Com a proximidade do Natal, seu filho, certamente, deve estar escolhendo o presente e preparando a cartinha para o Papai Noel. Se entre tantas opções de brinquedos, jogos, livros, ele insistir em pedir um animal de estimação é hora de analisar – com carinho – esse desejo.
Antes de dizer sim e se render aos encantos de um peludo, é preciso levar muita coisa em consideração. Aqueles filhotes fofos e gordinhos que encantam qualquer criança – e você também, claro – são mesmo irresistíveis, mas, então, você se pergunta: “Será que meu filho já tem idade suficiente para ter um animal de estimação?” “Existe algum risco de ele desenvolver doenças?” “E se eu decidir que ainda não é a hora, como explicar isso à criança sem magoá-la?”
Para o veterinário Eduardo Liparelli, diretor técnico do Hospital Pet Care (SP), é preciso lembrar que o animal de estimação não é algo temporário. “É importante saber que o tempo de vida desses animais varia entre 13 e 18 anos. Ou seja, não é um brinquedo que você pode encostar se enjoar”, explica.
Antes de se decidir, leve em consideração todos os aspectos que podem impactar a sua família. Isso significa pensar a longo prazo e decidir sobre:
A primeira coisa a se considerar é a saúde de seu filho e de sua família. “Alergias a animais de estimação ocorrem com apenas 10% da população. As mais comuns são rinite, asma ou erupções cutâneas. Mas isso não quer dizer que as crianças que tenham alergia não tolerem a presença desses animais”, explica a pediatra Helena Vieira, membro do Departamento Científico de Alergia e Imunologia da Sociedade Brasileira de Pediatria. Pelo contrário.
Não faltam pesquisas para provar que, se o seu filho tiver contato com o animal desde pequeno, o organismo passará a tolerar mais as reações alérgicas. Um estudo coordenado por Joachim Heinrich, cientista do Instituto de Epidemiologia de Munique, na Alemanha, reforçou a informação. Na pesquisa, 3 mil crianças foram monitoradas desde o nascimento até os 6 anos. Exames de sangue mostraram que aquelas que conviviam com cachorro dentro de casa apresentavam menos risco de desenvolver sensibilidade a pelos, pólen, poeira e outros agentes alergênicos inaláveis do que crianças sem cães. Outro estudo, publicado no periódico JAMA Pediatrics, descobriu que crianças expostas à presença de um cachorro durante o primeiro ano de vida apresentam uma queda de 13% no risco de desenvolver asma durante a infância. E se a criança vive em uma fazenda, ou em outro local onde entra em contato frequente com muitos animais, o risco cai para 50%.
E os benefícios que a companhia de um animal de estimação traz não param por aí. Um levantamento feito por pesquisadores do departamento de Psicologia Experimental da Universidade de São Paulo confirma a melhora da imunidade de bebês e crianças. Segundo os pesquisadores, a companhia de um bicho reduz as chances de desenvolver resfriados, problemas estomacais e dores de cabeça. Tudo isso acontece porque os níveis de imunoglobulina A, um anticorpo presente nas mucosas que evita a proliferação viral ou bacteriana, aumentam em contato com o animal e fortalecem o sistema imunológico.
As únicas exceções são as crianças que comprovadamente apresentam alergia a cães e gatos. Nesse caso, é melhor mesmo manter-se longe dos animais.
Antes de decidir ter o animal, espere que as crianças desenvolvam uma maturidade motora (andar e se movimentar com destreza) e também um grau de entendimento. Essa última parte é fundamental para que seu filho perceba que o animal de estimação é parte da família, por isso não deve ser maltratado. “Crianças a partir de 4 anos compreendem melhor a situação e as regras”, diz a pediatra Milena de Paulis, do Hospital Israelita Albert Eisntein (SP). Para a psiquiatra infantil Evellyn Kuzinsky, de São Paulo, ter a companhia de um animal de estimação logo no início da vida das crianças é ótimo para que elas não tenham medo de animais no futuro.
