18 de abril de 2024

Bacillus em esponjas da Amazônia pode inibir rejeição em transplantes

Fontes de substâncias antibióticas estão em uma espécie de esponja de água doce chamada Metania reticulata/Foto: Reprodução.

Fontes de substâncias antibióticas estão em uma espécie de esponja de água doce chamada Metania reticulata/Foto: Reprodução.

MANAUS – Entre as diversas riquezas da Amazônia, cientistas investigam substâncias antibióticas cujas fontes estão em uma espécie de esponja de água doce chamada Metania reticulata, que integra o filo Porifera. E foi nesses organismos, considerados animais bentônicos sésseis, que os cientistas isolaram cepas bacterianas, especificamente do gênero Bacillus, que mostrou atividade antimicrobiana.

“Testamos então os extratos deste Bacillus e observamos duas moléculas com atividade semelhante à ciclosporina, droga usada principalmente para inibir a rejeição em transplantes de órgãos”, conta o professor Márcio Reis Custódio, do Departamento de Fisiologia do Instituto de Biociências (IB) da USP.
O cientista do IB e outros pesquisadores assinam o artigo Reduction of RBL–2H3 cells degranulation by nitroaromatic compounds from a Bacillus strain associated to the Amazonian sponge Metania reticulata, veiculado no volume do Journal of the Marine Biological Association of the United Kingdom (JMBA) que relata estudos sobre o filo Porifera.
Custódio ressalta que a maioria das esponjas é marinha. “As esponjas que estudamos pertencem a um grupo relativamente pequeno, com algo em torno de 250 espécies de um total de mais de 8 mil descritas no filo Porifera. O Brasil abriga um bom número dessas espécies de água doce, cerca de 50. Mas este número pode ser bem maior, já que o conhecimento ainda é limitado”, adverte o cientista. Ele ressalta que a grande maioria dos trabalhos sobre este grupo no Brasil se deve a uma única pesquisadora, a professora Cecília Volkmer-Ribeiro, da Fundação Zoobotânica do Rio Grande do Sul. “É pouco para um país com uma diversidade biológica como o nosso.”
Trabalho preliminar
Segundo Custódio, o trabalho ainda é bastante preliminar e foi feito mais como uma prova de conceito, partindo de alguns pontos já conhecidos. Um deles é o fato de que alguns antibióticos (macrolídeos) podem afetar o sistema imune e respostas inflamatórias, e talvez as esponjas pudessem ter algumas dessas substâncias. “Verificada a presença destes compostos, como foi feito, as possibilidades são amplas”, comemora.
“Falta caracterizar melhor estes compostos e seu modo de ação, além de identificar melhor o microrganismo responsável pela sua produção”, adverte. Contudo, ele ressalta dois pontos que considera de interesse especial: um é o fato de que os extratos de esponjas em geral sempre mostram alguma atividade antibiótica, e esses extratos poderiam ser testados também para detectar novos compostos capazes de alterar as respostas de nosso sistema imune; outro é o fato de ser uma esponja da Amazônia, o que reforça o potencial biotecnológico daquela região e a necessidade de mais estudos.
De acordo com o cientista, não há ainda a utilização pela indústria farmacêutica de substâncias produzidas pelas esponjas amazônicas. “Até onde sabemos, este é o primeiro artigo relatando a obtenção de compostos bioativos a partir de uma esponja da região [ou de sua microbiota]. Assim, ainda há muito a ser explorado”, afirma.
Custódio explica que as esponjas e a sua microbiota são bem conhecidas por produzirem substâncias antibióticas e que, apenas no Estado de São Paulo, existem cerca de 160 espécies registradas, marinhas e de água doce, que poderiam ser testadas quanto à presença de imunossupressores. “Mas isso certamente demandaria uma estrutura mais adequada do que a que temos no momento. Já existe uma boa base de dados a respeito de compostos bioativos, obtida a partir do trabalho de um grupo da USP, em São Carlos, do professor Roberto Berlinck, que poderia servir de ponto de partida.”

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