19 de abril de 2024

Eduardo Carneiro fala sobre feriado de “06 de agosto” e a Revolução Acreana

 

12219515_10206935700489285_5845013192360055721_nO professor Eduardo Carneiro é regionalmente conhecido pelos seus pontos de vista críticos em relação a assuntos de extrema relevância à História do Acre e seus municípios. Em entrevista, Eduardo resolveu esclarecer sua visão em torno das comemorações cívicas e principalmente sobre a data comemorativa do dia 06 de agosto, data essa que dá nome a um bairro da Capital e é considerada de grande relevância para os moradores do Segundo Distrito de Rio Branco e historiadores locais.

Confira abaixo a entrevista:

PRIMEIRAMENTE, QUAL A SUA OPINIÃO SOBRE AS COMEMORAÇÕES CÍVICAS?

“Quer que eu seja sincero mesmo? Primeiramente, as festas cívicas nada mais são do que atos públicos de louvor a um passado falsificado pela escrita da história oficial. A narrativa é embelezada a fim de tornar o fenômeno digno de celebração. Tal fenômeno quase sempre está ligado a episódios bélicos em defesa dos interesses econômicos de certos grupos de interesse. Eventos de violência, de dominação e de opressão são revestidos com uma significância tal que deixam de ser reconhecidos como catástrofes humanas e passam a ser apreciados como dignos de veneração. Por isso que digo que, na maioria dos casos, comemora-se a representação manipulada do acontecimento e não o acontecimento propriamente dito”.

POR QUE O ESTADO SE PREOCUPA EM REALIZAR REGULARMENTE COMEMORAÇÕES CÍVICAS?

“As datas cívicas são rituais que preservam na memória coletiva os feitos das classes dominantes. Os rituais de desfiles, as paradas militares, os comícios, as trocas de bandeiras, as cantorias de hinos, os espetáculos públicos e outras tradições, são formas de o Estado incutir no povo a ideia de comunhão, de identidade e da submissão aos grandes homens. Além do mais, os promotores das comemorações quase sempre se colocam como herdeiros do passado glorioso comemorado, ou seja, quando a população é convocada para ovacionar o passado se está, na verdade, aplaudindo o tempo presente. Todo o glamour cerimonial serve para fomentar o otimismo social, gerando passividade coletiva”.

E NO ACRE?

As festas cívicas desempenharam e desempenham um papel fundamental na consolidação e manutenção da versão epopeica da história do Acre. É bom que se diga que nem a “Revolução Acreana” e nem Plácido de Castro se tornaram alvos de comemorações por iniciativa popular. Isso quer dizer que a força simbólica deles foi obtida a posteriori. Ou seja, a celebração não foi uma consequência da importância que o povo dava a eles, pelo contrário, eles só ganharam prestígio imagético coletivo por causa das celebrações e dos abusos da história praticados por grupos de interesse, como foi o caso dos autonomistas. Para estes, quanto mais espetacular fosse a história do Acre, mais veneração e civismo popular canalizariam em favor da causa que defendiam. No entanto, a narrativa epopeica parece ter sido uma necessidade para acobertar a desgraça indígena, o crime da invasão de território estrangeiro e a semiescravidão dos seringueiros”.

Eduardo Carneiro

O QUE VOCÊ TEM A DIZER SOBRE AS COMEMORAÇÕES DO “06 DE AGOSTO”?

“O 6 de agosto não foi comemorado pelos acreanos nos primeiros dez anos do século XX. Ela até serviu para dar nome a uma das principais ruas do Seringal Empresa, mas não consta registro de que ela tenha sido celebrada em atos públicos ou rituais festivos. A comemoração só veio a ocorrer a partir de dezembro de 1910, quando Epaminondas Jácome, auxiliar médico das tropas de Plácido de Castro, foi nomeado prefeito do Departamento do Alto Acre. Quando prefeito, ele decretou feriado nas repartições públicas para as datas 6 de agosto e 24 de janeiro. Jácome também mandou colocar um retrato de Plácido de Castro no salão de reuniões da prefeitura. Ou seja, a escolha do 6 de agosto era também uma estratégia de exaltar Plácido de Castro. Todas as experiencias de resistência ao governo boliviano anteriores ao 6 de agosto de 1902 foram malsucedidas, portanto, não convinham ser escolhidas como o início da dita Revolução.

