Polícia dispara balas de borracha e bombas em reintegração de fazenda no Capatará

A reintegração de posse contra ocupantes do Seringal Capatará começou mal na manhã desta terça-feira (9), com provocações de trabalhadores dos supostos proprietários da fazenda e revolta por parte dos ocupantes. A Polícia Militar (PMAC) interveio no conflito, disparou balas de borracha e bombas de gás contra os ocupantes.

A retirada dos moradores foi determinada pela juíza de Capixaba. O processo se arrastava desde 2005, tendo a decisão sido tomada pelo fato do defensor dos ocupantes ter perdido um prazo no processo, fazendo a coisa julgada.

DSC_0095

Moradores do Capatará encontram-se em situação precária após a reintegração /Foto: Régis Paiva/ContilNet

Contudo, mesmo com a ordem judicial, ninguém sabe onde começa a área do fazendeiro Osvaldo Ribeiro e onde fica a área dos posseiros legalmente instalados ou até mesmo uma suposta área devoluta e pertencente à União. Entretanto, com a perda de prazo judicial, ainda não foi encontrada uma saída legal para o drama das 261 famílias que não vão ter para onde ir.

O Capatará era o seringal de Plácido de Castro e vem sendo reivindicado pela família Ribeiro, mas contestado pelos ocupantes, que afirmam que parte da área pertence à União.

As pessoas não estão recebendo qualquer tipo apoio em termos de residência. Os apetrechos dos colonos estão sendo depositado em um galpão em Rio Branco, onde vai ficar por 60 dias e as pessoas deverão retirar por sua conta após este prazo. Os animais estão sendo levados para o Parque de Exposições temporariamente e também deverão ser retirados pelos posseiros por sua própria conta. No entanto, a área em litígio pertence ao município de Capixaba e fica próxima da cidade de Senador Guiomard.

WhatsApp Image 2016-08-11 at 00.53.28 (1)

Artefato, que de acordo com moradores foi usado pelos policiais contra os ocupantes /Foto: Arquivo pessoal

Servidores da fazenda desrespeitam ocupantes

Conforme relatou o líder comunitário e ocupante do local, José Apolônio da Conceição, o “Zeca”, o conflito começou por conta da forma desrespeitosa com que os funcionários da fazenda chegaram na comunidade, ameaçando as pessoas e promovendo algazarra. No momento da confusão, o oficial de Justiça não estava presente, chegando somente depois do conflito.

Zeca revelou que os servidores da fazenda estavam com som alto, tiravam a camisa e dançavam na frente das casas, provocando e diziam que iam derrubar as casas e passar o trator.

A maneira abusiva teve como resposta uma ação violenta por parte dos ocupantes, dando início a uma briga generalizada. Neste momento, com o crescimento do conflito, a PM que acompanhava os funcionários da fazenda começou a disparar balas de borracha e bombas de efeito moral e gás, dispersando o conflito.

Trechos da entrevista com “Zeca” sobre ação da polícia:

Vídeo do momento em que os policiais se deslocam pelo ramal durante reintegração de posse:

Conforme revelou Zeca, um oficial superior da PM e finalmente um oficial de Justiça chegaram ao local, o qual determinou que não fosse derrubada nenhuma casa, mas somente fosse feita a retirada de material de alguma casa demolida pelo próprio morador. No entanto, nem mesmo esta determinação está sendo seguida, pois já houve casas quebradas por trator.

Defensoria perde os prazos

Além disso, a ação já se arrasta na Justiça desde o ano de 2007, sendo o caso inicialmente acompanhado por advogados particulares. Mas um dos advogados recomendou buscarem a Defensoria Pública, pois essa teria mais estrutura para acompanhar o caso.

Entretanto, a Defensoria perdeu um prazo judicial e culpou aos ocupantes pelo erro. “Nós somos trabalhadores rurais e não entendemos disso”, afirmou Zeca.

asd1

“Zeca” é reconhecido como um dos líderes da comunidade /Foto: Reprodução

Zeca destacou que Governo sempre disse não poder fazer nada, nem antes, quando o processo ainda tramitava, ou depois de decidido na Justiça.

“Os deputados estaduais também não fizeram nada, mesmo com uma comissão de conflitos agrários. Procuramos falar com os oito deputados federais, mas estes estavam ocupados com o impeachment da presidente”, afirmou.

Sobre o Incra, o ocupante revelou ter servido apenas para enganar: “Temos seis acordos com o fazendeiro desde 2010, tudo assinado no Incra, mas nunca executaram nada”, relatou.

DSC_0092

Moradores procuram uma saída para o problema junto às autoridades /Foto: Régis Paiva/ContilNet

Moradores ficam sem ter para onde ir

O morador Antônio Fernandes, residente no local desde março de 2008, é apenas um dos 261 chefes de família que terão de se mudar forçadamente do local onde construiu a casa de moradia. As benfeitorias existentes no ramal foram todas feitas pelos moradores, desde a estrada e até as pontes, inclusive as duas escolas, uma das quais recém inaugurada.

“Eu tenho plantação de mamão, caju, cajarana, graviola, cupuaçu, e 50 sacas de milho, além de feijão para comer o verão todo. Eu trabalho aqui”, revelou Antônio. A casa que o morador estava derrubando para aproveitar a madeira é a segunda por ele construída.

Vídeo de Antônio Fernandes falando da situação triste em que se encontram os moradores do Capatará

PUBLICIDADE
logo-contil-1.png

Anuncie (Publicidade)

© 2023 ContilNet Notícias – Todos os direitos reservados. Desenvolvido e hospedado por TupaHost

Polícia dispara balas de borracha e bombas em reintegração de fazenda no Capatará