A imagem do prefeito Marcus Alexandre rodeado dos filhos e da esposa Gicélia Viana, quando o marketing compara o cuidado que o pai tem com seu filho ao trabalho que Marcus fez por Rio Branco nos primeiros quatro anos de mandato, parecia ser uma estratégia perfeita, um golpe de mestre.
Parecia. Até o Ministério Público Estadual (MPAC), por meio do Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado (Gaeco), amanhecer acordando vigias da Empresa Municipal de Urbanização (Emurb) com apoio da Polícia Civil e Auditores do Tribunal de Contas (TCE), cumprindo oito mandados judiciais de apreensão e inspeções em postos de combustíveis da capital, além de uma busca minuciosa na casa do ex-secretário Jackson Marinheiro.
Graduado em Administração pela Faculdade da Amazônia Ocidental – FAAO, ex-coordenador Regional do Departamento Estadual de Estradas de Rodagem, Hidrovias e Infraestrutura do Acre (Deracre) na Regional Tarauacá/Envira, Jackson Marinheiro é o ponto fraco com o qual Marcus Alexandre não contava. Da vida silenciosa de sua fazenda na BR-364, na chegada do município de Feijó (AC), ele saiu para ser o centro do primeiro e maior escândalo da gestão do prefeito petista na Capital, liderando um suposto esquema da compra e venda de combustível, no qual o pagamento era liberado sem o consumo destinado nas notas fiscais.
Da casa de Marinheiro, no luxuoso residencial Green Garden, localizado no Bairro São Francisco, a “Operação Midas” resgatou computadores e notas de empenho que vão ajudar nas investigações em curso. Três postos de combustíveis foram alvos da operação. Já da sede da Emurb, foram levados pelos agentes do Ministério Público computadores e farto material que também será periciado.
Em nota, o Ministério Público afirmou que não pode dar maiores detalhes, já que a investigação segue em sigilo absoluto. Não foi divulgado ainda o tamanho do desvio, mas suspeita-se que parte do dinheiro ajudou na aquisição de fazendas por Jackson Marinheiro, em suposto enriquecimento ilícito.
Mas afinal, Marcus Alexandre sabia do esquema?
Nomeado no início da gestão de Marcus Alexandre na prefeitura de Rio Branco, em janeiro de 2012, Marinheiro é uma indicação da cota do deputado federal César Messias (PSB/AC), quando este ainda era vice-governador do Acre.
Como ficou evidente ao longo de quase quatro anos do primeiro mandato de Marcus, a escolha de César para a autarquia significou um enorme prejuízo para o município de Rio Branco. As piores expectativas concretizaram-se.
Estranhamente, quando o grupo do MPAC que trabalha para desmontar quadrilhas e combater o crime organizado aprofundou as investigações por provas mais evidentes de corrupção, a exoneração de Jackson Marinheiro já havia acontecido, sem nenhuma publicidade.
Em nota, Marcus Alexandre afirma que é a favor do aprofundamento das investigações independentemente das eleições, mas não afirmou até agora, qual procedimento administrativo foi tomado a partir das denúncias. Nas mãos de quem ficou a grandiosa Emurb, conhecida como o cérebro da prefeitura, onde supostamente passa o ‘filé’ dos recursos financeiros?
Várias imagens mostram o administrador Jackson Marinheiro ao lado do prefeito Marcus Alexandre, seja em reuniões em seu gabinete ou vistoria de obras. Por ser sigiloso, não se tem conhecimento sobre o conteúdo do depoimento do ex-secretário às autoridades da Polícia Civil. Marinheiro ficou preso por apenas 24 horas e foi liberado pela justiça após audiência de custódia.
Se Marcus Alexandre sabia ou não do esquema, e se Marinheiro agiu sozinho ou com ajuda de comparsas, são revelações que provavelmente o cidadão só descobrirá após os resultados das eleições de 2016.
Escândalos colocam em xeque tranquilidade da campanha de Marcus Alexandre
Uma coisa é certa, o escândalo revelado na última semana coloca em xeque a tranquilidade da campanha de Marcus Alexandre, que parecia surfar nos números do Ibope como um candidato imbatível. A questão é que nesse jogo essa não é a única denúncia enfrentada pela liderança petista em Rio Branco.
Segundo a revista Veja, o petista Marcus Alexandre concorre às eleições deste ano com uma extensa lista de inquéritos aos quais responde. A demora da Justiça em julgar as investigações do Ministério Público não o livra de ser réu. O petista, que após as eleições de 2012 adotou o sobrenome Viana, é dono de quatro inquéritos por peculato, formação de quadrilha, crimes contra a lei de licitações e emprego irregular de verbas públicas cometidos supostamente quando foi diretor-geral do Deracre, entre os anos de 2007 a 2012.
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Marcus Alexandre até hoje não explicou porque adotou o sobrenome Viana, coincidentemente em 2012, sofreu investigação judicial eleitoral por abuso do poder econômico, processo que poderia levar à perda do poder político. O governador do Acre, Tião Viana, também foi alvo da ação do Ministério Público, o parquet entendeu como abusiva a entrega em local público de 558 títulos definitivos às famílias do Bairro Jorge Lavocat, na parte alta da cidade de Rio Branco. No entanto, a Justiça Eleitoral mandou arquivar o caso.
