Santa Juliana é destaque no Ideb, mas pode fechar as portas este ano e deixar 747 alunos sem aula

Enquanto permanece o impasse entre Governo do Acre e Diocese para saber de quem é a responsabilidade da reforma do Instituto Santa Juliana, em Sena Madureira, o local está há quase três anos fechado e praticamente entregue ao abandono.

A escola completa 94 anos de fundação em 7 de setembro de 2016, além de ser patrimônio histórico importante, já formou grandes nomes acreanos e muitas gerações, mesmo assim, hoje se encontra destruída e interditada pelo Corpo de Bombeiros.

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Instituto Santa Juliana, que completa 94 anos em setembro deste ano pode fechar as portas/Foto: Wania Pinheiro/ContilNet

Apesar dos problemas estruturais, na última avaliação do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) a escola alcançou média 4.6, além de conquistar o 3º lugar no Prêmio Gestão Escolar 2015, consagrando-se como melhor instituição de ensino de Sena Madureira.

O Ministério Público do Acre (MPAC) instaurou um inquérito de procedimento, tendo em vista a denúncia sobre a deterioração da estrutura do instituto. Após a visita dos bombeiros, o local foi desativado para funcionamento. Os principais problemas encontrados na estrutura estão nas partes elétrica e hidráulica, além da cobertura do prédio.

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O prédio histórico da escola está abandonado a mais de três anos/Foto: Wania Pinheiro/ContilNet

“Já realizamos uma reunião com a equipe da Secretaria de Educação para verificar o que pode ser feito na estrutura física do local para que eles adotem as providências administrativas. Além disso, solicitamos uma fiscalização do Corpo de Bombeiros e uma equipe do NAT (Núcleo de Apoio Técnico) do MP para fazer um parecer técnico da estrutura. Nós estamos apurando de quem é a função de recuperar o prédio, uma vez que se trata de um patrimônio histórico tombado pelo Estado, mas de propriedade da Diocese”, disse a promotora responsável pelo caso.

Segundo o Frei Zezinho, que responde pela Igreja Católica em Sena Madureira, o Bispo Dom Joaquim e o advogado da Diocese já tiveram uma conversa com o governador Tião Viana a respeito da situação do Instituto Santa Juliana, e que providências serão tomadas. A reportagem da ContilNet tentou entrar em contato por várias vezes com o Bispo Dom Joaquim, responsável pela Diocese, mas não obteve respostas.

Para o vereador Cleyton Brandão (PT), a melhor forma de resolver essa situação é promover um diálogo com o Ministério Público, Diocese e Governo do Estado. Segundo ele, o Estado está disposto a tentar entrar em um consenso para a possibilidade de melhoramento da estrutura do Instituto Santa Juliana e impedir a interdição permanente do local.

“Em reunião com o secretário de educação, nós expomos a ele que a situação do Instituto nos preocupa muito pelo simbolismo e a importância que ele tem para o município, principalmente para a comunidade católica. A partir do momento que o estado tem um contrato de prestação de serviço com a Diocese, mas que no contrato diz que a responsabilidade de reformas e manutenções são de responsabilidade da Diocese” completou o vereador.

Segundo informações do assessor de comunicação do Diocese, Padre Jairo, atualmente, cerca de 747 alunos estudam no anexo da escola. Ainda de acordo com ele, a responsabilidade do prédio onde funciona o Instituto Santa Juliana é do governo, tendo em vista que o local foi tombado como patrimônio histórico pelo Estado.

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Diretora da escola, Arthuriette Gonçalves de Oliveira com administradores do instituto /Foto: Wania Pinheiro/ContilNet

De acordo com a diretora do Instituto Santa Juliana, Arthuriette Gonçalves de Oliveira, o anexo também corre o risco de ser fechado ainda este ano por falta de condições adequadas de estrutura e que os pais serão comunicados pela direção.

O que torna a situação ainda mais grave é que ainda não se sabe para onde serão encaminhados os mais de 700 alunos, que poderão ficar sem estudar no próximo ano letivo em Sena Madureira.

De acordo com uma nota enviada pela Secretaria Estadual de Educação (SEE), apesar de existir um procedimento de locação ser por parte do governo, o Instituto Santa Juliana é um espaço da Diocese.

