Por que poucas mulheres editam a Wikipedia?

Em 2008, um estudo descobriu que menos de 13% dos colaboradores da Wikipedia em todo o mundo eram mulheres. Uma pesquisa de seguimento em 2011 encontrou resultados semelhantes: globalmente, as mulheres eram 9% dos colaboradores; nos EUA, 15%. Os índices de leitores não pareciam mostrar uma diferença de gêneros significativa.

Essas descobertas provocaram um debate sobre o que desencoraja as mulheres de contribuir –mas não houve grande mudança desde então. No ano passado, o criador da Fundação Wikimedia, Jimmy Wales, disse que apesar de várias iniciativas a organização não conseguiu cumprir sua meta de aumentar a participação das mulheres para 25% até 2015.

Essa é uma questão empresarial para a Wikipedia, assim como social para a era da informação. Com mais de 18 bilhões de acessos mensais, a Wikipedia é o sétimo site mais visitado da web. Mas o número de editores no site em inglês está diminuindo. O futuro da Wikipedia poderá depender de sua capacidade de recrutar editores.

Julia Bear, da Faculdade de Economia da Universidade Stony Brook, e Benjamin Collier, da Universidade Carnegie Mellon no Catar, exploraram a questão pela perspectiva das mulheres que estão nos bastidores da Wikipedia. Eles analisaram um subconjunto dos dados da pesquisa original de 2008 para ver se a experiência de editar artigos difere entre os gêneros e se isso influencia o quanto eles editam. Encontraram claras diferenças.

As mulheres relataram que sentiam menos confiança em sua capacidade, ficando menos à vontade para editar o trabalho de outros (processo que muitas vezes envolve conflito) e reagindo de maneira mais negativa ao feedback que os homens.

Já que contribuir com a Wikipedia muitas vezes significa apagar ou modificar o trabalho de outros editores, há muitos conflitos. Guerras de edição, discussões acaloradas entre usuários e assédio e perturbação podem se juntar para criar um ambiente hostil.

“Até certo ponto, é preciso haver um nível básico de confiança para começar a editar, e homens e mulheres podem ter critérios diferentes sobre a perícia necessária para fazer isso”, disse Bear. “É um dos motivos pelos quais recomendamos que a Wikipedia seja mais proativa para encontrar e incentivar colaboradores.”

Bear e Collier também sugerem implementar um sistema para avaliar a perícia dos colaboradores, dar feedback positivo e oferecer treinamento para aumentar a participação das mulheres.

“A brecha de gêneros é importante por vários motivos”, disse Bear. “De uma mera perspectiva do conteúdo, homens e mulheres podem ter diferentes interesses e preferências e podem enfocar diferentes temas. Se temos essa pequena porcentagem de mulheres colaboradoras, muitos temas poderão ser evitados ou receber menos atenção do que deveriam.”

Quando Joseph Reagle, professor-assistente na Universidade Northwestern e autor de “Good Faith Collaboration: The Culture of Wikipedia” [Colaboração de boa fé: a cultura da Wikipedia], comparou as biografias da Wikipedia em inglês com a Encyclopaedia Britannica online com a ajuda de um colega, eles descobriram que a Wikipedia supera a Britannica em cobertura biográfica –especialmente no que se refere a homens. A Britannica é mais equilibrada em quem deixa de cobrir. E outros encontraram vieses na representação de cientistas e romancistas mulheres na Wikipedia.

“A Wikipedia é uma representação do conhecimento”, disse Reagle. “Se você entra lá e não vê qualquer representação de modelos femininos, mostra um viés implícito na maneira como as coisas são organizadas e priorizadas. Isso pode ter uma consequência significativa nas pessoas.”

Ao longo dos anos, a Fundação Wikimedia trabalhou para diminuir a brecha de gêneros entre colaboradores e tornar o processo de edição menos agressivo. Ela criou uma “força-tarefa de brecha de gêneros” e formas de os editores expressarem gratidão e dar feedback positivo no site, organizou maratonas de edição e lançou iniciativas como a Teahouse, que treinou novos editores, e a campanha Inspire, que premiou 16 projetos para melhorar a diversidade de gêneros e representação nos sites da Wikimedia.

A fundação também trabalhou para reduzir o assédio. Um projeto está explorando o uso de ferramentas automatizadas para ajudar os administradores a detectar e mediar conflitos precocemente, e estão em preparação programas de mentores e treinamento para líderes voluntários.

“Aprendemos que melhorar a diversidade de gêneros é uma questão complexa, que exige uma abordagem multifacetada”, escreveu Dennis em um e-mail. “Não há um método que sirva para todos. Visamos compreender melhor as políticas, a cultura, as diretrizes e outros fatores que contribuem para um ambiente seguro e receptivo online.”
Há diversas outras maneiras de tornar a Wikipedia um lugar melhor para os colaboradores (e para os leitores) –desde diminuir a brecha de gêneros em técnicas de internet a incluir vozes mais diversificadas do mundo inteiro. É claro que modificar uma cultura enraizada não é fácil, mas prestar atenção no que afasta as pessoas é um bom ponto de partida.

*Nicole Torres é editora-adjunta da “Harvard Business Review”.

Tradutor: Luiz Roberto Mendes Gonçalves

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