19 de abril de 2024

‘Queremos investir no cinema brasileiro’, diz executivo da Netflix

RIO — A Netflix divulgou na semana passada uma nova pesquisa sobre os hábitos de consumo entre seus assinantes, dividindo as séries exibidas entre “devoradas” e “saboreadas”. Na primeira categoria se enquadram as que são assistidas em pouco tempo pelo espectador, sobretudo suspenses (como “Breaking bad”) e terrores (“The walking dead”), enquanto na segunda estão programas vistos paulatinamente, como comédias (“BoJack Horseman”) e dramas políticos (“House of cards”). Nenhum desses exemplos, contudo, ainda é originalmente falado em português. Mas isso pode mudar.

Em entrevista ao GLOBO, o executivo-chefe de conteúdo da Netflix, Ted Sarandos, diz que a empresa planeja investir na produção brasileira. Atualmente a Netflix produz no Brasil a série “3%”, com direção de Cesar Charlone, ainda sem data de estreia, e já anunciou que vai se reunir com o cineasta José Padilha para a discutir a série que o diretor brasileiro prepara sobre a Operação Lava-Jato. Para Sarandos, o potencial é grande num país em que a série mais ‘‘saboreada’’ é “House of cards” (no mundo é “BoJack Horseman”) e a mais “devorada” é “The fall” (a mesma no mundo).

Existe algum equilíbrio ideal entre as séries ‘‘devoradas’’ e ‘‘saboreadas’’? Alguma é melhor do que a outra para os negócios?

Eu acho que as pessoas assistem a uma mistura delas. Uma das grandes mudanças é que as pessoas passaram a ver uma série inteira antes de assistir a outra. Em vez de você ver uma série na noite de quarta, uma na quinta e outra no sábado, você prefere uma maratona inteira de “Breaking bad’’ e só depois parte para o próximo programa. O que nós fazemos é ter as opções que se enquadrem em todos os gêneros.

A Netflix é conhecida pelo uso constante de dados estatísticos para determinar os gostos dos assinantes e então tomar decisões sobre a produção ou exibição do conteúdo. Mas e a intuição? Ela não exerce papel na empresa?

Nós usamos algoritmos para determinar as possibilidades econômicas de uma série, mas não na decisão criativa de qual série produzir. Definitivamente o que fazemos é mesclar os dados e a intuição. É um modelo que tem se mostrado bem-sucedido até agora.

O quanto o Brasil é importante para os negócios da Netflix? Sei que vocês não costumam dizer números de assinantes, mas eu preciso perguntar: quantos assinantes há no país?

Não posso abrir os números do Brasil, mas é um dos nossos mercados que mais crescem. Foi um dos nossos primeiros territórios internacionais, e acho que ter chegado cedo aí nos ajudou a desenvolver boas estratégias de programação; boas relações bancárias, o que faz com que os pagamentos com cartão de crédito funcionem bem; e um melhor conhecimento do gosto dos brasileiros. E também acho que vamos bem no Brasil porque, antes de a Netflix chegar, havia um limite de escolhas. Nós trouxemos mais opções.

Atualmente vocês têm uma série original sendo produzida no Brasil, a ‘‘3%’’, e anunciaram uma outra, que será dirigida pelo José Padilha. Há mais a caminho?

Ted Sarandos, chefe executivo de conteúdo da Netflix - Ana Branco / Agência O Globo

Ted Sarandos, chefe executivo de conteúdo da Netflix – Ana Branco / Agência O Globo

A beleza do Brasil é que se trata de um mercado maravilhoso, com grandes contadores de história, e já com uma boa infraestrutura de produção. José foi uma das primeiras pessoas que eu conheci quando estava pesquisando sobre o mercado brasileiro, mantivemos contato e nossa relação foi parar em ‘‘Narcos’’ e depois no projeto em que ele trabalha agora. Já ‘‘3%’’ é bem diferente, é voltada para um público mais jovem, é uma ficção científica distópica. É uma série feita no Brasil, em português e acho que vai viajar bem para todo o mundo.

Mas existe uma meta para a produção de séries originais no Brasil?

Não temos uma meta definida, mas é importante dizer que também não temos um limite para o que podemos produzir no Brasil. Estamos atrás de boas séries e bons roteiristas, e o Brasil está cheio deles.

E quanto à produção de filmes? Existe algo em vista para o Brasil?

Queremos investir no cinema brasileiro. Há tão poucos filmes brasileiros que viajam para fora do Brasil e alcançam uma audiência global. Então a gente vê isso como uma oportunidade com a qual pretendemos trabalhar.

Recentemente foram publicadas notícias de que a Netflix realizou testes para a inserção de publicidade…

Isso não é verdade.

Mas é uma notícia recorrente. São comuns os boatos sobre a Netflix começar a vender espaço publicitário.

As pessoas espalham esses boatos porque odeiam a possibilidade. Mas, a curto prazo, nós não planejamos colocar propaganda na Netflix.

Muitos diretores de cinema produziram ou anunciaram parcerias com a Netflix. O que faz os cineastas deixarem de lado o lançamento no cinema e aceitarem a ideia do streaming?

Os diretores querem que seus filmes sejam culturalmente relevantes. Antigamente isso significava estar num cinema, mas hoje a Netflix oferece essa relevância cultural. Por exemplo, em dezembro todo o mundo falou sobre nossa série “Making a murderer”. Nós conseguimos fazer de um filme um assunto global. Sua exibição no cinema não chega perto disso.

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