O Brasil alijado do mundo

Síntese: Sob o governo do PT, a economia do Brasil caminhou para o isolamento e
agora o país paga o preço pela escolha, na forma de recessão, inflação e, também, do
encolhimento do nosso comércio exterior. Nossas exportações caíram a menos de 1% do
total mundial e a corrente de comércio do país voltou a níveis pré-crise de 2008.
Amarrados ao Mercosul, perdemos oportunidade de inserção nas cadeias globais de
produção. Com dois rebaixamentos de rating, em função da piora nos fundamentos da
economia nacional, o país também começa a ter dificuldade de acesso ao mercado de
crédito. Nunca as reformas estruturais foram tão urgentes.

Desde 2003, com a chegada do PT ao poder, o Brasil tem optado pelo
isolamento em relação ao resto do mundo. O comércio internacional, que
poderia ser um caminho seguro para a retomada do crescimento, virou
realidade distante. O Brasil fechou fronteiras a novos acordos bilaterais, atou-se
ao Mercosul numa estratégia fracassada, optou por uma política externa de viés
ideológico e deu as costas aos parceiros globais mais relevantes.
O descaso com o comércio exterior agora cobra preço elevado. O país vem
perdendo espaço no mercado internacional a cada ano, vendo sua participação
cair de 1,4% em 2011 para 1,19% em 2014. Tudo caminha para que a parcela
brasileira despenque abaixo de 1%, voltando aos níveis do início do século.
Com o PT, o Brasil, infelizmente, está se transformando num anão do comércio
mundial.

Embora seja (por enquanto) a sétima maior economia do mundo, somos
apenas o 25ª maior exportador global, três posições abaixo do apurado em
2013. Nossas exportações, segundo o Bando Mundial, representam somente
11,5% do PIB do país – sexto menor percentual entre 150 nações pesquisadas.

Pior: a qualidade da nossa pauta de exportação tem se deteriorado bastante,
em termos de valor agregado. A participação de produtos manufaturados, que
representavam 53% das vendas ao exterior em 2005, atualmente não chega a
35%. É como se retrocedêssemos à condição de uma economia primárioexportadora.

Em 2015, a balança comercial brasileira voltou ao azul. Mas isso foi fruto tanto
da recessão quanto da queda acentuada das importações, e não de aumento
das exportações. Entre janeiro e dezembro, os embarques declinaram 15% e as
aquisições caíram 25% em relação a 2014.

A fragilidade do nosso comércio exterior fica mais bem evidenciada pelo
desempenho da corrente de comércio (soma de exportações e importações). O
indicador, que reflete o vigor da atividade econômica num país, atingiu US$
362 bilhões de janeiro a dezembro, com queda de 20% em relação ao ano
anterior. Voltamos a níveis pré-crise mundial de 2008, resultado de políticas
que viraram as costas do Brasil para o mundo.

Política isolacionista

Um dos grandes obstáculos à expansão das exportações é a ausência de
acordos comerciais com grandes mercados. Na era PT, a política externa
brasileira concentrou-se nas chamadas relações Sul-Sul, priorizando países
africanos e vizinhos sul-americanos de orientação bolivariana. Ficamos cada vez
mais apartados das grandes cadeias mundiais de produção. Nos últimos 12
anos, só quatro acordos comerciais foram firmados pelo Brasil: com Israel,
Egito, Palestina e África Meridional.

Segundo estudo da CNI, atualmente há pelo menos 30 acordos relacionados a
comércio e investimentos em fase de aprovação no Congresso ou pendentes de
promulgação pela Presidência da República. A demora excessiva gera perdas
para investidores, que pagam o preço da burocracia e da gestão descoordenada
da política externa do país.

Enquanto isso, países vizinhos lançaram a Aliança do Pacífico, um mercado de
US$ 2 trilhões, e os EUA, além de negociar uma aliança com os europeus,
fecharam o Acordo Transpacífico (TPP), que reunirá 40% do PIB mundial. Como
consequência, os produtos brasileiros devem ficar ainda menos competitivos.
Estudo da FGV mostra que o TPP afetará 35% da pauta brasileira de produtos
manufaturados, podendo derrubar nossas exportações em até 2,7%.

