Por ocorrer na gestação (geralmente, no terceiro trimestre), e de forma semelhante em algumas mulheres que fazem uso de anticoncepcionais, suspeita-se que o aumento nos níveis do hormônio estrogênio, característico dessa fase, seja o gatilho da colestase, cuja incidência varia de 0,1% a 2%, segundo o especialista em gestação de alto risco Francisco Feitosa, da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo).
SINTOMAS
É preciso ficar atento aos sintomas. O principal motivo de preocupação é a coceira a partir da 30ª semana, que tende a se intensificar à noite. Normalmente, ela começa na planta dos pés e na palma das mãos e se espalha pelo corpo. Urina escura e fezes muito claras, além de uma coloração amarelada na pele, podem vir associadas. Com menor frequência, ocorrem fadiga, insônia e mal-estar.
Diante dessas manifestações, os especialistas costumam solicitar um exame de sangue, a fim de avaliar alguns índices relacionados ao funcionamento do fígado, como a fosfatase alcalina, bilirrubinas, TGO e TGP, cuja alteração, somada aos sintomas, pode acusar a colestase. Eles também recorrem ao ultrassom de abdômen total, para excluir a presença de pedra na vesícula biliar, por exemplo.
Oobstetra João Luiz Scaff, do Hospital e Maternidade São Luiz (SP), destaca a importância de investigar outras enfermidades que podem confundir o diagnóstico. “Precisamos afastar a possibilidade de doenças dermatológicas, que também desencadeiam coceira, de pré-eclâmpsia, que tem potencial de alterar as enzimas hepáticas, de hepatite, além de citomegalovírus e Epstein-Barr, vírus capazes de agredir o fígado”, enumera.
PRÉ-NATAL INTENSIVO
Uma vez diagnosticada a colestase, o médico vai avaliar o grau de severidade – leve, moderado ou grave – e fará um acompanhamento rigoroso do bem-estar do bebê. Para isso, ele dispõe de exames como a cardiotocografia, que registra a frequência cardíaca, e ultrassom com doppler, que mensura o fluxo sanguíneo para o feto, entre outras informações, conforme explica Cordioli.
O profissional também irá monitorar a função hepática da mulher, por meio de exames de sangue. Mas, em geral, não costuma haver prejuízos maternos significativos. O especialista também poderá prescrever medicamentos da classe dos anti-histamínicos, para atenuar a coceira, além de uma substância específica, chamada de ácido ursodesoxicólico, considerado pelos especialistas um dos remédios mais eficazes para normalizar os sais biliares, minimizando as consequências da doença.
A partir desse acompanhamento intensivo, médico e paciente vão entrar em acordo sobre o melhor momento de realizar o parto, que costuma ser antecipado para o período entre 37 e 38 semanas de gestação, conforme explica Francisco Feitosa – lembrando que essa decisão é sempre pautada pelo bem-estar e a segurança da criança. Mulheres que apresentam esse problema podem ficar tranquilas: com as intervenções adequadas no momento certo, a expectativa é que o bebê nasça esbanjando saúde!
Quais mulheres têm mais risco?
Há mulheres que têm maior probabilidade de desenvolver colestase e, portanto, devem reforçar a vigilância. “Fazem parte desse grupo as gestantes que esperam gêmeos e as que foram submetidas à fertilização in vitro, possivelmente por conta da exposição a uma maior carga hormonal”, especifica o obstetra Francisco Feitosa. De acordo com ele, a idade materna superior a 35 anos também merece cautela, bem como a descendência de povos andinos, já que a prevalência do problema chega a 9% na Bolívia e 16% no Chile, segundo uma revisão de estudos sobre o tema, que ele conduziu na Universidade Federal do Ceará.