VOCÊ CONCORDA QUE O ¨6 DE AGOSTO” SEJA REALMENTE A DATA DA GENEALOGIA DO ACRE?

“Não. O marco fundacional do Acre foi a expansão imperialista para a Amazônia. A escolha do 06 de agosto reflete um posicionamento episódico e provinciano do processo histórico. É preciso analisar a história para além da escala de observação local e regional. Foi o imperialismo capitalista que possibilitou a exportação de capitais para a Amazônia na segunda metade do século XIX, sem os não teria acontecido o boom da economia gumífera, consequentemente, não teria havido a colonização do Acre em fins dos anos 1870. Assim sendo, a história do Acre não começa com a Revolução Acreana, muito menos com a migração nordestina para a região, mas na expansão da Economia-Mundo Capitalista para o interior sul-ocidental amazônico. Começa com a inserção daquele reservatório natural de seringueira na cadeia produtivo-mercantil dos países imperialistas. Resumindo: o Acre foi gerado pelo imperialismo no ventre da ganância dos brasileiros que migraram para a região. Do ponto de vista jurídico, enquanto território nacional nasceu de fato e de direito com o Tratado de Petrópolis (1903).

QUAIS FORAM AS CAUSAS DA REVOLUÇÃO ACREANA?

“É triste dizer, mais a Revolução Acreana tanto enaltecida pela história e literatura oficiais não passou de um conflito armada em defesa da propriedade privada dos seringalistas e do monopólio da cobrança de impostos sobre a produção da borracha pelo Governo do Amazonas. Mas é óbvio que tais motivos jamais figurariam nos documentos oficiais escritos pelos líderes da dita “revolução”. Eles precisavam mobilizar a opinião pública nacional em favor da causa deles e, para isso, ardilosamente, fizeram uso abusivo das palavras pátria e patriotismo em seus discursos justificatórios. Afinal, era preciso beatificar aquela ação criminosa, sanguinária, classicista e interesseira com argumentos nobres e altruísta”.

POR QUE VOCÊ DIZ QUE A ORIGEM DO ACRE NÃO É GLORIOSA?

“A genealogia do Acre não tem nada de apoteótico. A narrativa epopeica que inventou os primeiros acreanos como heróis desconsidera todo o processo de formação histórica da própria sociedade acreana. Genocídio indígena, invasão de terras, confrontos armados, tráfico de prostitutas, regime econômico baseado na semiescravidão, sonegação fiscal, autoritarismo político, corrupção dos primeiros prefeitos, e tantas outras práticas das quais já seriam suficientes para confirmar que qualquer ufanismo diante desse passado é ideologicamente marcado”. A historiografia acreana não representa o conflito armado como prática incivilizada e nem a expansão territorial brasileira sobre a Bolívia como imperialismo. Não se debate as consequências sociais e ambientais que a produção do látex causou. Tudo o que mancha se sangue e lodo a imagem do acreano-herói é silenciado. Volto a dizer que a escrita da história do Acre é muito “acrEanocentrica”, e por isso, precisa ser “desACREanizada”, pois ela sofre de megalomania”.

ENTÃO, A REVOLUÇÃO ACREANA NÃO ERA UMA CAUSA POPULAR?

“Claro que não. Era uma questão de uma minoria apenas, de uma minoria que tinha alguma coisa a perder com a bolivianização da região. Para o seringueiro, por exemplo, pouco importava a nacionalidade do Acre, independente de quem fosse, continuariam “trabalhando para se escravizar” como diria Euclides da Cunha. Os seringueiros que participaram, assim o fizeram por causa que o dono do seringal do qual pertencia, havia aderido a Revolução e o liberara para tal fim com promessas materiais do tipo quitação das dívidas. A revolução não foi uma causa comum, consensual, unânime entre os acreanos e a unidade em torno dela nunca existiu”.

COMO ASSIM? NA ÉPOCA NÃO HAVIA CONSENSO SOBRE A REVOLUÇÃO?