Enquanto a maior parte dos países busca se agregar, o Brasil manteve-se atado
ao Mercosul. Conduzido de forma ideológica nos últimos anos, o bloco é hoje
incapaz de produzir resultados relevantes para o país. A corrente de comércio
entre o Brasil e as demais economias da sub-região encolheu 35% entre 2011 e
2015, de US$ 47 bilhões para US$ 30 bilhões. Para completar, há 15 anos a
negociação do acordo de livre comércio com a União Europeia não sai do lugar.

Somos hoje o país mais fechado para o comércio exterior entre todas as nações
do G-20, segundo levantamento da Câmara de Comércio Internacional. Não à
toa, no último ano o Brasil despencou 18 posições no ranking global de
competitividade elaborado pelo Fórum Econômico Mundial e agora ocupa
modesto 75° lugar entre 140 países – nossa pior colocação na série histórica.

O produto brasileiro tem perdido competitividade no mercado exterior. Isolada
das cadeias globais de produção, a indústria nacional viu sua participação no
PIB reduzir-se de cerca de 23% em 1980 para menos de 10% em 2015.
Segundo a CNI, 79% das empresas do país têm problemas para exportar
devido a entraves burocráticos tributários e alfandegários. Medidas de
facilitação de comércio poderiam elevar o PIB brasileiro em 1,2%, mas não se
enxerga no governo do PT qualquer reforma modernizante saindo do papel.

Rebaixado, Brasil vira ‘lixo’

Infelizmente, o Brasil também tem andado para trás no mercado internacional
de crédito. Pouco mais de três meses após o rebaixamento do rating do país
pela Standard & Poor’s, em setembro, outra agência, a Fitch, reduziu a nota
brasileira em função da piora nos fundamentos da economia e nos indicadores
financeiros do país. O resultado chancela o mau humor da economia mundial
com o Brasil, especialmente com a sequência de más notícias brotadas de
múltiplas crises – de gestão, política, ética, econômica e social.

Apartado do mundo das finanças internacionais, o Brasil terá mais dificuldade
para conseguir empréstimos no exterior, obrigado a pagar juros mais altos. Os
entraves já estão aparecendo: desde julho passado, não houve emissões de
empresas brasileiras no exterior e as captações caíram mais de 80% até
novembro. O fluxo de investimentos no país também tende a diminuir. O
investimento direto estrangeiro deve ter recuado para a casa dos US$ 50
bilhões, abaixo dos US$ 62 bilhões de 2014. Para piorar, a alta dos juros pelo
banco central americano deve estimular a debandada de capitais do país.

O quadro de más notícias econômicas se completa com a recessão mais
longeva dos últimos 80 anos, inflação de dois dígitos, desemprego nas alturas,
renda do trabalhador no menor nível desde 2003, dívida bruta próxima de 70%
do PIB e déficit público recorde. O fundo do poço parece não ter fim.

Um novo rumo

A falta de rumo da política comercial brasileira é preocupante. Não é possível
continuar na posição de mero coadjuvante nas relações mundiais. O Brasil
precisa integrar-se de maneira mais efetiva às cadeias globais de produção.
Buscar novos – e significativos – mercados, dinamizar a pauta de exportações e
combater o custo Brasil são medidas essenciais para o país reconquistar o
espaço que é capaz de ocupar no cenário internacional. A receita do sucesso é
uma política externa ativa e a agressividade comercial, e não a diplomacia
ideológica que vimos ser praticada nos últimos anos.

Felizmente, no nosso entorno os ventos da mudança já começaram a soprar e
tendem a arrastar o Brasil também a novas direções. As vitórias de Mauricio
Macri na Argentina e das forças oposicionistas na Venezuela indicam o começo
da derrocada do populismo na América Latina. Abrem, ainda, perspectivas de
maior e mais dinâmico intercâmbio comercial do continente com o resto do
mundo, assim como novas orientações para o Mercosul. Antes, porém, será
preciso fazer o dever de casa, após o país ser considerado “lixo” pelo mercado
financeiro global. Ou o Brasil realiza as reformas estruturais que vem
protelando há tempos ou permanecerá alijado do resto do mundo.

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