Há questão de alguns anos, um colega professor, movido pela melhor das intenções, copiou um desses textos alarmantes da internet, leu para os alunos e distribuiu pelos editais da escola. Tratava-se de um alerta sobre a presença de um componente carcinogênico na pasta de dente.
O assunto gerou polêmica entre os alunos, posto que o componente citado também estava presente na formulação de xampus, sabonetes líquidos, etc. estabelecendo uma relação causal entre a utilização desses produtos e o desencadeamento de diversas formas agressivas de câncer.
O assunto chegou até mim por intermédio de alguns alunos que não aceitaram de pronto as informações divulgadas pelo professor e questionaram sua veracidade, bem como a probidade da fonte por ele apresentada.
E para piorar o quadro, o professor não apreciou que sua “autoridade” fosse colocada em xeque e os alunos, então, foram duramente repreendidos.
Fiquei surpreso, ao constatar que por um lado meu colega caíra num dos mais antigos “hoaxes” que circulava pela internet, pelo que sei, desde 1998 e por outro, reprimira uma demonstração legítima de espírito crítico – que é, a meu ver, o objetivo principal da educação — propugnar a geração de livres pensadores.
Coisa que me leva sempre a questionar até que ponto de um atoleiro nossa vaidade consegue nos arrastar.
O episódio foi ficando cada vez pior, a ponto da direção da escola pedir minha intervenção, haja vista que além de professor daquela instituição eu também desempenhava a função de coordenador de área.
Tive a árdua tarefa de ter que desmentir um colega — e ficou um clima terrível — começando pelo tom ressentido do tipo “o professor é uma classe desunida, mesmo” ou que o “caxias” do coordenador não faz corporativismo e não negocia com nada ou com ninguém.
No resumo da ópera esse professor foi vítima dele mesmo.
Ou, melhor expressando, foi vítima de sua própria credulidade numa tragicomédia em quatro atos:
Primeiro: em acreditar em fontes não fiáveis. Um erro elementar.
Segundo: em acreditar que seria ele o salvador da pátria
Terceiro: em acreditar que o aluno é sempre tábula rasa. De nada sabe e de nada quer saber.
E por último: acreditar ser o detentor de um conhecimento que não possui.
Aliás, uma crença muito comum entre nós brasileiros — infelizmente.
Todos nós somos, em maior ou menor grau, palpiteiros de plantão.
Nos autoconsideramos sabichões. Desses que entendem de tudo: começando por como dirigir um time de futebol e indo até como dirigir a economia de um país.
Será que a vaidade é o principal motor dessa crença infundada em nossa própria infalibilidade?
Tenho observado nas redes sociais o aumento considerável do número dessas falsas histórias e farsas denominadas em jargão da internet como “hoax”.
Seja por meio de textos, ou de fotos ou até de vídeos forjados o objetivo do “hoax” é sempre o mesmo — promover um efeito cascata progressivo — que por meio de “spam” desencadeia um efeito viral que em escala pode paralisar sistemas de correio eletrônico e até mesmo uma comunidade virtual em rede na internet.
Em síntese: o objetivo é promover algum tipo de dano.
E surpreendentemente sempre existirão aqueles que cairão no engodo.
E justamente aqueles que se acham tão espertos geralmente são os primeiros a cair em tais embustes.
Assim, eu convido a todos os meus leitores a realizarem essa simples reflexão. E que valha para o mundo virtual e para a vida.
Será que eu devo me certificar da veracidade dos fatos antes de divulgar uma versão?