Para quem acabou de aumentar a família e tem um recém-nascido em casa ou um bebê que ainda está por vir, é preciso tomar alguns cuidados. Tudo bem apresentar o bebê para o bicho sentir o cheiro do novo membro da família e reconhecê-lo, mas nunca deixe os dois em um ambiente sozinhos e lembre-se, claro, de atualizar as vacinas do animal. Vale lembrar que o contato do seu filho com o animal pode ir aumentando depois que ele tiver tomado todas as primeiras doses da vacina – sempre, claro, com sua supervisão.
Esse seu olhar, aliás, deve existir sempre, independente da idade da criança. “Nós já tivemos casos de acidentes envolvendo crianças e cachorros, inclusive de raças dóceis, por descuido”, conta Milena.
É importante também ter em mente os gastos que você terá com o novo companheiro da família. Quando filhotes, os cachorros precisam fazer visitas ao veterinário pelo menos uma vez ao mês para as vacinas. Além disso, coloque na conta objetos que eles podem precisar, como camas, pratinho, roupa, coleiras e os gastos mais frequentes, como ração, banho, vacinas, visitas ao veterinário e adestramento. “Famílias com crianças devem adestrar seus animais para criar uma comunicação que pode, além de facilitar o dia a dia, evitar acidentes”, explica Eduardo Laparelli.
Pesquise o máximo que você conseguir sobre a personalidade das raças de cães e gatos e tente bater com a de seu filho e a de sua família. “Para crianças pequenas, os cachorros de raças menores, como yorkshire e shih tzu, são boas opções. Mas os de grande porte, como labradores, golden retriever e boxer também são extremamente dóceis e brincalhões”, conta Eduardo.
Com relação aos gatos, Liparelli explica que é difícil determinar uma raça que seja mais carinhosa. “Os persas tendem a ser mais tranquilos, assim como a raça exótico. Mas é difícil estabelecer fatores de raça com os gatos.” Por isso, é importante ficar de olho no comportamento do gato na hora de adotar ou comprar um para a criança.
E se você quiser ter uma experiência ainda mais especial com seu filho, que tal adotar um animal de estimação? Você pode levá-lo para visitar uma Ong e, junto com ele, escolher o novo amigo. Certamemte, esse momento vai se tornar inesquecível.
Apesar do animal ser um presente para o seu filho, você precisa saber que todas as responsabilidades serão suas. É você, claro, que vai comprar a ração, vai levar ao veterinário, dar banho e até controlar os horários da comida e do passeio. O animal de estimação deve ser visto como parte da família, e, portanto, deve ter a atenção de todos, mas “não se deve esperar esse tipo de responsabilidade das crianças”, diz Evellyn.
Fique atenta à rotina da sua família. Se a agenda estiver muito cheia e vocês quase nunca ficam em casa, o cachorro pode acabar sofrendo, já que ele precisa ter companhia ao seu redor. Em situações assim, os gatos são uma boa opção. Eles são mais independentes e conseguem se virar bem.
Leve em consideração também se a sua família gosta muito de viajar nas férias e nos feriados. Estudos realizados por entidades como Apasfa (Associação Protetora de Animais São Francisco de Assis) e a Aspapet (Associação Paulista de Pet Shops) mostraram que o período de maior abandono de animais de estimação acontece na época de férias, quando as famílias viajam e não têm com quem deixar o cachorro ou o gato. Lembre-se da posse responsável!
Juntos, eles também aprenderão a respeitar o espaço um do outro. Enquanto o bicho estiver dormindo ou comendo, é fundamental que você ensine seu filho a respeitá-lo e deixá-lo quieto, caso contrário ele pode ficar nervoso. Se a criança for contrariada pelo pet, pode ser uma boa maneira de aprender a lidar com frustrações.
“Assim como ter um animal em casa requer concordância de todos, não ter também precisa de diálogo”, aconselha o psicólogo.Você deve ser firme ao dizer que aquele não é o momento apropriado para a chegada do bicho na família e ressaltar os cuidados. Se houver uma possibilidade, diga também que um cão ou um gato pode fazer parte dos planos futuros da família, mas que isso deverá acontecer após uma preparação e com a participação de todos. Sim, o seu filho vai ficar triste, pode até chorar. O mais importante, no entanto, é que com isso ele vai aprender que não são todas as suas vontades que serão atendidas assim como acontece durante toda a vida. Com o tempo, vai ter mais tolerância e se tornar um adulto mais compreensivo. Pode apostar!