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Associação denuncia descaso com pacientes que aguardam transplantes e hemodiálise

Por THALIS GUTIERRES, DA CONTILNET

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Representantes da Apartac irregularidades em tratamentos que necessitam de hemodiálise no Acre/Foto: Thalis Gutierres/ContilNet

A Associação dos Pacientes Crônicos Renais e Transplantados do Estado do Acre (Apartac) recebeu a Redação da ContilNet na manhã de terça-feira (31) para denunciar a falta de atenção dos representantes da Saúde com os pacientes que necessitam do tratamento de hemodiálise e transplantes no estado.

A presidente da associação, Berenice Sales da Silva, apresentou um apurado de denúncias levadas ao Ministério Público (MP/AC) contra o sistema de saúde de acreano. De acordo com ela, as atuais condições das máquinas que funcionam nos centros de hemodiálise beiram ao absurdo e acrescenta ainda que a falta de um quantitativo necessário de profissionais especializados no tratamento faz que os pacientes sejam atendidos de forma especulativa, sem o devido cuidado.

“A situação é triste, a falta de espaço, a falta de máquinas, a falta de médicos, é difícil dizer o que não falta. Você só tem cinco médicos especializados em nefrologia, sendo que apenas três estão em atividade, e um cirurgião vascular para atender 260 pacientes cadastrados na nossa associação, além de casos eventuais. É um absurdo. Na ausência de um especialista em nefrologia, somos atendidos por um clínico geral, que muitas vezes tem que perguntar a um enfermeiro sobre o procedimento”, relatou.

A presidente da associação, Berenice Sales da Silva, apresentou um apurado de denúncias levadas ao Ministério Público/Foto: Thalis Gutierres/ContilNet

A presidente ainda alertou para as condições de higienização das máquinas de tratamento de hemodiálise, que, de acordo com ela, estariam sobrecarregadas e muitas vezes com a higienização incompleta, sendo feita apenas à base de soro.

“Uma sala, 34 máquinas, sendo que seis se encontram quebradas, para 260 pacientes. As máquinas estão trabalhando quatro turnos, sendo que são quatro horas de tratamento e 1h40min para higienização das mesmas. São desumanos os horários e condições a que nos submetem. O que estão fazendo conosco é um ‘maldiálise’, e o fato de estarem forçando as máquinas prejudica as condições do tratamento. Estão brincando de fazer hemodiálise”, contou a presidente.

Paciente enfrentam problemas que vão desde os exames que antecedem o procedimento cirúrgico até a aquisição dos remédios para o período pós-transplante/Foto: Thalis Gutierres/ContilNet

Em relação às dificuldades enfrentadas por pacientes à espera de transplante ou já transplantados, o tesoureiro da associação, Wanderli Ferreira da Silva, afirma que os problemas vão desde os exames que antecedem o procedimento cirúrgico até a aquisição dos remédios para o período pós-transplante.

“O estado do Acre tem aproximadamente 100% de recusa no que se diz respeito à doação de órgãos. Mesmo com pacientes em prioridade, é quase impossível obter uma resposta quando se precisa do tratamento fora do domicílio (TFD). Os remédios que nós transplantados precisamos eventualmente ainda faltam. A nossa impressão é que falta incentivo do governo, em forma de campanhas ou algo assim, falta que ele [governo] se envolva mais”, declarou o tesoureiro.

Berenice ainda fez questão de nos relatar em números o quadro atual dos pacientes no estado.

“Hoje nós temos 15 pacientes aguardando sem poder ter acesso necessário ao tratamento. Em relação aos pacientes que necessitam de prótese, por terem um acesso temporário e não haver mais a possibilidade de se colocar um novo, por condições que vão desde uma veia que não responde mais até as complicações desumanas de um retransplante, estes precisam arcar do próprio bolso e viajar atrás de resolver fora do estado, caso contrário morrerão”, ressaltou.

Lúpus

A fundadora e primeira presidente da Apartac, Rosenele Araújo Moreira, é portadora do lúpus, uma doença autoimune que faz que o próprio sistema imunológico ataque os tecidos corporais do portador. Ela nos relata todas as dificuldades que enfrenta na sua luta contra a doença, que não tem cura.

Rosenele luta contra o lúpus/Foto: Thalis Gutierres/ContilNet

“A minha luta já vem de 20 anos atrás. Quando eu descobri a doença, eu estava grávida, e comecei a sentir febres muito altas, dores nas articulações, meu cabelo começou a cair, mas muitas das vezes que fui ao médico sempre ouvi que era virose”, relatou.

Rosenele, após dois transplantes e uma rejeição, utiliza o tratamento crônico de hemodiálise do estado, mas, por causa do excesso de acessos já implantados no corpo, ela precisa da colocação de uma prótese não oferecida pelo estado, antes que o acesso temporário que tem hoje pare de funcionar.

Segundo ela, já perdeu a conta dos gastos feitos com tratamento, transplante e remédios, já que, por não ter condições de aguardar a demora na saúde pública , optou pelo planos de saúde particular.

“A situação está de um jeito que ou você viaja em busca tratamento fora do estado ou morre. Tudo aqui está desorganizado, ou quebrado ou faltando algo. Eu já nem sei mais quanto meu marido gastou com meu tratamento, mas, com a qualidade do serviço que nós temos aqui, é fazer isso ou morrer.”

Outro lado

A assessoria de comunicação da Secretaria de Saúde do Acre enviou à Redação da ContilNet nota afirmando que o Estado aguarda a chegada de novas máquinas ainda este ano. Confira a nota abaixo:

De acordo com a superintendente do Hospital das Clínicas (HC) de Rio Branco, um processo licitatório, iniciado em outubro de 2015, foi finalizado e homologado no mês de maio de 2016, com previsão de entrega nos próximos 15 dias de 38 máquinas novas de hemodiálise que estão sendo importadas da Itália. Alguns reparos na estrutura física e nas cadeiras deverão estar finalizados até entrega das máquinas. Quanto a medicação, o setor de nefrologia disponibiliza os exames mensais e o profissional farmacêutico a fim de consolidar todo processo a ser encaminhado a CREME para envio da medicação.

Quanto a “recusa de doações de órgãos”, o governo do Estado, bem como o governo federal, promove campanhas constantes de conscientização sobre a importância da doação, contudo, esta é uma decisão que cabe do indivíduo que deve informar, em vida, aos seus familiares sobre sua vontade de doar seus órgãos em caso de óbito.

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