Não mesmo, a ideia de união foi mais uma das muitas mentiras inventadas pela historiografia oficial. O Estado Independente de Galvez, por exemplo, foi duramente criticado por diversos grupos e lideranças: o liderado pelo coronel Neutel Maia, do seringal Empresa; o do Capitão Leite Barbosa, de Humaitá; e a da Comissão Garantidora dos Direitos Brasileiros; do Alto Acre. Isso sem dizer da população do Juruá, que não fazia parte do Estado Independente, e a população de lá sequer tomou conhecimento dos decretos expedidos por Galvez. De José Carvalho a Plácido de Castro, sempre houve os dissidentes – aqueles que apoiavam o governo boliviano; os opositores – aqueles que desejavam esperar a intervenção direta do governo brasileiro; os indiferentes – aqueles que, mesmo sabendo da insurreição, preferiram não tomar parte dela; e os desinformados, aqueles que nem ao menos souberam que estava acontecendo uma revolução”.

A14Z6166

Professor Eduardo Carneiro é também autor de diversas obras literais /Foto: ASCOM UFAC

E AFINAL, A REVOLUÇÃO ACREANA FOI DE FATO UMA REVOLUÇÃO?

“Não houve nada de revolucionário na Revolução Acreana. Pelo contrário, os objetivos dela eram reacionários, pois não se pretendia mudar nada, o alvo era justamente manter a ordem como estava e impedir qualquer alteração das peças do tabuleiro socioeconômico naquela região. O fato de os protagonistas do evento ter empregado o termo revolução em nada garante o caráter revolucionário dos acontecimentos. A adoção de uma abordagem jurídico-penal poderia lançar luz a essa pergunta. A iniciativa bélica acreano poderia ser estudada conforme o tipo criminal existente na legislação penal brasileira em vigor da época. Aliás, assim foi feito com Luiz Galvez e José Carvalho, pois ambos tiveram problemas com a justiça brasileira: o primeiro, por ser estrangeiro, foi praticamente expulso do país; e o segundo, foi processado pelo crime de lesa pátria, além de ter sido proibido de manter residência fixa no Estado do Amazonas. A resistência a essa abordagem seria óbvia, pois os heróis acreanos acabariam enquadrados em algum tipo criminal. Talvez algum dia os juristas sejam mais perspicazes que os historiadores e fomentem o debate sobre essa dimensão criminal da Revolução. Seria bom se fosse feito um julgamento póstumo daqueles acreanos à luz do Código Penal da época, pois as palavras revolução e patriotismo foram empregadas para inocentar os primeiros acreanos de suas práticas penalmente imputáveis.

DEVEMOS TER ORGULHO DA REVOLUÇÃO ACREANA?

“Do ponto de vista militar não, pois ela foi um conflito armado ocasionador de inúmeras mortes. Não há justificativas para que o ato de tirar intencionalmente a vida de outrem seja aprovado e admirado. A utilização da arma de fogo com o fim de resolver conflitos sociais deverá ser denunciada, sem qualquer manifestação de apreço, independente de motivos. É nela em que os instintos mais animalescos e os mais mesquinhos apetites humanos são expostos à consagração da história. A bravura deve estar nos gestos de tolerância e não nos de eliminação do outro; no de amor e não no ódio; na vida e não na morte; no altruísmo e não na xenofobia; na paz e não na guerra; na diplomacia e não na violência. Numa guerra não há vencedores, pois nela todos se tornam estúpidos. Comemorar um conflito armado é fazer apologia à violência”.

E O PATRIOTISMO DOS ACREANOS?

“O patriotismo foi outra mentira inventada na época pelos líderes da dita Revolução e de seus apoiadores. Foi uma mera estratégica retórica para mobilizar a opinião pública. O patriotismo no Brasil ainda não havia se tornado uma religião cívica capaz de garantir a lealdade do cidadão ao país em fins do século XIX. O patriotismo acreano é um anacronismo histórico. Quer saber da história real? Vou dizer: o patriotismo do governo do Estado do Amazonas chamava-se impostos pagos. O dos seringalistas chamava-se manutenção do lucro e garantia da propriedade privada. O dos profissionais liberais chamava-se obtenção de cargos públicos. E o do seringueiro, quitação das dívidas com o barracão. A revolução teve múltiplos interesses materiais”.

PLÁCIDO DE CASTRO REALMENTE FOI UM CAUDILHO CONTRA O IMPERIALISMO, COMO AFIRMA O ESCRITOR ARAÚJO LIMA?