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Os 747 alunos do Instituto Santa Juliana não têm ainda destino certo/Foto: Wania Pinheiro/ContilNet

Nota da Secretaria Estadual de Educação

O Estado não pode fazer reformas no prédio. Primeiro porque ele é da Diocese e, segundo, por se tratar de um patrimônio, tombado, e por essa razão não pode sofrer mudanças estruturais.
O anexo está funcionando. A parte interditada foi isolada para que os alunos não tenham acesso e nem corram riscos.

Está em vigor um diálogo entre o governo do Estado, por meio da Secretaria de Estado de Educação e Esporte (SEE), a escola e o Ministério Público. A Escola ainda não conseguiu agendar uma reunião com o Bispo para tratar do assunto e ver a possibilidade de uma solução.

Atualmente, no anexo estudam cerca de 750 alunos do ensino fundamental.

O Corpo de Bombeiros (CBM) realizou vistoria a pedido do Ministério Público. Entretanto, nem a escola e nem o núcleo da SEE em Sena Madureira foram informados sobre os resultados.

Antes mesmo da visita do CBM, somente o anexo do Instituto Santa Juliana estava funcionando, pois a área de risco foi isolada em 2014.

Esta reportagem tentou por várias vezes ouvir o Bispo Dom Joaquim, mas ele não se encontra no Estado e a Diocese não soube falar sobre o assunto, por achar que tal situação deve ser esclarecida somente pelo Bispo. O site ContilNet deixa este espaço à disposição para qualquer posicionamento por parte da instituição religiosa.

HISTÓRICO DO INSTITUTO SANTA JULIANA

O Instituto Santa Juliana é uma escola de Ensino Fundamental e Médio mantida pelo Poder Público Estadual. A instituição foi inaugurada em 7 de setembro de 1922 pelos Servos de Maria. Funcionava inicialmente em uma casa de madeira do Dr. Virgulino de Alencar, Juiz de Direito.

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Santa Juliana foi fundado em 1922, em Sena: Foto: Blog Alma Acreana

Inicialmente, a escola funcionava com os antigos ensinos Primário e Ginásio, tendo como professores as próprias Irmãs e outros professores de renome. Recebia alunos de quase todo o Estado, que estudavam sob o regime de internato.

Em 27 de outubro de 1936 o Instituto Santa Juliana foi fechado e as Irmãs Servas de Maria Reparadoras retornaram à Itália. Após cinco anos, em 1º de julho de 1941, o estabelecimento de ensino foi reaberto em regime de internato e externato para meninas, novamente sob a direção das Irmãs Serva de Maria Reparadoras.

Em 1969, a escola oferecia os cursos de Jardim de Infância, Primário e Normal Regional. Administrado pelas Irmãs até dezembro de 1977, teve como última diretora a Irmã Maria Marinella Brizzi.

Em janeiro de 1978, a Diocese fez um acordo com a Secretaria de Educação e Cultura do Estado do Acre, no qual as partes concordaram que o governo assumiria toda a responsabilidade pelo funcionamento da instituição de ensino.

Em 1980 a escola foi fechada novamente por falta de condições físicas e todos os estudantes transferidos para a escola Eliziário Távora. Foi então que em 1985, graças aos esforços dos Padres Paolino Maria Baldassarri e Heitor Maria Turrini, que sempre mantiveram o ideal de reabertura da escola, conseguiram a reforma do Instituto junto à comunidade.

Após funcionar como escola de Ensino Médio e Fundamental, atualmente, o Instituto Santa Juliana, de propriedade da Diocese de Rio Branco, tem seu registro reconhecido e ratificado pelo Governo do Estado sob o Decreto nº 8.721, de 1º de outubro de 2003, como escola de Ensino Fundamental. A direção do Instituto é exercida pela professora Arthuriette Gonçalves de Oliveira, reeleita pela comunidade escolar em 2016.

O histórico do Instituto Santa Juliana foi elaborado pela direção e professores da instituição, que completará 94 anos no dia 7 de setembro deste ano.

As fotos da jornalista Wania Pinheiro mostra como se encontra hoje o Instituto Santa Juliana.

 

 

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