Um estudo recente apresentado à Faculdade de Enfermagem (FEnf) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) revelou que o parto realizado com pouca iluminação tende a ser mais tranquilo para a gestante. “Verificamos que o nascimento é facilitado na penumbra. As mulheres verbalizavam menos dor. Já no grupo de mulheres que pariram com todas as luzes acesas, houve uma demora maior para fazer a sequência do nascimento. Provavelmente, um dos motivos é que elas se sentiam mais observadas e acabavam ficando mais tensas”, diz a enfermeira obstetra Michelle Gonçalves da Silva, autora do estudo.
Sob a orientação da professora doutora Antonieta Keiko Kakuda Shimo, Michelle observou 95 partos normais. Metade deles foi realizada em um ambiente normal e a outra metade na penumbra. Para identificar as emoções das parturientes, a enfermeira recorreu a um sistema de codificação facial, capaz de classificar emoções como medo, raiva, nojo, alegria, tristeza e surpresa.
Segundo a pesquisa, independentemente do ambiente, verificou-se que, na hora do parto, as mulheres apresentam uma sequência de emoções, que normalmente começa com medo, passa pela raiva, no momento da expulsão, e termina com a alegria. Contudo, nos partos em ambientes iluminados, as mulheres tendem a oscilar mais entre as emoções e apresentam maior dificuldade de desativar o neocórtex, parte do cérebro que responde a estímulos sensoriais.
“No parto em penumbra, as mulheres desativam o neocórtex e ativam o córtex primal mais facilmente. O neocórtex é ativado pela intensidade da luz. Ele libera adrenalina e deixa a mulher mais desperta. O córtex primal, por outro lado, é responsável por trazer emoções primitivas, mais animais, e liberar a ocitocina, que facilita o trabalho de parto, fazendo com que flua mais naturalmente”, explica Michelle.
Muitas mulheres que optaram pelo parto normal acreditam que o ambiente menos iluminado ajuda a relaxar. Porém, este não é o único recurso: água quente, caminhadas leves e até o hypnobirthing (técnica, e também filosofia, que tem como princípio condicionar a mulher a relaxar na hora do parto) também costumam ser citados.
“Essa dor é diferente de todas as dores que a gente sente na vida. É a dor que acompanha o nascimento do seu filho, que te traz a coisa mais linda da sua vida. Tinha momentos em que eu acreditava que não aguentaria mais, mas aí eu me focava, lembrava das afirmações e visualizações que vi no curso de hypnobirthing, que fiz durante a gestação, e a ‘vibe’ do relaxamento voltava”, conta Jenya Cheigina, 30 anos, mãe de Alyssa, 1 ano e 4 meses.
“Acho que o grande problema da dor é você ficar tensa quando ela vai vir. Essas técnicas de auto-hipnose ajudam a não tensionar tanto, a ficar mais tranquila, pois, se não, a dor piora. Ficar em um ambiente com uma luz muito forte, onde não há muito acolhimento, também faz com que a dor piore. Eu recorri à técnica do hypnobirthing , assim, já na gravidez, eu mentalizava o que queria para o meu parto. Dizia a mim mesma que eu era capaz de parir, que confiava no meu corpo e focava nos sentimentos positivos. A água também me ajudou muito. Fiquei bastante tempo embaixo do chuveiro e fiz alguns exercícios de respiração”, relata Patrícia Christiani Campbell, 36, mãe de Jade, 5 anos, e Tom, 8 meses.
De modo geral, a dor da contração começa no centro e se espalha por toda barriga. Ela não deve estar relacionada com a movimentação do bebê e nem ser confundida com a chamada contração de treinamento. “Na contração a dor começa do nada, tem começo, meio e fim. Ou seja, vem e vai embora, mas volta dali três, cinco minutos”, explica o ginecologista e obstetra Fulvio Basso Filho, do Hospital e Maternidade São Luiz Itaim (SP).
Para ele, a informação é um dos principais recursos que as mulheres têm para passar pelo parto da forma mais tranquila possível. “Quanto mais ela souber do procedimento, mais controlada emocionalmente ela vai ficar e isso fará com que ela aproveite melhor o momento, independentemente do tipo de parto”, diz.
Opinião parecida tem o obstetra Alberto Jorge Guimarães, do Centro de Estudos e Pesquisas Doutor João Amorim (Cejam). “É preciso desmontar a ideia de que dor é igual a sofrimento. É preciso trabalhar as informações no pré-natal, ter um plano de parto, um acompanhante” ressalta.
Assim como as mães, Guimarães também acredita que o ambiente é muito importante, podendo ser mais acolhedor, inclusive, no centro cirúrgico. “Estar em um ambiente com temperatura adequada, mais aquecido, ter privacidade, recorrer à massagens, imersão na água, mudar de posição, desde que com o acompanhamento adequado… Tudo isso ajuda a mulher a se sentir mais confiante e confortável. No centro cirúrgico, o ideal é que o ar-condicionado não esteja ligado e a equipe não converse sobre assuntos paralelos. A equipe de assistência precisa focar no nascimento“, completa.