Antes da gestão da professora Rosana Nascimento, o primeiro compromisso do Sinteac era com partidos. Depois, com governos. O resultado dessa relação promíscua foi o financiamento de campanhas políticas à custa de contribuições dos educadores.
A afirmação é da própria presidente do principal sindicato do estado, a professora Rosana Nascimento. Ela denuncia haver uma campanha difamatória orquestrada por petistas e comunistas para retomar a entidade nas eleições de agosto.
A sindicalista alerta que partidários do PCdoB e PT “requentam” acusações que a Justiça julgou improcedentes no ano passado. “Há um dossiê pronto para circular nas escolas, me chamando de ladra. Eu não pensei que chegassem a tal ponto. Enfrentarei cada um com meu passado limpo”, afirmou.
Rosana encabeçou o afastamento da ex-secretária de finanças do Sinteac, em decisão da diretoria e do Conselho Administrativo, após uma sindicância confirmar desvios das contribuições para a compra de terrenos, carros e outros bens em favor da tesoureira afastada.
Uma sentença assinada pelo juiz do trabalho Edson Carvalho Barros Júnior condenou a ex-tesoureira, que confessou os crimes.
A presidente do Sinteac faz revelações fortes na entrevista abaixo. Leia.
“Quem assume o sindicato, independente de sua filiação, precisa olhar primeiramente para o trabalhador. A submissão a governos e partidos é um mal incurável”, diz Rosana Nascimento.
O que a senhora tem a dizer sobre a corrupção no Sinteac?
Seis meses depois que assumi as dificuldades só aumentavam. O dinheiro arrecadado, fruto das contribuições sindicais, era emprestado para terceiros. Foram beneficiados amigos dos ex-presidentes, funcionários que gerenciavam cooperativas e amigos de seus amigos. O conselho administrativo do Sinteac afastou a então tesoureira, que virou ré numa ação judicial por ter, entre outras irregularidades, quitado um carro do ex-marido com dinheiro do sindicato e comprado imóveis para fins particulares. Ela confessou tudo e foi condenada. Eles brincavam com as contribuições do trabalhador. Hoje o grupo que quer retomar o Sinteac é apoiado por essas pessoas.
A senhora se sente culpada por isso?
A minha culpa foi confiar em ladrão. Mesmo correndo o risco de ter a minha cabeça decepada, eu mandei investigar”. A Justiça fez justiça. O Sinteac hoje está livre de ingerência política e de pessoas que usavam a contribuição sindical para benefício próprio.
Explique melhor essa campanha difamatória.
Farão as mesmas acusações do passado. Que eu usei dinheiro do sindicato para comprar fogão, geladeira, grade e até portão para minha casa. Até a minha mãe entra como beneficiária de uma transação ilegal que nunca existiu. Baixaria pura. Quero ver provarem minha culpa. Eu provo que a tesoureira ligada a eles foi sentenciada como ré confessa. É muito chato ter que relembrar essas coisas, mas não posso deixar que manchem meu nome e a imagem de minha família. Todas as contas do sindicato estão disponíveis aos sócios. Basta comparecer na nossa sede.
O que houve com o repasse dos convênios?
Tivemos que cobrir um rombo de R$ 300 mil referentes a um calote aplicado às empresas conveniadas. As auditorias concluíram que parte dos recursos descontados do salário dos filiados era repassada a terceiros. E assim o maior sindicato do Acre ajudava a financiar campanhas de políticas.
E a saúde financeira da entidade?
O Sinteac correu sério risco de perder seu registro no Ministério do trabalho. Tivemos que enxugar gastos e tentar recuperar o que foi desviado para legalizar a entidade junto a órgãos estaduais e federais. Pegamos o Sinteac inadimplente, com dívidas de encargos trabalhistas enormes na Receita Federal e no INSS. Não digo que as finanças estão saudáveis, mas as coisas melhoraram muito.
Como era a relação política no Sinteac ?
Historicamente, o Sinteac tem sido a menina dos olhos do PT e do PCdoB. O compromisso maior dos ex-dirigentes era com a causa política. Isso não pode. Nas disputas eleitorais, o apoio da entidade era rateado entre os dois partidos.
E a pauta dos trabalhadores ?
Primeiro se negociava com o patrão (governo), para depois levar à categoria. Está errado. O patrão só deve ser informado sobre aquilo que os trabalhadores deliberam como pauta de reivindicação.
A senhora autorizou fiscalizações na sua gestão. Por quê?
Transparência. Nada mais que isso. Quero dormir o sono da tranquilidade. No passado, nunca tiveram o cuidado de atualizar o estatuto do Sinteac. Imagine você o maior sindicato do estado não possuir um Conselho fiscal. Pois bem. Criamos este colegiado e botamos os conselheiros dentro do sindicato. Eu faço questão de ser fiscalizada. Não tenho nada a esconder. Faço a prestação de contas a cada três meses. Isso me deixa tranquila, pois sei que cada centavo é investido na luta dos educadores do Acre.
