Espaços compartilhados por muitas crianças e a falta de hábitos de higiene são fatores essenciais para a disseminação de viroses. A doença conhecida como mão-pé-boca é uma doença contagiosa, causada principalmente pelo vírus Coxsackie da família dos enterovírus. Essa família de vírus habita normalmente o sistema digestivo, mas pode provocar estomatites (espécie de aftas que afetam a mucosa da boca).
Apesar de também ocorrer em adultos, o problema é mais comum em crianças de até 5 anos. Como os pequenos costumam colocar as mãos e os brinquedos na boca e nem sempre têm o hábito de lavar as mãos depois de ir ao banheiro, o vírus se dissemina mais facilmente. A transmissão ocorre através do contato direto com saliva, fezes ou outras secreções, ou indiretamente por alimentos ou objetos contaminados. Mesmo depois de recuperada, a criança pode transmitir o vírus pelas fezes durante aproximadamente quatro semanas.
A maioria dos casos ocorre durante o verão, mas é possível que alguns casos aconteçam também nos meses frios, pois o vírus Coxsackie tem grande capacidade de mutação e é capaz de se adaptar a diferentes circunstâncias. Como o material genético do vírus está sempre mudando, é possível que uma criança que já tenha tido a doença tenha novamente, se entrar em contato com o vírus modificado. Essa capacidade adaptativa também dificulta a produção de uma vacina.
O médico Igor Costa, otorrinolaringologista da Clínica Denise Lellis (SP), esclarece algumas dúvidas sobre a doença e ensina como evitá-la:
Quais são os sintomas?
A princípio os sintomas são semelhantes aos de uma gripe, com coriza, dor de garganta, falta de apetite, mal-estar e febre. A febre costuma aumentar nos dias que antecedem o surgimento das lesões. Então, manchas vermelhas com vesículas branco-acinzentadas surgem na boca, nas amídalas e na faringe. Elas podem evoluir para ulcerações muito dolorosas, semelhantes a aftas. Na sequência, vem a erupção de pequenas bolhas em geral nas palmas das mãos e nas plantas dos pés, mas que podem ocorrer também nas nádegas e na região genital.
Quais são os riscos?
A doença é limitada. Entre o segundo e o sexto dia após a infecção ocorre o período de incubação em que os sintomas são parecidos com uma gripe. A partir daí a febre aumenta e surgem as ulcerações, primeiro na boca e depois nas mãos e pés. Por volta do 13º dia os sintomas diminuem. Do surgimento dos primeiros sinais até a cicatrização das lesões na pele são, no máximo, 17 dias. Em casos raros, pode evoluir para meningite viral, mais branda do que a bacteriana.
Qual é o tratamento?
Geralmente, o tratamento é direcionado para o alívio dos sintomas sem a necessidade de medicamentos antivirais. Analgésicos e antitérmicos via oral e pomada anestésica no local das ulcerações amenizam a dor e a febre. Para reduzir a propagação viral, não se deve romper bolhas. Como as aftas dificultam a ingestão de alimentos e bebidas, é preciso oferecer alimentos de fácil deglutição, como papinhas e sopas. O ideal é evitar alimentos ácidos, muito temperados e quentes. As bebidas também devem ser frias para avaliar o desconforto e podem ser ingeridas com a ajuda de um canudo para diminuir o contato com as feridas.
Como prevenir?
Os enterovírus, como os causadores da doença mão-pé-boca, são chamados assim porque dependem de um ciclo fecal-oral no trato digestivo humano. Portanto, para evitar sua transmissão é importante manter a higiene: lave as mãos depois de ir ao banheiro e antes de comer ou de preparar as refeições. A atenção na hora de higienizar frutas, legumas e verduras deve ser redobrada. Os cuidadores de crianças devem sempre manter as mãos e as roupas limpas. Estabelecimento onde se concentram muitas crianças, como creches e escolas, devem garantir a limpeza diária dos brinquedos de uso coletivo.