Os benefícios dos exercícios para o cérebro já foram relatados antes. Quando roedores de laboratório ou outros animais se exercitam, eles criam neurônios extras em seus cérebros, um processo conhecido como neurogênese. Estas novas células, então, agrupam-se em porções do cérebro críticas para o pensamento e para as lembranças.
Ainda mais reveladores, outros experimentos descobriram que os animais que vivem em gaiolas animadas com brinquedos coloridos, variedades de sabor de água e outros enriquecimentos acabam mostrando maior neurogênese do que os animais em gaiolas monótonas. Mas os animais que tenham acesso à uma roda de corrida, mesmo se não tiverem também todos os brinquedos e outros extras, desenvolvem mais células cerebrais novas entre todos.
Estas experiências sugerem fortemente que, embora a estimulação mental seja importante para a saúde do cérebro, a estimulação física é ainda mais potente.
Mas os cientistas até agora não haviam mostrado precisamente como o movimento físico “refaz” o cérebro, embora todos concordem que o processo seja complexo.
Estudo dos músculos
Fascinados por essa complexidade, os pesquisadores do National Institute of Health, nos EUA, recentemente começaram a se perguntar se alguns dos passos necessários poderiam estar ocorrendo muito longe do próprio cérebro e, especificamente, nos músculos, que são a parte do corpo mais afetada pelo exercício. Músculos exercitados se contraem, queimam combustível e bombam para fora uma grande variedade de proteínas e outras substâncias.
Os pesquisadores do N.I.H. suspeitaram que algumas dessas substâncias migram dos músculos para a corrente sanguínea e, em seguida, para o cérebro, onde provavelmente contribuem para a saúde do órgão. Mas o mistério está em quais substâncias estariam envolvidas.
Assim, para o novo estudo, que foi publicado no mês passado, os pesquisadores isolaram pela primeira vez células musculares de ratos em placas de Petri e encharcaram-nas com um peptídeo que afeta o metabolismo das células de formas que imitam o exercício aeróbico. Eles fizeram as células pensarem que estavam correndo.
Em seguida, utilizando uma técnica chamada de espectrometria de massa, os cientistas analisaram os diversos produtos químicos que as células musculares liberaram depois do pseudo-exercício, focando nas poucas que podem atravessar a barreira entre o sangue e o cérebro.
A proteína mágica
Eles focaram em uma substância em particular, uma proteína chamada catepsina B. Ela é conhecida por ajudar os músculos doloridos a se recuperarem, em parte, ajudando a limpar os detritos celulares, mas não tinha sido previamente considerada parte da cadeia que liga o exercício com a saúde do cérebro.
Para determinar se a catepsina B poderia, de fato, estar envolvida na saúde do cérebro, os pesquisadores adicionaram um pouco da proteína em neurônios vivos em outras placas de Petri. Eles descobriram que essas células cerebrais começaram a produzir mais proteínas relacionadas à neurogênese.
Os cientistas descobriram que a catepsina B também provou ser abundante na corrente sanguínea de ratos, macacos e pessoas que correm. Em experiências realizadas em colaboração com colegas na Alemanha, os pesquisadores fizeram ratos correrem por várias semanas, enquanto macacos rhesus e homens e mulheres jovens foram para as esteiras durante quatro meses, exercitando-se vigorosamente cerca de três vezes por semana durante cerca de uma hora, ou às vezes mais.
Durante esse tempo, as concentrações de catepsina B nos animais e nas pessoas aumentou constantemente, e todos os corredores começaram a ter um melhor desempenho em vários testes de memória e pensamento.
O mais impressionante é que os voluntários humanos que mais tinham melhorado sua parte física – o que sugere que eles tinham se exercitado de forma particularmente intensa – não só tinham os mais altos níveis de catepsina B no sangue, mas também os resultados dos testes que mais melhoraram.
Quanto exercício?
Finalmente, os cientistas criaram camundongos sem a capacidade de produzir catepsina B, inclusive após o exercício – nada como retirar algo para mostrar quão importante aquilo pode ser. Os pesquisadores fizeram esses ratos e outros animais normais se exercitarem por uma semana, então mediram sua capacidade de aprender e reter informações.
Após os exercícios, os ratos normais aprenderam mais rapidamente do que antes e também mantiveram essas novas memórias. Mas os animais que não podiam produzir catepsina B aprenderam de forma hesitante e logo esqueceram as suas novas competências. Correr não os tinha ajudado a se tornarem mais inteligentes.
A lição dessas experiências é que nossos cérebros parecem funcionar melhor quando estão repletos de catepsina B, e nós produzimos mais catepsina B quando nos exercitamos, diz Henriette van Praag, pesquisadora no Instituto Nacional sobre Envelhecimento na N.I.H., que supervisionou este estudo.
Naturalmente, o aumento da catepsina B explica apenas parte dos benefícios do exercício para o cérebro, disse ela. Praag e seus colegas planejam continuar procurando outros mecanismos em estudos futuros.
Eles também esperam aprender mais sobre quanto exercício é necessário para obter os benefícios cerebrais. O regime de exercícios que os corredores humanos seguiram neste estudo foi “bastante intenso”, disse ela, mas é possível que exercícios mais leves sejam quase tão eficazes.
“Há uma boa razão para pensar”, disse ela, “que qualquer quantidade de exercício vai ser melhor do que nenhum para a saúde do cérebro”. [NY Times]