. Sua decisão é apenas uma resposta automática, praticamente um ‘arco reflexo’, à decisão da direção nacional do PT de liberar o voto contra Cunha no Conselho de Ética.

PT

Se Rui Falcão, presidente do PT, liberou os votos dos parlamentares petistas no Conselho de Ética, é razoável supor que o partido tem cartas na manga suficientes para garantir que o processo de impeachemant contra Dilma, não irá adiante.

PMDB

Isso poderia ter sido garantido mediante acordos a portas fechadas com o próprio PMDB no atacado, caso o partido tenha decidido que Cunha é indefensável e que só tratará prejuízos políticos Ou no varejo, mediante o sempre disponível fisiologismo, enquanto houver nacos do Estado a serem negociados.

PSDB

O PSDB fez o mesmo que o PT há mais tempo, abandonando a defesa de Cunha no Conselho de Ética. Se o fez isso, pode-se pensar em três hipóteses:

A primeira é de que o PSDB acredita ser capaz de levar adiante o processo de impeachmeant sem ter que carregar o fardo de um Cunha cada vez mais atolado na lama, o que deslegitima o partido perante a opinião pública no quesito ética, elemento político importante para que o partido faça eco com os movimentos que pedem o impeachmeant de Dilma.

A segunda é que o impeachmeant tenha deixado de ser tão interessante ao PSDB. Na verdade, para uma parcela importante dos tucanos, esse nunca foi o objetivo.

Se existe esta convergência de interesses entre a cúpula do PSDB e a Lava Jato, tal qual acusam os petistas, estas se direcionam a cassação dos direitos políticos de Lula e não ao impeachmeant de Dilma.

A terceira hipótese, é que o partido tenha retirado o apoio de Cunha, justamente para forçar a este desfecho, e pode muito bem, retomar o apoio agora que Cunha aceitou o pedido e o PT não pode mais voltar atrás.

O mais possível é que o PSDB esteja jogando com estas três cartas na manga.

Cenário Econômico

Um dos argumentos políticos, e não jurídicos, para o impeachmeant de Dilma é de que a mesma não tem condições de implantar qualquer programa econômico destinado a tirar o país da crise, o que a agravaria ainda mais.

A pergunta é: se Dilma passar pelo buraco da agulha do processo de impeachmeant, ela se legitima para implantar as medidas?

‘Coxinhas’ desacreditados

O descrédito de Dilma perante aos movimentos sociais já tem sido cantado em verso e prosa pelas principais publicações de esquerda não-governista. A noção geral dentro destes segmentos é de que ela se afastou da pauta dos movimentos e de que por isso, não teria condições de pedir o apoio popular em um eventual processo de impeachmeant.

Contudo, paradoxalmente, o que Cunha tem feito ao fazer avançar a pauta reacionária, é legitimar o ‘Fica Dilma’ perante aos movimentos sociais. Houve recuo em direitos já conquistados, das mulheres, dos índios, do segmento LGBT e dos Direitos Humanos. Isso é o suficiente para que os movimentos sociais reiterem seu apoio à Dilma.

Por outro lado, os movimentos que pedem o impeachmeant de Dilma, e que se pretendem patrióticos, verde-amarelos e apartidários, também perdem credibilidade nesta semana, quando cruzam os braços à luta dos estudantes em SP. Reforçam aquela ideia de que não se trata de um movimento contra a corrupção e ‘pelo bem geral do país’ e sim, apenas uma reação anti-petista, sem substância política e sem o entendimento das questões do país que se propõem ‘salvar’.

Marina quietinha

Marina Silva tem mantido uma discreta posição contra o impeachmeant, sem é claro, abraçar com fervor a pauta de ‘golpe contra a democracia’. O objetivo é claro: ela vai precisar dos votos de eleitores que hoje pedem o impeachmeant, mas ela própria reconhece a fragilidade das acusações contra Dilma.

Por outro lado, à Marina interessa enormemente o avanço da Operação Lava Jato, pois seria indiretamente uma das maiores beneficiadas em uma eventual cassação dos direitos políticos de Lula e da fragilização do PT em 2018. Sem esforço, sem desgaste, poderia ‘surfar’ muito bem em um cenário destes.

Fim do PT?

Dilma pode até se fortalecer caso passe pelo ‘buraco da agulha’ de um processo de imnpeachmeant. Mas para o PT a batalha não se encerra aí. A Operação Lava Jato deve continuar revelando cada vez mais os esquemas do partido, fragilizando-o mais e mais perante a opinião pública, mesmo entre os setores que renitentemente, ainda o apoiam.

Pode ser o fim do PT, ou quem sabe, talvez o fim de uma forma de fazer política condicionada a grandes interesses privados, mas para isso, a opinião pública teria de se esclarecer de que os esquemas continuarão operando, mesmo com um eventual naufrágio do maior partido de esquerda do Brasil.

 

*Leandro Altheman Lopes é jornalista e escritor do livro ‘Muká, A Raiz dos Sonhos’ ([email protected])

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