Conversando, há alguns anos, com o psicoterapeuta e escritor José Ângelo Gaiarsa, ouvi o seguinte: “Por que as pessoas continuam casando? Ah! Mas esta é a maior ilusão dos intelectuais em todos os tempos: as pessoas não são persuadidas por um bom argumento, mas sim por uma fantástica repetição de coisas. Desde que você nasce você ouve 30, 40, 50 vezes por dia: porque a mãe, porque a família, porque o casamento, porque os filhos. Cinquenta vezes por dia !!! Durante 20 anos!!! É uma hipnose coletiva, é bem por aí…
Eu só achei duas soluções até hoje. Uma, na minha vida. Casei cinco vezes e diria que um casamento que dura de quatro a sete anos pode ser interessante, dependendo da pessoa, circunstâncias e tudo mais. A segunda: hoje o que eu consideraria ideal, eu diria que é poder ter duas, três, quatro mulheres, amigas, eventualmente coloridas, e elas também terem dois, três, quatro homens. Eu acho que seria a solução. Mesmo os bons amigos você não tem vontade de ver sempre. Há certos dias em que você diz: ‘Ih! Se ele vier aqui hoje vai ser um saco’. E quando se está casado é a mesma coisa.”
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É cada vez menor o tempo de duração de um casamento satisfatório. Algumas pessoas alegam que hoje ninguém tem paciência, que por vivermos numa sociedade de consumo, onde tudo é descartável, o cônjuge também deve ser sempre substituído.
Mas a questão não é essa. As dúvidas em relação a manter ou não um casamento começaram a surgir depois que o cônjuge passou a ser escolhido por amor e não mais por interesses familiares.
As expectativas mudaram. Antes bastava o marido ser provedor e respeitador. A esposa deveria ser boa mãe, dedicada ao lar, e mulher respeitável. Hoje, o que se espera de um casamento é realização afetiva e prazer sexual.
O mais importante estudioso do amor no Ocidente, o francês Denis de Rougemont, afirma em seu livro “O amor e o Ocidente” que os adolescentes são educados para o casamento, mas ao mesmo tempo são incentivados ao romantismo. “Ora”, diz ele, “a paixão e o casamento são por essência incompatíveis. Sua origem e seus objetivos são excludentes. Sua coexistência faz surgir incessantemente em nossas vidas problemas insolúveis e esse conflito ameaça sempre nossa ‘segurança social’”.
As perspectivas, portanto, não são nada animadoras e talvez só tenha um jeito. Para ser sólido e duradouro, o casamento precisaria voltar a ser como sempre foi: sem nenhuma expectativa de romance ou de prazer sexual. Mas quem deseja isso?