Juiz Sérgio Moro é a nova paixão do mercado editorial

Três livros sobre o juiz paranaense Sérgio Moro chegam às livrarias

Três livros sobre o juiz paranaense Sérgio Moro chegam às livrarias

Dois anos foram mais do que o suficiente para transformar o juiz paranaense Sérgio Fernando Moro, de 43 anos, numa verdadeira paixão nacional por comandar o julgamento em primeira instância dos crimes identificados na Operação Lava Jato, apontada pelo Ministério Público Federal como o maior caso de corrupção e lavagem de dinheiro já apurado no Brasil. O mercado editorial aproveitou a popularidade do juiz para colocar nas livrarias publicações que trazem o nome dele no título. Recentemente foram lançados dois livros e uma biografia. Mas não seria muito prematuro? Joice Hasselmann, a autora de “Sérgio Moro – A História do homem por trás da operação que mudou o Brasil”, garante que não. “Sérgio Moro tem uma história tão rica e tão simples que merece essa biografia contando a história dele até aqui e outras no futuro. Quem sabe venha logo, logo o volume dois”, torce.

O advogado e professor universitário Luiz Scarpino Junior, autor de “Sérgio Moro – o homem, o juiz e o Brasil”, pensa completamente diferente, alertando para o fato de não ter feito uma biografia. “Não ousaria escrever uma biografia de uma pessoa viva, ainda mais com a história em andamento. O livro objetiva ser uma espécie de ‘manual’ para entender a Lava Jato e não teria como abordá-la senão com o protagonismo e a mística que Sérgio Moro atrai. Devo destacar que o sucesso de uma operação não é apenas de um personagem, de um juiz. Nós estamos vivendo um momento em que a sociedade cobra do judiciário uma atuação forte. Moro é um fator-chave para o sucesso da Lava Jato, mas não age sozinho”, assegura.

Os dois livros são frutos de encomenda das respectivas editoras, mas a jornalista Joice Hasselmann garante que o livro foi feito para mostrar porque Sérgio Moro age sempre com a espinha ereta e como ele se mantém inabalável. “O povo brasileiro merece e precisa saber disso. Essa biografia é um presente para a nação. Temos que resgatar os valores perdidos e Moro é um exemplo de que é possível fazer diferença. Essa biografia é para ajudar a despertar os ‘Moros’ dentro dos brasileiros”, explica. Formado em Direito pela Universidade Estadual do Paraná, o juiz federal começou a se destacar em 2003, quando teve início o caso Banestado, que teve 97 pessoas condenadas e, em seguida, num desdobramento desse caso, denominado Operação Farol da Colina, ele decretou a prisão provisória de 103 suspeitos de evasão de divisas, sonegação, formação de quadrilha e lavagem de dinheiro.
Lava Jato
“Moro já era conhecido como um especialista em crime de lavagem de dinheiro, e quis o destino que um crime envolvendo meros doleiros em um posto de combustível se revelasse o maior escândalo de corrupção já apurado no Brasil, com um esquema complexo envolvendo o ataque sistemático à Petrobrás. Outro aspecto que cito no livro é o ponto de convergência com a operação italiana Mãos Limpas, que Moro já havia abordado em 2004 em um artigo jurídico. Naquela época, Moro sonhava em aplicar aqui no Brasil algo parecido, e inúmeras estratégias que foram adotadas na Itália estão sendo replicadas na Lava Jato”, relata Luiz Scarpino Junior.

Divulgação

Capa do livro “Lava Jato”, do jornalista Vladimir Netto

O repórter da TV Globo e vice-presidente da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), Vladimir Netto, autor de “Lava Jato – O juiz Sérgio Moro e os bastidores da operação que abalou o Brasil”, não considera prematuro um livro que gire em torno especificamente da Operação Lava Jato. “Nesses dois anos já aconteceram tantas coisas importantes que justificavam a produção de um livro. E o ponto de corte com a data de dois anos me pareceu adequado. Já era claro que a Lava Jato tinha feito história. A partir daquele momento eu poderia terminar o livro. No mais, desde o começo, nós já sabíamos que esse era um projeto que teria uma continuidade”, analisa. Mas salienta para o fato de não se tratar de uma biografia: “O livro é um relato dos fatos e personagens que fizeram parte desta operação até o momento. O juiz é um desses personagens que participam dessa luta contra a corrupção. A Lava Jato não é o trabalho de um homem só. É claro que a figura do Moro é central e sempre será, mas ele não fez isso sozinho”.

Vladimir Netto considera que, nesses dois anos, a operação Lava Jato já teve momentos importantíssimos, sendo os principias as primeiras delações premiadas do doleiro Alberto Youssef e do Paulo Roberto Costa, ex-diretor da Petrobrás; a lista do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, que marca a chegada da operação ao Supremo Tribunal Federal; e o avanço das investigações entre os políticos, com a prisão do senador cassado Delcídio do Amaral. “O principal mérito da operação é ter conseguido muitos resultados positivos, mais do que qualquer outra antes dela”, acrescenta.
A intimidade de Moro
Para Joice Hasselmann, desde a infância na cidade-natal Maringá, Sérgio Moro demonstra o mesmo equilíbrio e determinação que o consagraram. “Sempre soube o que queria. Sempre quis ser juiz. Durante muito tempo ele tentou não mudar de hábitos, mas as pressões por condução coercitiva de Lula obrigaram nosso juiz a ter muitos cuidados com a segurança dele e da família. Mesmo assim, ele mantém alguns hábitos como o de comprar histórias em quadrinhos na mesma banquinha quando vai a Maringá, ou reunir os amigos de faculdade para um churrasco no final de semana. Em caso, ele é pai e marido dedicado e amoroso e, mesmo no meio do olho do furação, consegue tempo para a família”, conta. Mais uma vez Luiz Scarpino Junior discorda de Hasselmann e garante que a vida particular de Moro não é um fato central para entender o juiz da Lava Jato. “Exceto pelo fato de ter sido um homem bem-educado, aplicado e vocacionado para a função que ocupa”, destaca.

Se Joice Hasselmann garante que os lançamentos do livro contaram com filas de até quatro horas e até com coral, queima de fogos, banda e sanfoneiro, Vladimir Netto festeja a terceira reimpressão da obra dele, num total de 90 mil exemplares. Já Luiz Scarpino Junior comemora o fato de o próprio juiz Sérgio Moro já ter sido fotografado autografando o livro e da obra ter aparecido em diversas listas de mais vendidos, tanto de veículos de comunicação quanto de redes de livrarias. “Quando ao fato de terem sido lançados outros livros sobre o assunto, considero natural, dada a importância do tema no atual cenário político nacional. É um assunto que desperta muito interesse, então é uma consequência normal o surgimento de diversas obras que falem sobre isso, cada uma com seus focos e abordagens”, acrescenta. Um dos mais aclamados biógrafos do país, Ruy Castro, que sempre garantiu que nunca escreveria a biografia de alguém vivo, complementa: “Sempre digo que eu não faria a biografia de alguém vivo. Não quer dizer que sou contra que outros façam. E o interesse pelo juiz Moro é evidente, não? O país está apaixonado por ele”.

PUBLICIDADE