Claro que não. Devemos fazer separação entre autores e autores, pois o que mais se tem na historiografia acreana é mentiras, mitos, equívocos e manipulações revestidas em escrita da história. Primeiro de tudo, o fenômeno sociopolítico conhecido como caudilhismo nunca se manifestou na Amazônia sul-ocidental. Em segundo lugar, Plácido de Castro nunca lutou contra o imperialismo, apesar de ter afirmado isso por mera estratégia retórica. Toda a Amazônia já estava dominada pelo imperialismo através da cadeia de aviamento da borracha. O Bolivian Syndicate era apenas um acesso vip, tudo já estava dominado, os ingleses, por exemplo, na época em que o Brasil era o único fornecedor da borracha, a Inglaterra detinha o monopólio da comercialização internacional da borracha. Por que Plácido de Castro não denunciou isso? O sistema de aviamento era uma engrenagem imperialista anglo-yanque, no entanto, após a Revolução, Plácido de Castro se inseriu e se adaptou muito bem nela como seringalista. Na verdade, para o capital internacional, a nacionalidade do Acre não era tão importante assim. Sendo ele boliviano, peruano ou brasileiro, as Casas Exportadoras continuariam agindo como “bomba de sucção” da matéria-prima por meio do sistema de aviamento.

AFINAL, NAQUELA ÉPOCA PLÁCIDO DE CASTRO JÁ ERA TRATADO COMO UM HERÓI?

Não. A idolatria a Plácido de Castro foi uma tradição construída e mantida postumamente. O diplomata Barão do Rio Branco encarnava melhor o caráter nacional dos republicanos. Em contrapartida, a figura de Plácido de Castro fortalecia o regionalismo dos “coronéis” do Acre. Enquanto esteve vivo, nenhum prefeito endossou práticas comemorativas à “Revolução” ou aos “heróis da Revolução”. A heroificação de Plácido de Castro foi uma invenção dos autonomistas, assim como a de Chico Mendes foi dos ambientalistas capitaneados pelo Partido dos Trabalhadores (PT/AC).

ENTÃO VOCÊ É CONTRA A HEROIFICAÇÃO DE PLÁCIDO DE CASTRO?

Sim. Contra a heroificação dele e de qualquer um outro. Como já diria o escritor alemão Bertolt Brecht “infeliz a nação que precisa de heróis”. Faço uma pergunta? Será realmente salutar ao povo acreano nutrir a admiração por um latifundiário, assassino e político autoritário? Precisamos observar o sujeito a partir de uma visão multifocal, pois o Plácido de Castro que foi líder militar da chamada Revolução Acreana, também foi um agrimensor que ganhava dinheiro demarcando terras para seringalista; que participou de uma das mais sangrentas guerras civis do Brasil no Rio Grande do Sul, a chamada Revolta da Degola. Na minha opinião, Plácido de Castro não passou de um assassino contratado para liderar militarmente uma causa latifundiária.

ENTÃO PLÁCIDO DE CASTRO ERA UM MERCENÁRIO?

Não posso afirmar isso, no entanto, posso dizer que minha opinião tem base em algumas evidências. É fato sabido que o governo do Amazonas contratou veteranos da guerra de Cuba para atuar na proclamação do Estado Independente do Acre por Luiz Galvez. Plácido de Castro foi acusado pelos próprios membros da Junta Revolucionária de ter enriquecido com a Revolução. Outro indício de mercenarismo é a considerável quantidade de estrangeiros nas tropas acreanas. Teriam eles lutado por amor ao Brasil? Em uma carta de 18 de junho de 1902, Rodrigo de Carvalho diz: “baldeamos a carga da Maria Thereza, a bordo dela vem o Dr. Gentil com armamento e um capitão com vinte e tantos soldados, comissionados pelo governador para fazer a revolução” (apud OURIQUE, 1907, p. 223, grifo nosso). É possível, portanto, que o episódio inaugural da Revolução Acreana fora protagonizado por mercenários, já que o próprio Plácido de Castro afirmara que iniciou o combate contra os bolivianos, em 6 de agosto de 1902, com apenas 33 homens. Além do mais, Plácido de Castro era um novato no meio da Junta Revolucionária. Ele ingressou nela à convite (ou contratado) para uma missão, qual seja, assumir a liderança militar da ofensiva contra os bolivianos. Em 19 de janeiro de 1903, quase às vésperas da rendição incondicional do exército boliviano, Rodrigo de Carvalho envia uma carta ao governador do Amazonas alertando-o que havia uma “grande quantidade de pretendentes a governador do Acre”. Isso é um forte indício de que Plácido de Castro realmente não era o líder político da “Revolução” e sim um militar a serviço da causa acreana. Se dado estava que o “novato” fosse o “mentor” da “Revolução”, como explicar a disputa que se deu entre os “veteranos” pela governança do futuro Poder Executivo acreano?