Alexandre foi escolhido pelo governador Tião Viana e o irmão, senador e vice-presidente do Senado em execício, Jorge Viana, para concorrer às eleições de 2012, e agora figura como potencial sucessor do clã que nunca mais saiu do palácio Rio Branco. Isto se até 2018, a justiça absolvê-lo de todas as denúncias e se o “amigo” continuar chegando junto dos coronéis petistas. O marketing desenvolvido para sua reeleição em 2016 assegura que, junto da população da capital, Alexandre é presente, “encara o desafio, não foge do assunto”.
Da TV para a vida real a coisa não é bem assim. Embora arrote nos quatro cantos do município que sua gestão é uma das melhores em transparência no Brasil, essa prática não é adotada pessoalmente.
Todos os processos em que Marcus Alexandre foi indiciado correm em segredo de justiça. O mais cabeludo deles – que certamente vem tirando o sono do petista – tramita na Justiça Estadual. Alexandre é réu por improbidade administrativa. O caso envolve o ex-prefeito do município de Tarauacá, Vando Torquato, empreiteiras, vereadores e até advogados.
De acordo com a denúncia feita pelo Ministério Público em Tarauacá, Marcus Alexandre, quando diretor-presidente do Deracre, autorizou o pagamento dos contratos do Governo com a Construmil, momento em que a prefeitura pedia a suspensão das obras em função da empresa sonegar ISSQN (Imposto sobre Serviços de Qualquer Natureza), principal tributo do município. À época do caso, em 2008, a Construmil devia de ISS em torno de R$ 10 milhões. Em valores corrigidos, a prefeitura de Tarauacá deixou de receber mais de R$ 25 milhões em tributos.
Até o dia 19 de dezembro de 2013, o petista estava com todos os seus bens bloqueados pela Justiça. Por meio de um agravo de instrumento concedido no apagar das luzes de 2013, ele obteve decisão favorável da desembargadora Regina Ferrari Longuini, da 2º Câmara Cível, para o desbloqueio de seus bens.
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Talvez por este motivo, quando o assunto é BR-364, Alexandre faz ouvido de mercador e ao contrário do que prega seu jingle, foge do assunto, tem permanecido sempre surdo às súplicas de quem enfrenta no dia a dia, as precárias condições da rodovia construída sobre sua direção. Para quem se elegeu com a ideia do “novo”, as práticas são semelhantes a de velhas raposas políticas.
O trecho feito pela Construmil sobre a direção de Marcus Alexandre entre Tarauacá e o Rio Liberdade é um dos que o DNIT informou que precisa ser totalmente reconstruído, considerado o pior em trafegabilidade. A empresa de Goiânia foi embora do Acre com um presente dado pelo ex-prefeito do município de Tarauacá, Vando Torquato, e os vereadores à época: o perdão das dívidas. O caso foi investigado pelo Ministério Público Estadual, a denúncia faz parte do mesmo processo que indiciou Marcus Alexandre.
Na tentativa de livrar sua imagem de escândalos, Marcus Alexandre adota a cor laranja no marketing 2016
Mas não é apenas o fantasma dos processos que tramitam na Justiça Federal e Estadual do Acre que incomodam Marcus Alexandre nesta campanha. Na tentativa de livrar a sua imagem do momento delicado que seu partido, o PT, enfrenta no Brasil, principalmente após as prisões feitas pela Operação Lava Jato, o processo de impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff e o indiciamento de Lula, o prefeito e candidato à reeleição deixou de usar a cor vermelha que faz ligação com o partido e adotou o tom laranja para pedir votos dos eleitores.
Ao contrário do diretório municipal do PT de São Paulo, na eleição de Hadad, Marcus Alexandre em Rio Branco não foi obrigado a usar outro símbolo tradicional do partido que sumiu de suas propagandas: a estrela vermelha.
Exatamente, a estrela vermelha, que era orgulho do PT, decorou até a roupa de banho da ex-primeira dama, dona Marisa, esposa de Lula.
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Em 2012, Lula junto com Dilma Rousseff gravaram peças publicitárias publicadas de forma repetida pedindo votos para o engenheiro Marcus Alexandre, que na época era apresentado como o responsável pelas obras de integração do Estado: a BR-364.
Vergonha? Tentativa de não perder eleitores? – Ninguém da executiva municipal do Partido dos Trabalhadores se arriscou a comentar a mudança de estratégia de marketing da sigla no Acre, especialmente na Capital, onde o PT mantém chances de continuar no poder.
Marcus Alexandre continua aparecendo na telinha como o “amigo” conquistado no passar dos anos, em tese, um homem acima da marca petista. Tudo com a tolerância dos principais caciques: Tião e Jorge Viana.
O outro lado:
Com relação aos processos que Marcus Alexandre enfrenta na Justiça, a assessoria de imprensa tem respondido que, no caso de improbidade administrativa de Tarauacá, Alexandre ordenou pagamento porque a empresa, Construmil, apresentou todas as certidões negativas.