O que é o Sinteac hoje ?
O sindicato está moralizado. Quando chegamos, não tínhamos sequer como servir cafezinho aos filiados. Não havia copo descartável, nem papel higiênico. Só contávamos com um veículo, modelo Fiat Uno, que estava batido. A rede elétrica e hidráulica e as paredes da sede estavam destruídas.
Muitos questionam sua saída do PT…
Quem não entendeu a minha desfiliação do PT pode refletir sobre o que está acontecendo agora nas escolas. O governo começou a pressionar os representantes de núcleo, assediar moralmente professores e funcionários, na tentativa de desgastar a nossa gestão. Eu abandonei o PT porque a direção do partido e o próprio governo desrespeitaram o direito de greve, no ano passado. É imperdoável o patrão acionar o empregado na Justiça, cassar o direito de exigir seus direitos, ameaçar demitir e cortar ponto. Eu estou acostumada, mas para os trabalhadores a ferida ainda está aberta.
O que a senhora acha dos possíveis candidatos ao Sinteac?
Todos têm potencial. Mas considero que a nossa categoria aprendeu a conhecer melhor quem é quem. Os trabalhadores em educação estão magoados. Eles sabem qual o real compromisso desses partidos, que, ao invés de ajudar, se omitiram. Mas não adianta ter potencial. É preciso ter autonomia e liberdade sindical. Tenho absoluta certeza que os trabalhadores conhecem cada figura tarimbada que está aí. Sabemos que o governo já está usando a máquina pública para desclassificar a nossa gestão. Graças a Deus, apesar de lutar contra um poderio político gigantesco, nós temos muito a comemorar.
Fale sobre o patrimônio do Sinteac.
O sindicato possui sede própria em todos os municípios e uma equipe gestora competente. Em Rio Branco, temos um Fiat Strada, que fica à disposição da sede campestre. Temos um outro para atender as escolas, uma caminhonete para deslocamento a municípios e ramais, e um microônibus. A motocicleta serve para resolver as demandas da Unimed, a seguradora do plano de saúde dos sócios. E ainda temos uma lancha, adquirida na gestão Manoel Lima, mas que não é usada.
Muitos filiados elogiam a nova cara do sindicato….
Promovemos uma reestruturação interna necessária para atender o filiado como ele merece. O atendimento está mais humanizado. Nosso auditório era um sonho antigo. Ampliamos e reconstruímos a cozinha industrial do clube, fizemos pinturas novas em todos os prédios e criamos um centro de saúde dentro do sindicato com clínico geral, odontólogo (manhã e tarde, inclusive com tratamento de canais frontais), ginecologista e dois psicólogos. Conseguimos ampliar a Casa do Trabalhador, com seis apartamentos exclusivos para filiados de outros municípios que chegam à capital para tratamento de saúde. Tudo gratuito.
A senhora se sente à vontade para avaliar sua gestão?
Não. Isso fica para os filiados. Mas tenho consciência dos princípios que adoto para a missão sindical. Sem autonomia e liberdade não é possível defender a causa do trabalhador. Sou sindicalista por paixão. Divido essa alegria com todos que acreditam nesta gestão. A nossa diretoria tem seus méritos também.
Por que o Sinteac possui apenas sete diretores?
Não pagamos salários para dirigentes. Havia outros. Aqueles que optaram por estar na sala de aula exerceram seu direito de escolha. Normal.
Advogado de graça foi uma boa ideia…
Sim. O Sinteac contratou banca para atender a todos os filiados, que não precisam pagar nada em suas ações, ao contrário do que acontecia nas gestões passadas. Basta ligar 3015-1642 e se informar melhor.
“Recebi o Sinteac com 8.176 filiados. Hoje são 10 mil. Nosso trabalho refletiu em novas adesões. Somente na greve do ano passado foram 510 novos filiados. Acho que estamos no caminho certo” – Rosana Nascimento.
Que apoio tem dado aos núcleos?
Em nenhum momento nos descuidamos das negociações no interior. Demos prioridade à estruturação dos núcleos do Sinteac em todo o estado. Eles têm uma contribuição pequena. Precisam de ajuda.
O que a senhora vai cobrar dos políticos futuramente?
Vamos construir uma plataforma com diretrizes para a educação em Rio Branco e todo o estado. O que queremos e precisamos será transformado num documento. Isso chegará às mãos dos candidatos a prefeito e a governador. Os educadores precisam avaliar bem quem é quem nessas eleições. Temos exemplos de muitos traidores nos parlamentos.
(Assessoria Sinteac)