MAS FOI PLÁCIDO DE CASTRO QUEM ASSUMIU O GOVERNO DO ESTADO INDEPENDENTE DO ACRE. COMO VOCÊ EXPLICA ISSO?

“Sim, é verdade. Isso só aconteceu por causa da bem-sucedida articulação que Rodrigo de Carvalho fez entre os seringalistas locais e o governador do Amazonas. Isso fora feito como uma tentativa de impedir Gentil Norberto, seu rival, de assumir o governo. Há cartas em que Rodrigo de Carvalho tenta convencer o governador de que Plácido de Castro não resistiria a incorporação do território do Acre ao Estado do Amazonas. Naquela conjuntura, nada era feito sem o consentimento do executivo amazonense. Somente depois da bênção do governador Silvério Néri foi que Plácido de Castro assumira governador do Acre. Essas cartas poderão ser lidas em Ourique (1907), e são mais indícios de que Plácido de Castro não era o líder político da causa acreana, mas que o sucesso militar e a conveniência política o fizeram governador do Acre”.

PARA FINALIZAR, COMO VOCÊ ANALISA AS COMEMORAÇÕES CÍVICAS NO ACRE ATUALMENTE?

“O Governo da Frente Popular do Acre construiu uma engenharia política de legitimação do poder na qual o discurso histórico teve importância privilegiada. O grande diferencial com relação aos outros governos no que tange às comemorações das datas foi que a Frente Popular inaugurou uma nova tradição de interpretação ou uma nova tradição de sentidos: a da Revolução Acreana inacabada. Dessa forma conseguiu-se criar uma história epopeica de uma ponta à outra. De Galvez aos Irmãos Vianas. O povo foi ensinado a perceber no presente as novas revoluções, os novos heróis, e os novos atos de bravura. Nunca se fez tanto abuso da história do Acre como no primeiro mandato do então governador Jorge Viana. Utilizava-se politicamente o passado para legitimar o presente. Dizia-se herdeiro da saga acreana e realizador dos sonhos dos líderes da Revolução, do Movimento Autonomista e do movimento sindical. O objetivo foi fazer com que o povo olhasse o mandatário do Poder Executivo como um novo herói e a implantação do Desenvolvimento Sustentável como uma revolução. A exaltação do passado foi uma desculpa para a afirmação do presente. O apelo aos sentimentos comunitários, ao ufanismo, ao culto ao passado, às festas cívicas, ao acrianismo e à história epopeica foram ações politicamente planejadas e fizeram parte de um projeto maior de manutenção de poder. O atual governador perdeu em popularidade porque não levou essa política simbólica tão a sério como os seus antecessores”.

EDUARDO DE ARAÚJO CARNEIRO – É licenciado em História (UFAC) e bacharel em Economia (UFAC). É mestre em Linguagem e Identidade (UFAC) e doutor em História Social (USP). Atualmente é aluno do Doutorado em Estudos Linguísticos (UNESP). É Professor da UFAC, escritor, editor de livros e poeta nas horas vagas.

LIVROS DO AUTOR:

1) Amazônia, limites & fronteiras: uma história revisada da nacionalização do Acre;
2) A Formação da Sociedade Econômica do Acre: “sangue” e “lodo” no surto da borracha (1876-1914); e
3) A Epopeia do Acre e a manipulação da história.
4) A Fundação do Acre(ano): História e Linguística.

PUBLICIDADE
logo-contil-1.png

Anuncie (Publicidade)

© 2023 ContilNet Notícias – Todos os direitos reservados. Desenvolvido e hospedado por TupaHost