Não é preciso gostar da música de Marilyn Manson para admitir: o sujeito é dono de um tino comercial invejável. Alguém que consegue criar uma persona e mantê-la relevante por quase 30 anos merece consideração. E a prova poderá ser tirada nesta quarta-feira (7) de feriado no palco principal do Maximus Festival, no Autódromo de Interlagos de São Paulo (ele é uma das atrações principais, ao lado de Rammstein, Disturbed, Bullet For My Valentine e Halestorm).
Brian Hugh Warner, hoje com 47 anos, criou Marilyn Manson em 1989. E, mais do que um nome, ele é também uma marca. Juntou dois ícones norte-americanos: um, da beleza e sensualidade, Marilyn Monroe; e o outro, da violência e insanidade, Charles Manson. É uma marca genial, ao mesmo tempo feminina e masculina, sexy e sangrenta, atraente e repulsiva.
Marilyn Manson explodiu no meio dos anos 1990, uma época de bonança da indústria da música, antes do Napster e da falência das gravadoras, um tempo em que a MTV reinava e videoclipes ainda importavam. Em 1994, Kurt Cobain se matou, enterrando o grunge, mas deixando para as gravadoras uma lição: a de que valia a pena investir na angústia adolescente. Era um mercado imenso e ainda pouco explorado, e ele tratou de ocupar esse vácuo.
Se meninas boazinhas tinham Backstreet Boys e Hanson, as más teriam Marilyn Manson: sexualmente ambíguo, libidinoso, anticristão, cheio de frases polêmicas e mensagens libertárias. Seja você mesmo, não tenha vergonha de ser um freak, assuma seu lado estranho, era a mensagem. Tudo pose, claro, mas sob medida para atrair um público jovem, de classe média e majoritariamente branco, a turma do fundão na escola, meninos e meninas que não se viam representados pelo pop adolescente da época.
O som de Manson
Musicalmente, Marilyn Manson misturava metal, rock de arena, eletrônico industrial e synthpop (seu primeiro grande sucesso foi uma versão pesada de “Sweet Dreams”, do Eurythmics). Era um som agressivo, mas não a ponto de ser banido das rádios. Os clipes eram excelentes e apelavam ao imaginário adolescente, com imagens fortes que caíram no gosto de milhões de “Beavis e Buttheads” por aí. E que jovem não exibiria com orgulho um CD chamado “Antichrist Superstar”, nem que fosse só para chocar os pais?
Mas Brian Hugh Warner sabia que não podia contar apenas com fãs adolescentes, tão sujeitos a mudanças repentinas de gostos e modas. Desde o início da carreira, ele se aproximou de artistas mais sérios, que poderiam lhe conferir uma certa credibilidade. Era amigo de bandas industriais como Ministry e My Life With the Thrill Kill Kult, parceiro de trabalho de Trent Rezor, do Nine Inch Nails, que produziu seus primeiros discos, e colaborador de cineastas como David Lynch (Manson atuou em “Estrada Perdida”, de 1997).
Em entrevistas, Manson sempre demonstrou bom gosto ao escolher influências. Entre seus cineastas prediletos estão o espanhol Luis Buñuel, o sueco Ingmar Bergman, o inglês Alfred Hitchcock e o chileno Alejandro Jodorowsky. Alguns de seus músicos preferidos são David Bowie, Iggy Pop, Johnny Cash e Jimi Hendrix.
É impossível não admirar um sujeito que sempre fez questão de falar de Jodorowsky, um ocultista e escritor, criador de filmes bizarros e surreais como “The Holy Mountain” e “El Topo”, e que foi padrinho espiritual do casamento de Manson com a dançarina de burlesco Dita Von Teese, em 2006. Dá para imaginar um moleque de 16 anos, trancado em seu quarto em algum fim de mundo, vendo “El Topo” por indicação de Manson e tendo sua cabeça permanentemente abalada pela experiência.
Mais do que a música, o que importa em Marilyn Manson é justamente esse papel de antagonista, de um popstar bizarro e diferente, que não foge de polêmicas e tem opiniões fortes sobre temas como religião, sexo, arte e violência. Muitos moleques atraídos pela estranheza de Manson certamente conheceram músicas, livros e filmes indicados por ele.
Brian/Marilyn Manson é esperto e sabe que não pode ficar se repetindo para sempre, sob risco de tornar-se irrelevante. Prova disso é o sucesso crítico de “The Pale Emperor”, seu último disco, lançado em 2015, em que ele abriu mão dos sons eletrônicos por uma sonoridade mais orgânica e blueseira. O álbum liderou a parada de hard rock da revista “Billboard” e ficou no Top 10 em pelo menos 15 países.
O Anticristo Superstar mostrou que soube envelhecer.